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ÍNDICE

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.

Os 24 segundos

do voo 402

.

O caos em solo

.

Gráficos, mapas e imagens relacionados ao acidente

.

As Vítimas

 

Fotos da tragédia

 

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Personagens da tragédia

.

O Fokker 100 e os dados

do avião e do voo

A caixa-preta

.

O Relatório Final

(síntese)

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.

Meu depoimento

sobre o acidente

.

Notícias da época do acidente comentadas

.A questão das

indenizações

.Vídeos sobre

o Acidente

.

Opinião e Análise

.

Outras matérias

importantes

Fontes de Pesquisa

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Matérias sobre o acidente (comentadas)


 

São Paulo, sexta, 12 de dezembro de 1997

VOO 402

Quatro recomendações dizem respeito ao treinamento da tripulação, embora Aeronáutica não tenha apontado erro na atuação

Laudo isenta TAM, mas exige mudanças

RODRIGO VERGARA
enviado especial a Brasília

O relatório final sobre a queda do Fokker-100 da TAM em São Paulo, em 31 de outubro do ano passado, que matou 99 pessoas, foi apresentado ontem em Brasília. A Aeronáutica concluiu que não houve falha da empresa no acidente.

O laudo traz oito recomendações à TAM. Na linguagem aeronáutica, recomendações significam providências que a empresa deve tomar para corrigir irregularidades detectadas nas investigações.

''Não existem falhas da empresa que tenham contribuído, diretamente ou indiretamente para o acidente'', disse o coronel Douglas Ferreira Machado, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.

Ao todo, o relatório traz 48 recomendações, endereçadas a diversas partes envolvidas na investigação, como órgãos da própria Aeronáutica, fabricantes de peças e à própria Fokker (leia abaixo).

Treinamento

Metade (quatro) das recomendações feitas à TAM exige melhoria no treinamento da tripulação. Em dois casos, a exigência é que a empresa enfatize aspectos do treinamento já exigidos.

O laudo diz, por exemplo, que a TAM ''deverá, nos treinamentos, (...) enfatizar a importância da não-tomada de ação abaixo dos 400 pés''. O texto se refere à legislação aérea brasileira, que prevê que, quando houver uma anormalidade na aeronave na decolagem, a tripulação não deve tomar nenhuma ação antes que o avião chegue a 400 pés (cerca de cem metros).

No acidente, os tripulantes tomaram atitudes antes de o Fokker chegar a essa altura, o que contribuiu para desestabilizar o avião.

O chefe do Cenipa, no entanto, não vê falha da tripulação. ''Houve tomada de ação, mas não foi identificada como iniciativa errada do piloto'', disse Machado.

A Aeronáutica pede ainda reforço no treinamento de CRM (cockpit resource management, ou gerenciamento de recursos de cabine), cujo objetivo é preparar piloto e co-piloto para dividir funções em situações de pane.

No acidente, alguns procedimentos básicos de decolagem que ajudam a aeronave a ganhar altura, como recolhimento de trem de pouso, não foram tomados.

Registro de panes

Outras duas recomendações dizem respeito ao registro de panes no livro de bordo que cada avião deve ter. Uma cópia desse registro deve ficar em terra a cada pouso.

Sobre isso, a Aeronáutica exige da TAM que seja alterado o livro de bordo para ''melhorar os registros das panes, de modo que cada folha seja destacada a cada trânsito (pouso e decolagem), ficando uma cópia na base que executou o retorno da aeronave ao vôo''.

A exigência se deve ao fato de que a Aeronáutica não encontrou, no aeroporto de Congonhas, o registro de panes do Fokker-100 acidentado, que indicaria eventuais problemas preexistentes.

 

 

São Paulo, sexta, 12 de dezembro de 1997

Se isoladas, causas não teriam provocado acidente

do enviado especial

Foram oito os fatores que contribuíram para a queda do Fokker-100 da TAM em São Paulo. Nenhum deles, no entanto, se ocorresse isoladamente, causaria a tragédia, segundo o chefe do Cenipa, Douglas Machado. ''Não houve fator preponderante'', disse.

O relatório não aponta culpados nem distribui responsabilidades.

