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ÍNDICE |
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Matérias sobre o acidente
(comentadas) |
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Tragédia
no
Voo 402
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Jato cai em SP com 96 pessoas a bordo
Avião da TAM sofre acidente após decolar
em Congonhas e cai sobre casas no Jabaquara. Não há sobreviventes. Entre
as vítimas, estão dezenas de empresários e executivos
Brasil Online 31/10/96 23h03 De São
Paulo
O número de vítimas fatais da queda de um avião Fokker
100 da TAM em São Paulo pode chegar a 105, segundo informações da
companhia. O jato prefixo PT-RNK fazia o vôo 402, do Aeroporto de
Congonhas com destino ao Rio de Janeiro. Havia 96 pessoas a bordo (90
passageiros e seis tripulantes). Entre os ocupantes, estavam dezenas de
empresários e executivos. Todos morreram (veja
relação e perfis das vítimas). Os corpos resgatados eram envoltos em plástico e espalhados
pela calçada.
A aeronave decolou às 8h26 e caiu às 8h28 sobre
diversas casas no Jabaquara, zona sul paulistana. Antes de cair, a asa do
avião bateu em um prédio de dois andares e partes da fuselagem atingiram
cerca de dez casas. O Instituto Médico Legal não divulgou até as 20h30 o
número oficial de mortos.
A TAM anunciou que além dos 90 passageiros e 6
tripulantes, outras 9 pessoas morreram em terra. O instituto também não
confirma o número de vítimas já reconhecidas. Segundo a Secretaria de
Segurança, foram registrados apenas três mortos em terra. É o segundo
maior acidente aeronáutico do Brasil. O governador Mário Covas e o
prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, decretaram luto oficial de três
dias.
Ainda não há informações sobre os motivos do acidente.
Segundo a Infraero, o piloto sentiu a necessidade de voltar ao aeroporto
e, durante o procedimento, o jato teve problemas técnicos e caiu. As
investigações devem durar 90 dias.
Comentário:
as investigações levaram mais de um ano.
O relato das testemunhas
Segundo testemunhas que assistiram à decolagem do
jato, o Fokker 100 da TAM não chegou nem a recolher o trem de pouso e já
começou a perder altitude, caindo em direção às casas.
"Vi homens desmaiando e mulheres apavoradas saindo
correndo de casa carregando os filhos. Parecia uma cena da guerra do
Iraque. Foi horrível!", afirmou o publicitário Itamar Freire Lima, 38
anos.
Ele disse ainda que poderia estar incluído entre as
vítimas do acidente, já que a aeronave atingiu diversos carros e casas.
"Estava parado no sinal a poucos metros do local do acidente",
falou.
O diretor do Sindicato dos Aeroviários do Estado de
São Paulo e mecânico de manutenção da Varig, Juscelino Ferreira dos
Santos, disse que estava próximo à pista do aeroporto na hora do acidente.
"O avião deu uma guinada para a direita antes mesmo de alcançar a altitude
padrão", contou. Segundo ele, isto poderia indicar que a aeronave
apresentou problemas mecânicos.
O sindicalista disse ainda que o procedimento usual é
que o avião alcance altitude primeiro e depois pegue a rota determinada
(para direita ou esquerda) pela torre de controle.
O resgate das vítimas
Os corpos das vítimas do acidente com o jato da TAM
foram colocados na Rua Luís Orsini de Castro. O bairro do Jabaquara,
atingido pela queda do avião, teve a energia elétrica, luz e telefone
cortados devido ao acidente.
Ormuzd
Alves/Folha Imagem
Vista aérea do local do acidente
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O coronel Leopoldo Augusto Correa Filho, do Corpo de
Bombeiros, disse que a primeira viatura chegou ao local às 8h35. "Já
ouvimos gemidos vindos dos destroços das casas e pode haver outras
vítimas", disse o oficial pela manhã. Os bombeiros levaram 26 viaturas ao
local (entre carros de combate a incêndio e ambulâncias dos para-médicos)
e oitenta homens trabalharam no resgate. Soldados do Exército e
Aeronáutica também foram acionados para inspecionar a região e recuperar a
caixa-preta da aeronave.
O atendimento aos sobreviventes
O Hospital Municipal do Jabaquara recebeu dezesseis
vítimas do acidente, sendo que pelo menos três delas apresentaram
intoxicação exógena, causada pela inalação de gases tóxicos do avião.
O caso mais grave é o do mecânico Dirceu Barbosa
Geraldo, de 39 anos, que apresenta 75% do seu corpo com queimaduras de
segundo e terceiro graus. Segundo o diretor do hospital, Tomás Antônio de
Almeida, Geraldo vai sobreviver.