Citando um tratado internacional assinado pelo Brasil, a Aeronáutica afirma que suas investigações têm o objetivo de apontar as falhas para evitar que elas se repitam.
O documento confirma a tese de que o que desestabilizou o avião foi a abertura do reverso da turbina direita durante a decolagem. O reverso é um tipo de marcha à ré da turbina, usado como freio auxiliar em pousos.

O reverso abriu e fechou três vezes durante a decolagem, desestabilizando a aeronave. No relatório divulgado ontem, a Aeronáutica detectou diversas falhas que provocaram a abertura do equipamento e outras em dispositivos que poderiam ter contornado o problema.

Relé

A pane teve início muito antes da decolagem que culminou com a queda do avião. A trava do reverso, que deveria evitar sua abertura, estava desativada (falha 1) desde o pouso anterior.

A situação não pôde ser vistoriada pela equipe que faz manutenção nas aeronaves da TAM a cada pouso e decolagem, porque a posição da trava não permite vistorias pelo lado de fora do avião (falha 2).

Sem a trava, bastou que um relé - tipo de interruptor elétrico - entrasse em curto circuito (falha 3) para que o reverso fosse ativado.

Um defeito no projeto do avião (falha 4) agravou a situação, porque impediu que o avião informasse ao piloto, no painel, das panes que estavam ocorrendo.

Além disso, segundo o relatório, o defeito de projeto permitiu que duas panes simples causassem uma situação de emergência grave. A pane causou uma situação de surpresa na tripulação (falha 5).

Sem entender o que fazia o motor direito perder potência e o avião a perder altura, os tripulantes agiram sobre o manete de aceleração dos motores, embora essa não fosse uma pane prevista (falha 6).

Some-se a isso o fato de que o avião, nesse momento, não havia chegado a 400 pés (100 metros), altura mínima, pela legislação aérea brasileira, para que a tripulação tome alguma atitude diante de uma pane (falha 7).

Nessa situação, um cabo deveria impedir que o motor fosse acelerado com o reverso aberto. O cabo, no entanto, desencaixou-se, permitindo que a situação se agravasse (falha 8).

 

 

São Paulo, sexta, 12 de dezembro de 1997

Parentes se surpreendem

da Reportagem Local e do enviado especial

Parentes de vítimas do acidente com o vôo 402 afirmam ter estranhado o fato de a TAM não aparecer como uma das responsáveis pelo desastre.


''Há muita coisa a esclarecer'', diz Fernando Melo, pai de uma das 99 vítimas. ''Não posso compreender como piloto e co-piloto não se entendem, esquecem de completar a decolagem para resolver um problema, e a Aeronáutica conclui que isso não contribuiu para o acidente.''

O advogado Renato Guimarães disse que desconfia dos resultados da comissão de investigação porque era composta por muitos representantes de empresas envolvidas, como TAM, Fokker e Rolls-Royce.

A presidente da Associação Brasileira dos Amigos e Parentes de Vítimas de Acidentes Aéreos, Sandra Assali, disse ontem que o relatório não trouxe novidades. ''Isso tudo foi previsto.''

 

 

São Paulo, sexta, 12 de dezembro de 1997

VÔO 402

Oito falhas causaram queda

do enviado especial

Foram oito os fatores que contribuíram para a queda do Fokker-100 da TAM. Nenhum deles, no entanto, se ocorresse isoladamente, causaria a tragédia, segundo o chefe do Cenipa, Douglas Machado. ''Não houve fator preponderante.''

O relatório não aponta culpados nem distribui responsabilidades. Citando um tratado internacional assinado pelo Brasil, a Aeronáutica afirma que suas investigações têm o objetivo de apontar as falhas para evitar que elas se repitam.

O documento confirma a tese de que o que desestabilizou o avião foi a abertura do reverso da turbina direita durante a decolagem. O reverso é um tipo de marcha à ré da turbina, usado como freio em pousos.

O reverso abriu e fechou três vezes durante a decolagem, desestabilizando a aeronave. No relatório divulgado ontem, a Aeronáutica detectou diversas falhas.

A pane teve início muito antes da decolagem que culminou com a queda do avião. A trava do reverso, que deveria evitar sua abertura, estava desativada (falha 1) desde o pouso anterior. A trava é fabricada pela empresa norte-americana Northrop Grumman.

A situação não pôde ser vistoriada pela equipe que faz a manutenção da TAM porque a posição da trava, desenvolvida pela Fokker e pela Grumman, não permite vistorias pelo lado de fora do avião (falha 2).

Sem a trava, bastou que um relé - tipo de interruptor elétrico - entrasse em curto-circuito (falha 3) para que o reverso fosse ativado. O relé é fabricado pela empresa francesa LRE France.

Um defeito no projeto do Fokker-100 (falha 4) agravou a situação, porque impediu que o avião informasse ao piloto, no painel, das panes que estavam ocorrendo. Além disso, segundo o relatório, o defeito de projeto permitiu que duas panes simples causassem uma situação de emergência.

A pane causou uma situação de surpresa na tripulação (falha 5).

Sem entender o que fazia o motor direito perder potência e o avião a perder altura, os tripulantes agiram sobre o manete de aceleração dos motores, embora essa não fosse uma pane prevista (falha 6).

O avião não havia chegado a 400 pés (100 m), altura mínima pela legislação brasileira para que a tripulação tome alguma atitude diante de uma pane (falha 7).

Nessa situação, um cabo deveria impedir que o motor fosse acelerado. O cabo, no entanto, desencaixou-se, permitindo que a situação se agravasse (falha 8).

 

 

São Paulo, sexta, 12 de dezembro de 1997

VÔO 402

Parente espera inquérito policial

do enviado especial

A presidente da Associação Brasileira dos Amigos e Parentes de Vítimas de Acidentes Aéreos, Sandra Assali, disse ontem que o relatório não trouxe novidades. ''Isso tudo foi previsto.''

Para Sandra, que perdeu o marido no acidente, o relatório da Aeronáutica não indica a inocência da TAM. ''Acho prematuro dizer, só com o relatório da Aeronáutica, que a TAM não tem culpa.'' Segundo ela, ainda faltam o resultado das investigações do delegado Romeu Tuma Júnior, que preside o inquérito policial sobre o acidente, e a decisão da Justiça.

Convicção

Sandra afirma que o relatório não muda em nada a convicção dos parentes de algumas vítimas, inclusive a dela, que foram à Justiça dos Estados Unidos para acionar o fabricante de uma peça do avião que apresentou defeito.

A Justiça norte-americana deve decidir em fevereiro do próximo ano se aceita a ação. Se aceitar, a sentença deve sair em um ano.

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Romeu Tuma Jr. vai se reunir com promotores para discutir rumos da investigação; inquérito está parado há dez meses

'Ainda há muito a apurar', diz delegado

ROGERIO SCHLEGEL
da Reportagem Local

O delegado Romeu Tuma Júnior, que preside a investigação da Polícia Civil de São Paulo sobre o acidente com o Fokker da TAM, disse ontem que o inquérito vai voltar a andar e que ''ainda há muito o que apurar'' no caso.

O inquérito está parado há dez meses, porque a Aeronáutica não forneceu informações sobre o acidente solicitadas pelos promotores e pelo delegado Romeu Tuma Júnior, que chefia a investigação.

O delegado e os promotores Mário Luiz Sarrubo e João Honório Franco, que acompanham o caso, vão se reunir neste final de semana para discutir os caminhos que a investigação deve tomar.

Tuma diz que ''é prematuro'' aceitar a conclusão da Aeronáutica como prova de que não há quem culpar criminalmente pelo acidente.

''O relatório final, quando eu o receber, será apenas mais uma peça do inquérito. Nossa investigação pode inclusive contradizê-lo, se tivermos informação técnica para isso.''

Por enquanto, o delegado só recebeu uma síntese do relatório, com pouco mais de dez páginas, enviada na madrugada de ontem para a Delegacia Seccional Sul.

O promotor Sarrubo, que teve acesso à síntese do relatório, disse que as conclusões da Aeronáutica ''não trazem novidade'' diante do que já era sabido.

O delegado e os promotores continuam esperando os dados pedidos à Aeronáutica, como a transcrição da conversa dentro da cabine - contida na caixa-preta - e o depoimento do piloto que fez o último vôo com o avião antes do acidente.

''O que a Aeronáutica mandou está a milhares de quilômetros do que pedimos e do que é indispensável para a investigação'', disse Sarrubo.