Todas as dezesseis pessoas atendidas no hospital moram
no bairro do Jabaquara. Foram liberadas até a tarde da quinta nove
vítimas. Segundo o diretor, a equipe do hospital realizou no mesmo dia da
tragédia uma simulação de atendimentos a acidentes aéreos no Aeroporto de
Congonhas. "Em sete minutos já estávamos no local", disse
Almeida.
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TAM monta Central de Informações
A TAM Linhas Aéreas montou uma Central de Informações
para atender às famílias das vítimas. O serviço funciona no Golden Flat
Hotel, próximo ao aeroporto de Congonhas. No IML, só está sendo permitida
a presença de um familiar de cada uma das vítimas. O IML está gravando em
vídeo imagens dos corpos das vítimas do acidente com o avião da TAM que
podem ser reconhecidos visualmente. As imagens serão apresentadas aos
parentes das vítimas que estão no Golden Flat.
A TAM comprometeu-se a dar assistência aos familiares
e disse que entregou todos os documentos de controle e registro de vôo ao
Serviço de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos do
Ministério da Aeronáutica. O presidente da TAM, Rolim Amaro, está no
Caribe (leia mais).
As ações da TAM
caíram 22% nas bolsas (veja detalhes). |
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Comentário
O Golden Flat, citado em outras
matérias como "hotel de luxo" fica
ao lado do aeroporto de Congonhas.
Quanta sensibilidade na escolha
do local... E o que na verdade
foi montado - no primeiro andar do
Flat - foi um escritório da TAM para
reuniões com as vítimas do acidente.
Tudo muito conveniente para a TAM:
nos afastaram dos holofotes da
imprensa, fizeram pressões diárias
para aceitarmos a indenização no
valor que eles queriam, após dois
meses exigiram a saída de todos do
Flat oferecendo o pagamento de três
meses de aluguel. Imagine a
dificuldade em alugar um imóvel por
esse prazo. Não houve essa cortesia
toda como foi divulgado.
Usaram essa hospedagem e a
inexistente "assistência total às
vítimas" como ação de marketing, o
que tornou-se um "case", um modelo
de como salvar a imagem de uma
empresa num momento de crise.
Marquetagem pura! Importante: as
psicólogas do Grupo de Luto da PUC
estiveram por lá de maneira
espontânea. As vimos apenas uma vez
e por não mais de dez minutos. De
qualquer forma agradeço às
profissionais da PUC.
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6 de novembro de 1996 |
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São Paulo, 31 de outubro, dia das
bruxas
Manhã de quinta-feira, o PT-MRK termina sua
última viagem na rua Luís Orsini de Castro com 22 imóveis destruídos e
pelo menos 98 mortos, na maior tragédia da aviação paulista
Foto: Max Pinto
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Bombeiros, policiais militares e
voluntários carregam vítima: trabalho e solidariedade na remoção dos
corpos.
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Pintado de azul escuro, com a inscrição "number 1", o Fokker 100,
prefixo PT-MRK, da TAM, taxiou pela pista 17 R do Aeroporto de Congonhas,
em São Paulo. Eram 8 horas e 26 minutos da quinta-feira, 31 de outubro.
A
bordo, o plano do vôo 402 indicava que o avião deveria chegar à cabeceira
dos 1.800 metros de pista, a mais de 33 metros de altura. Acelerando em
linha reta, o piloto José Antônio Moreno, 35 anos de idade e nove mil
horas de vôo, ganharia pelo menos 165 metros de altura quando, então,
faria uma curva à esquerda. Seria o caminho certo para levar 90
passageiros e outros cinco tripulantes ao Rio de Janeiro.
Passados menos
de 30 segundos do início da decolagem, o mecânico Antônio Bueno ouviu um
barulho estranho. De dentro de um hangar da Líder Táxi-Aéreo, localizado
próximo à cabeceira 35, ele se virou. Sabia que era o barulho do reverso,
o movimento que inverte o fluxo do ar e abre a parte traseira da turbina
em forma de concha para auxiliar a frenagem na hora do pouso. "Quando eu
ouvi o barulho, olhei e vi a concha se abrindo, e outra vez e outra vez.
Corri com outros colegas para o meio da pista e vimos o avião caindo",
contou ele a ISTOÉ.
O Fokker não conseguiu ultrapassar os
programados 33 metros de altura. Segundo registraram os radares do Centro
Integrado de Defesa Aérea (Cindacta) e Controle do Tráfego Aéreo, sua
velocidade batia em 300 quilômetros por hora.
Tinha os tanques cheios de
querosene e viajava com apenas 18 lugares vazios. Despregado do chão,
balançou para a direita. "O avião não conseguiu voar", afirma uma fonte da
Aeronáutica. No jargão dos pilotos, isto significa que a aeronave teve
problema de motor, como diz Bueno, ou de comando. O comandante Moreno
tinha três mil horas de vôo em Fokker 100. O co-piloto Ricardo Luís Gomes
Martins, 27 anos, tinha quatro mil horas de vôo, 160 delas em Fokker 100.