O promotor acredita que será necessário ouvir os integrantes da comissão - cujos nomes ainda desconhece, apesar de tê-los pedido inclusive pela via judicial. O objetivo do inquérito é apurar se alguém gerou ou poderia ter evitado o acidente, mas não o fez por negligência, por exemplo.


A Folha apurou que interessa especialmente aos investigadores de São Paulo o depoimento do tripulante que fez o penúltimo vôo com o Fokker PT-MRK, da TAM.

O piloto Armando Luís Barbosa trouxe o avião de Caxias (RS) a São Paulo. Na investigação da Aeronáutica, ele disse que alertou o piloto que se acidentou de que havia falha no ATS, um sistema de aceleração automática da aeronave.

Há a possibilidade de que essa informação tenha levado o piloto José Antônio Moreno a reagir a um defeito inexistente, ignorando a falha no reverso, decisiva para o acidente.

Quando depôs no inquérito, Barbosa não repetiu a informação.

 

 

São Paulo, sexta, 12 de dezembro de 1997

''Meu Deus'' foi a última frase

do enviado especial

O ponto alto da apresentação do laudo final sobre a queda do Fokker-100, ontem em Brasília, foi a exibição de uma animação computadorizada com imagem do avião da decolagem até a queda.

A sequência foi apresentada com o som real da cabine, gravado na caixa-preta do avião.

A animação mostra todos os aspectos do avião: a corrida pela pista, a queda de potência do motor direito, a troca de informações entre piloto e co-piloto, as tentativas de retomada de potência, o momento de desestabilização total e a última frase.

''Ai, meu Deus. Meu Deus'', diz a voz, provavelmente do comandante José Roberto Moreno.

Durante a corrida pela pista, Moreno pode ser ouvido pedindo ao co-piloto que desligue o sistema automático de aceleração.

Falha da tripulação

Depois de 406 dias do acidente, os oficiais da Aeronáutica procuraram esmiuçar dúvidas técnicas, mas evitaram discutir o mérito de algumas interpretações.

Se por um lado houve disposição para explicar todo o caminho da falha no sistema elétrico da aeronave, inclusive com diagramas dos circuitos, os oficiais responsáveis pela investigação foram breves, por exemplo, ao comentar por que não foram apontadas falhas da tripulação, uma vez que piloto e co-piloto teriam desrespeitado a legislação aérea brasileira, ao tentar resolver problema de decolagem a menos de 400 pés de altura. 

 

 

São Paulo, sexta, 12 de dezembro de 1997

Famílias suspeitam de conclusões de laudo

da Reportagem Local

Parentes de vítimas do acidente com o vôo 402 afirmam ter estranhado o fato de a TAM não aparecer como uma das responsáveis pelo desastre.

"Ainda há muita coisa, até de caráter técnico, a esclarecer", afirma Fernando Melo, pai de uma das 99 vítimas, que mora em Belo Horizonte.

"Não posso compreender como o piloto e o co-piloto não se entendem, esquecem de completar a decolagem para tentar resolver um problema do avião, e a Aeronáutica conclui que isso não contribuiu para o acidente", disse ontem. "Parece claro que faltou coordenação na cabine."

Ele também questiona o fato de o trem de pouso não ter sido recolhido, apesar de o Fokker-100 ter voado por 25 segundos.

"Recolher o trem logo após a decolagem é um procedimento básico, que não foi seguido e poderia ter aumentado a velocidade do avião e o ajudado a ganhar altitude. Como é que se pode ignorar essa falha?", pergunta.

Para a viúva Heloísa Gouvea, vice-presidente da associação de amigos e parentes de vítimas, a conclusão da Aeronáutica surpreendeu.

"Esperava que as responsabilidades fossem pulverizadas, mas não pulverizadas só entre companhias estrangeiras, com a TAM saindo sem qualquer responsabilidade", afirmou ontem.

O advogado Renato Guimarães afirmou que desconfia dos resultados da comissão de investigação porque era composta por muitos representantes de empresas envolvidas, como TAM, Fokker e Rolls-Royce.

"Todas eram interessadíssimas nas conclusões da investigação e tinham assento na comissão. As famílias eram igualmente interessadas e não tiveram acesso aos trabalhos. Assim, as conclusões são suspeitas", disse.

A viúva Margarete Linden diz que "era previsível" que a TAM acabasse não sendo responsabilizada pelo acidente.

"Ela tinha muita gente na comissão. Dava para imaginar o que iria acontecer", afirmou ontem. Margarete, que esperava o laudo para iniciar ação de indenização, mantém sua intenção de entrar com o processo no Brasil, com base no código do consumidor.

 

 

São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 1997

O que ocorreu com o vôo 402

8:00 hs

. Defeito

Os problemas começam no pouso no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Os dados da caixa-preta indicam que o reverso - mecanismo que inverte o sentido do jato da turbina para a frente, dando efeito de marcha à ré  do motor direito permaneceu ''em trânsito'', ou seja, não ficou travado.

. Reação da tripulação

Nem os tripulantes que trouxeram o avião a São Paulo nem os que decolaram de Congonhas tomaram atitudes, porque a aeronave não deu alerta do defeito. Os técnicos de manutenção também não detectaram o problema, porque a manutenção feita em escala de vôo não previa checagem das travas.

. Interpretação da comissão

A trava elétrica do reverso falhou, por causas indeterminadas, que podem até incluir efeitos da trepidação da aeronave. O projeto também contribuiu para a falha, porque a posição da trava dificulta a manutenção.

8:26 hs

. Defeito

Com 89 passageiros e seis tripulantes a bordo, o avião começa a correr pela pista para a decolagem. Ainda no chão, dispara um alarme da cabine indicando falha no sistema que acelera automaticamente o avião (ATS).

. Reação da tripulação

Os tripulantes ignoram o alarme, que volta a tocar depois. Eles tinham sido informados pelo piloto que voara anteriormente que o sistema estava com defeito.

. Interpretação da comissão

A falha de ATS causou nos pilotos uma ilusão de que havia uma falha ali, o que contribuiu para o acidente.

Início do vôo

. Defeito

No exato instante em que o avião sai do chão, o reverso da turbina direita se abre e inverte a propulsão daquele motor para trás, como uma marcha à ré. Na cabine, o painel não dá nenhum sinal de alarme, mas o manete de aceleração do motor recua violentamente, puxado por um sistema de cabos de segurança ligado ao reverso. O sistema serve para evitar que o reverso fique aberto com o motor acelerado.

. Reação da tripulação

O co-piloto diz ''Travou!'', surpreso. Imaginando estar diante de uma falha de aceleração automática (ATS), diz ao co-piloto para desligar o ATS. O co-piloto confirma ter desligado o sistema.

. Interpretação da comissão

a - A Fokker introduziu uma modificação no sistema elétrico de abertura do reverso que o tornou menos seguro. A mudança objetivava economizar alguns segundos na duração da bateria no caso de uma pane elétrica em vôo. Antes, a chance de esse tipo de falha ocorrer era de uma em 100 bilhões. Depois, passou a ser uma em 1 milhão.

b - O projeto do avião contribuiu para o ocorrido porque não permite que o piloto saiba, durante a decolagem, que o reverso está aberto.

c - A surpresa demonstrada pelos tripulantes desviou sua atenção e contribuiu para o acidente.
 

10 segundos seguintes

. Defeito

O defeito é cíclico. O reverso se fecha, mas volta a abrir outras duas vezes em 10 segundos. Quando fechado, permite que o manete possa ser levado à frente. no momento em que o reverso se abre, o manete volta a ser recuado e permanece travado. O avião estava a 129 pés.

. Reação da tripulação

Os tripulantes aceleram a turbina direita sempre que o equipamento permite. Na segunda vez em que o manete direito recua, a mão do tripulante traz junto o manete do motor esquerdo. Por quatro segundos, os dois motores ficam com aceleração mínima. Quando o manete está travado, a força exercida pelo piloto ou pelo co-piloto sobre ele chega a ser de 50 kg.

. Interpretação da comissão

A ação dos tripulantes sobre o manete contribuiu para o acidente por duas razões:

a - A legislação brasileira não recomenda qualquer ação de tripulação frente a qualquer anormalidade, na cabine de vôo, quando a aeronave estiver a menos de 400 pés de altura.

b - Os tripulantes decidiram acelerar o motor direito quando o manete destravou, sem que o avião tenha fornecido a eles meios para que avaliassem o resultado dessa atitude.