Cerca de 30 segundos após a
decolagem, a dois quilômetros da cabeceira sul de Congonhas, o avião bateu
com a asa direita no teto de um edifício de três andares, localizado na
Vila Santa Catarina*.
(*
na
verdade, Jabaquara)
Transformado numa bola de fogo, bateu sucessivamente
em outros dois prédios e destruiu totalmente oito casas. Outras 11 foram
atingidas por pedaços da fuselagem. Espalhou labaredas, destroços, pânico
e mortes na rua Luís Orsini de Castro.
Às 8 horas e 28 minutos dava-se a
maior tragédia já registrada no Aeroporto de Congonhas, que com uma média
mensal de 350 mil passageiros é o maior terminal doméstico do País e
passarela obrigatória de políticos, empresários e artistas da televisão. O
vôo 402 não deixou sobreviventes. O PT-MRK matou pelo menos dois moradores
da Vila Santa Catarina.
Até agora, o depoimento de Bueno é a peça
mais intrigante da comissão que investiga o desastre. Como mecânico de
manutenção dos jatinhos da Líder, ele chegou ao trabalho uma hora antes do
acidente. Havia dormido bem e não tem problemas de visão. Coordenada pelo
Departamento de Aviação Civil (DAC), a comissão de investigação é formada
por representantes de sete instituições, entre elas a Rolls Royce, que
fabrica as turbinas do Fokker, e a própria TAM.
As conclusões devem sair
no máximo em 90 dias, mas não existem impedimentos para se descobrir os
reais motivos da tragédia antes do prazo limite. A torre de controle
gravou o último diálogo com o piloto. Além disso, as duas caixas-pretas do
avião foram encontradas.
Uma delas, a chamada Voice Recorder, grava as
comunicações da tripulação. A outra, a Data Recorder, registra todos os
parâmetros do avião: velocidade, altitude, inclinação e aceleração, por
exemplo. Antes mesmo que elas fossem abertas, contudo, os militares do DAC
ouviram não apenas o depoimento de Bueno como o de outros três mecânicos.
Segundo um major que acompanha os trabalhos, todos garantiram ter visto o
reverso acionado. Nesse caso, seria preciso esclarecer o que teria
acontecido com o piloto ou o equipamento para que a turbina esquerda
empurrasse o avião para a frente enquanto a direita o seguraria no
movimento restrito à aterrissagem.
"O fato de a turbina ter aberto
e fechado três vezes é um indício de interferência eletromagnética",
afirma outro oficial da Aeronáutica que também está envolvido na apuração
do acidente. A hipótese de que um agente externo tenha contribuído para o
desempenho anormal dos equipamentos é reforçada pelos antecedentes do
piloto, tido como um dos melhores profissionais da companhia, e da
aeronave, que, segundo nota oficial da TAM, jamais registrou qualquer
defeito técnico.
"Esse avião havia feito um check-up completo no dia 15 de
outubro", afirma o vice-presidente de operações da TAM, Luiz Eduardo Falco
Pires Correia. "Estava tudo em ordem."
No dia do acidente, o PT-MRK saiu
de Caxias do Sul e passou por Curitiba, antes de pousar em São Paulo. As
interferências eletromagnéticas são causadas por ondas emitidas por
computadores portáteis, telefones celulares, pagers ou walkman. O uso
destes aparelhos a bordo tem sido o principal responsável por pequenas
panes registradas em todo o mundo, mas só agora se suspeita que eles
possam causar grandes desastres.
Foto: Juca Rodrigues
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... e o trem de pouso do Fokker 100 no
quarto: susto dentro de casa.
(minha
casa)
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As
autoridades da área são unânimes em apontar que os laptops e celulares
deturpam as medições de altura e de velocidade, indicando para o
comandante números que não batem com a realidade.
Há três anos, por
exemplo, o piloto de avião de uma grande companhia fretado para levar
crianças ao Caribe percebeu que o tanque da aeronave "enchia". Chamou a
aeromoça e descobriu que os minigames que entretinham a garotada estava
alterando o marcador de combustível.
Segundo três pilotos ouvidos por
ISTOÉ, os aparelhos eletrônicos também interfeririam diretamente nos
processadores centrais dos computadores de bordo. A cada vôo, os pilotos
programam as turbinas, separadamente, para pouso ou decolagem. "É possível
que uma interferência de telefone celular acionasse a programação de pouso
em uma das turbinas", afirma um dos pilotos.