15 segundos de vôo

. Defeito

O sistema de cabos de segurança que evita a abertura do reverso com o motor acelerado cede. O manete de aceleração da turbina direita é liberado, embora o reverso permaneça aberto. O defeito desestabiliza por completo a aeronave.

. Reação da tripulação

A tripulação mantém a carga sobre o manete e o leva à frente (acelerando o motor) no momento em que ele fica livre.

. Interpretação da comissão

Houve falha no desenho do sistema. O cabo corre em um tubo, em que existe uma lacuna, deixada para manutenção. Foi nesse ponto em que a conexão do cabo cedeu à carga e desencaixou-se.
 

24 segundos de vôo

. Defeito

O avião, impulsionado para a frente pelo motor esquerdo, e para trás pela turbina direita, tomba para a direita e cai sobre casas, matando todos a bordo e quatro* pessoas em terra. (*) Três pessoas em terra.

Comentário

 

O Relatório demorou 406 dias para ser concluído. Houve vários adiamentos no prazo. A Comissão teve 11 membros integrantes, 11 deles pertencentes a empresas envolvidas. Não havia representante das vítimas.

 

 

COMO FUNCIONA O REVERSO

.

Arte: Folha de São Paulo

 

 

São Paulo, terça, 16 de dezembro de 1997

Aeronautas vêem falhas em relatório

da Sucursal do Rio

O SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas) está questionando o relatório da comissão que investigou o acidente no vôo 402 da TAM no que diz respeito aos procedimentos de segurança da empresa.

Para o SNA, a investigação não foi suficientemente aprofundada para verificar se a TAM adota uma política adequada de treinamento e reciclagem das tripulações e de manutenção das aeronaves.

O relatório final apontou falhas do equipamento e do piloto.

As falhas de equipamento foram na trava elétrica do reverso - mecanismo usado na frenagem - do motor direito e no projeto da Fokker, fabricante do avião.

o piloto José Antônio Moreno errou ao tentar corrigir uma suposta falha no sistema de aceleração automática, quando deveria esperar que o avião subisse a 400 pés para buscar uma solução.

Segundo o presidente do SNA, Luiz Fernando Collares, o relatório não analisou por que o piloto cometeu essa falha, limitando-se a relatar a mecânica dos fatos.
Para ele, a investigação não foi mais aprofundada nesse ponto porque existe uma ''relação incestuosa'' entre o DAC, um dos órgãos responsáveis pela investigação, e as empresas aéreas.

A assessoria de comunicação do DAC informou que a direção do departamento não se pronunciará mais sobre o acidente.

Para o SNA, as investigações de acidentes aéreos no Brasil são prejudicadas pelo fato de os órgãos envolvidos - o Cenipa e a Divisão de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos do DAC estarem subordinados, em última instância, ao Ministério da Aeronáutica.

''O poder de crítica de quem investiga fica inibido pela subordinação e hierarquia militar'', disse Hélio Ruben Pinto, do SNA.

Entre as supostas falhas apontadas, estaria a impossibilidade da checagem computadorizada dos equipamentos do avião devido ao pouco tempo entre o pouso do vôo anterior e a decolagem do vôo 402.

Outra falha da TAM, segundo o SNA, seria a obrigatoriedade de o piloto descer até a pista antes do vôo para receber os passageiros, quando deveria estar checando os equipamentos.

 


 

São Paulo, terça, 16 de dezembro de 1997

Veja a íntegra da nota da TAM

Leia a seguir a nota divulgada ontem pela TAM

A TAM e o relatório final das autoridades aeronáuticas.

Foi divulgado oficialmente pelas autoridades aeronáuticas o relatório oficial sobre as causas do acidente que, em 31 de outubro de 1996, interrompeu nosso vôo 402, tragédia que resultou na morte de 90 passageiros e seis tripulantes, além de três vítimas fatais atingidas no solo pela aeronave.

O documento deixou bem claro uma verdade: a TAM não teve culpa no acidente. Na quinta-feira, 11 de dezembro, a imprensa tomou conhecimento do resultado das investigações e recebeu os textos oficiais que enfatizaram os seguintes pontos:

1 - O acidente foi causado por uma falha no sistema de controle do reverso da turbina direita, que abriu e fechou, com intermitência, na decolagem. Essa falha não tinha sido constatada antes em nenhuma aeronave de qualquer das empresas aéreas que utilizam o mesmo sistema de reverso em vários países. No vôo anterior de nosso avião, os tripulantes também não haviam registrado qualquer anormalidade nesse sistema, como ficou comprovada, posteriormente, com a abertura das caixas-pretas.

2 - Luzes de emergência sobre o comportamento do auto throttle acenderam no início da decolagem. A tripulação tomou as providências que eram recomendadas para o tipo de alerta anunciado. Os pilotos não tinham como saber que o problema era com a intermitência do reverso, já que esta situação ''impossível'' não estava prevista nem nos manuais, nem no treinamento recomendado pelo fabricante, nem nas rotinas adotadas pelos operadores do avião em todo o mundo.

3 - O relatório não estabelece nenhuma relação entre o defeito do reverso e a manutenção do equipamento, nem, tampouco, com o treinamento de pilotos. O avião era novo, fabricado em 1993, e passara por completa revisão rotineira três semanas antes.

4 - No episódio, como ficou claro no relatório oficial, não havia como treinar pilotos para uma situação absolutamente imprevisível, que jamais constou das instruções dos manuais do fabricante. Por outro lado, a TAM realiza, permanentemente, treinamento do seu pessoal técnico e se orgulha do fato de que seus pilotos de jatos são treinados na ''Flight Academy'' da American Airlines, em Dallas.

5 - O documento sugere aos operadores desse tipo de equipamento, inclusive a TAM, a adoção de procedimentos destinados a tornar impossível a repetição ao acidente. A TAM ajudou as autoridades a definir esses procedimentos técnicos e já os havia incluído em suas rotinas menos de uma semana depois da tragédia.

As regras estritas que regem a operação aeronáutica em nosso país e, também, razões de natureza ética, já que as investigações estavam em curso, impediram a TAM, até agora, de avançar mais em suas informações, antes da divulgação do relatório oficial. Por esse motivo suportamos, resignados, toda espécie de notícias distorcidas, pagando um alto preço pelas incompreensões difundidas nesses meses de espera pelo fim das investigações oficiais.

Agora podemos falar. E, com segurança, devemos afirmar que se confirmaram todos os nossos posicionamentos anteriormente divulgados.

Em 1º de novembro de 1996, publicamos nos principais jornais do país um ''Comunicado ao Público'' e nosso presidente deu uma longa entrevista coletiva. Foi então enfatizada a posição da TAM de confiança na capacidade profissional de sua tripulação, no treinamento de seus pilotos, na modernidade e na segurança de suas aeronaves, na eficiência de seus mecânicos e na qualidade dos procedimentos de manutenção.

Em 30 de novembro, publicamos outra nota nos grandes jornais, visando esclarecer informações extra-oficiais divulgadas equivocadamente na imprensa.

Nunca tivemos dúvida de que o acidente se devera a uma falha material no sistema de comando dos reversos (relés) em situação não prevista nos testes, nos manuais de instrução ou nas simulações exaustivas feitas pelo fabricante e pelos operadores do equipamento em todo o mundo.

As investigações agora encerradas visavam detectar as causas do acidente e eliminar o risco de uma repetição da tragédia. As análises, as pesquisas, os testes, as simulações feitas para apurar a verdade e prevenir futuros problemas precisavam ser sérias e cuidadosas. E deveriam ser levadas aos fabricantes do avião, da turbina, do reverso e de todos os outros equipamentos que foram testados no processo. Foi o que fez o Ministério da Aeronáutica ao aprovar o relatório oficial, cujas conclusões tiveram ampla divulgação.

O acidente do vôo 402 foi uma grande perda para as famílias das vítimas. E também para a nossa empresa e à própria aviação comercial brasileira.

A TAM procurou enfrentar essa tragédia com os meios de que dispunha, mantendo uma linha de abertura e de diálogo com as famílias das vítimas, os meios de comunicação, as autoridades, os tripulantes e os funcionários, os nossos amigos e toda a opinião pública.

Nossa empresa renova agora às famílias das vítimas a sua solidariedade. E agradece a seus funcionários, seus amigos e seus clientes os gestos de amizade e apoio que nunca nos faltaram por parte daqueles que conosco suportaram o silêncio a que nos impusemos. E foram a ajuda essencial que nos permitiu realizar, com dignidade, a travessia.

São Paulo, 15 de dezembro de 1997
A Diretoria

Comentário

Não foi bem assim como está descrito na nota da TAM...

 

 

São Paulo, terça, 16 de dezembro de 1997

VÔO 402

Empresa não comenta recomendações feitas pela Aeronáutica para que reforce o treinamento de seus pilotos

Nota da TAM contradiz laudo de acidente

RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local

A TAM divulgou ontem a primeira nota oficial a respeito do relatório final sobre o vôo 402 e evitou referências às exigências feitas pela Aeronáutica a respeito do treinamento de seus pilotos. Ninguém da empresa deu entrevistas.

Um Fokker-100 da TAM caiu em São Paulo no dia 31 de outubro do ano passado, matando 99 pessoas. O laudo final sobre o acidente, divulgado semana passada, traz oito exigências à empresa aérea, quatro delas referentes a treinamento.
Duas das exigências são para que a empresa reforce procedimentos de treinamento que já eram obrigatórios à época do acidente.

"O relatório não estabelece nenhuma relação entre o defeito do reverso e a manutenção do equipamento, nem, tampouco, com o treinamento de pilotos", diz a nota da empresa.

O relatório da Aeronáutica diz que dois procedimentos adotados pelos pilotos contribuíram para o acidente, mas afirma que os tripulantes foram induzidos por defeitos da aeronave a agir dessa forma.

Segundo o relatório, uma das principais falhas que contribuíram para o acidente foi uma modificação no projeto da aeronave que aumentou a possibilidade de falha a um ponto abaixo do que permite a lei.

Sandra Assali, presidente da Abrapavaa (Associação Brasileira dos Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos) e viúva de um passageiro morto no vôo 402, disse que vê "deficiência no treinamento da TAM" e afirmou que a nota da empresa não trouxe novidades.

A nota da TAM traz ainda uma incorreção conceitual. Na introdução, a empresa escreve que o relatório mostrou que "a TAM não teve culpa no acidente".

Na verdade, como costumam repetir os investigadores da Aeronáutica, o relatório não tem por objetivo apontar ou isentar de culpa ou responsabilidade, mas sim acusar as falhas ocorridas em um acidente e exigir atitudes que evitem a repetição de tais erros.

A empresa contradiz o laudo ainda ao afirmar que "a tripulação tomou as providências que eram recomendadas para o tipo de alerta anunciado".

A respeito disso, o relatório cita em duas passagens que, "doutrinariamente, qualquer ação de uma tripulação frente a qualquer anormalidade no ambiente da cabine de comando de vôo, abaixo de 400 pés, é não recomendável".

Na ocasião do acidente, a aeronave não passou dos 130 pés de altura. Apesar disso, os pilotos atuaram sobre os controles dos motores. Segundo o coronel Douglas Ferreira Machado, chefe do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Aeronáutica, se a tripulação não atuasse, o avião decolaria.

 

 

Dez perguntas sem resposta

1 - Não houve falta de coordenação na cabine - um tripulante deveria concluir a decolagem e o outro tentar resolver o problema?

2 - A falta de coordenação não foi gerada por falha no treinamento, a cargo da TAM?

3 - As regras aeronáuticas não obrigam o piloto a só tentar corrigir falhas no avião após atingir 300 metros de altitude?

4 - O trem de pouso não deveria ter sido recolhido, para que o avião ganhasse velocidade e concluísse a decolagem?

5 - Onde foi parar a folha do livro de bordo do avião, que usualmente é destacada em Congonhas, mas que a TAM alega que queimou no acidente?

6 - A TAM foi punida pelo fato de todos os seus pilotos terem voado mais do que o permitido pela legislação nos doze meses anteriores ao acidente?

7 - Por que a comissão de investigação não ouviu testemunha que disse ter ouvido barulho estranho no avião quando saiu de Caxias (RS)?

8 - A autoridade aeronáutica holandesa falhou no controle de qualidade do Fokker-100?

9 - Por que a Aeronáutica se negou a fornecer a transcrição da conversa entre os pilotos, apesar das ordens da Justiça?

10 - Por que o STJ ainda não publicou decisão que obriga a Aeronáutica a fornecer dados sobre o acidente aos parentes das vítimas?

 

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