"Nós sabemos que
celulares, computadores e outros aparelhos interferem nos instrumentos de
bordo", diz um piloto da própria TAM. "Mas não existe uma lógica de como
eles interferem." De acordo com ele, um problema com a magnitude da
reversão de uma das turbinas, semelhante ao que, em 1991, derrubou um
avião da Lauda Air, em Bangcoc, na Tailândia, só poderia ser solucionado
se o avião estivesse acima de 800 metros, em velocidade cruzeiro. "Na
decolagem ou no pouso, o piloto não tem tempo de nenhuma reação", explica.
Foto: Alex Soletto
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Alessandra Fernandes chora ao receber a
confirmação da morte do amigo, o administrador Roberto Fisher:
desespero.
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O "número 1", como era
conhecido entre os funcionários (apesar da inscrição em inglês), era uma
espécie de porta-bandeira da TAM. Ganhara este nome por conta do
título de
melhor companhia regional de aviação do mundo, conferido no ano passado
pela revista Air Transport World, a bíblia da aviação civil.
No
momento do acidente,
o comandante Rolim Adolfo Amaro, presidente da
companhia, estava dentro de um jato Citation, de sua propriedade, em
direção a Miami, onde iria fechar novos negócios. Em virtude de uma
forte virose que contraiu há poucos dias, ele passou mal e pediu para
fazer uma pequena escala no Caribe.
No quarto de um hotel, assistiu à
notícia do desastre pela CNN.
"Quero que todas as
providências sejam tomadas no que diz respeito às famílias das vítimas",
recomendou ao
entrar em contato com seus auxiliares no Brasil.
"É o que temos a fazer
diante desta tragédia."
Foto: Max
Pinto
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Pássaro é encontrado morto dentro de uma
das casas atingidas pelo avião: destruição total.
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Com novos jatos, todos da Fokker e
com menos de três anos de fabricação, a TAM cresceu nos últimos tempos
graças ao sucesso de seu serviço - que inclui salas de espera com pianista
e um balcão de sucos, frutas, salgadinhos e café -, e especialmente aos
vôos centro-a-centro.
Em cidades como São Paulo, Rio e Belo Horizonte, por
exemplo, eles economizam até uma hora em viagens de carro até os
aeroportos internacionais. A cada mês, os aviões da empresa transportam
400 mil passageiros.
Foto: Max
Pinto
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Rastros da destruição na Vila Santa
Catarina: região densamente povoada.
(na
verdade, Jabaquara)
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Criada há 75 anos, a Transportes
Aéreos Marília tinha dado há três meses o seu mais ambicioso salto:
comprou as Linhas Aéreas Paraguaias, trocou seu nome para Transportes
Aéreos do Mercosul e deu o primeiro passo para se tornar uma companhia
internacional. Neste ano, suas ações se valorizaram em mais de 100% e o
faturamento quase dobrou, gerando irritação na concorrência.
A empresa
garante que neste ano recebeu pelo menos três telefonemas anônimos com
ameaças de bomba: em Uberaba, Uberlândia e Brasília. Na quinta-feira, após
o acidente, a companhia teria recebido um quarto telefonema, desta vez em
São Paulo, com uma ameaça mais ampla: "O acidente de hoje é o começo do
fim da TAM." Até a madrugada de sexta-feira, a empresa não havia informado
o fato ao delegado Romeu Tuma Júnior, que preside o inquérito policial
sobre o acidente.
A elucidação do desastre não é fundamental apenas para a
sobrevivência da empresa. Se o relatório final chegar à conclusão de que
98 pessoas, pelo menos, morreram por causa de uma pane causada por
aparelho eletrônico, a segurança dos vôos exigirá medidas que devem ir
além dos atuais pedidos para se evitar o uso de celulares e computadores
portáteis a bordo das aeronaves. |
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HOME PAGE DO AEROPORTO
DE CONGONHAS - O PASSADO |
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A TRAGÉDIA DO VÔO 402 |
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Às 8 horas e 24 minutos do dia 31 de Outubro de 1996 o Fokker 100,
matrícula PT-MRK pertencente a TAM, com 90 passageiros e 6 tripulantes a
bordo, taxiava no pátio principal de Congonhas onde se preparava
para decolar. Era o vôo 402 com destino ao Rio de Janeiro.
Caprichosamente aquela aeronave era especial, fora toda pintada de
azul marinho, em sua fuselagem estava escrito em letras garrafais
"NUMBER ONE", numero um, em comemoração ao prêmio recebido pela
TAM como melhor
companhia regional do mundo.
Próximo da cabeceira os comissários Marcelo Binotto, Flavia Fusetti
Fernandes, Mariceli Pires Carneiro e Janaina Kakke dos Santos
realizavam os utimos preparativos para a decolagem e na cabine o
experiente Comandante José Antônio Moreno com 9 mil horas de vôo e 5
anos pilotando o Fokker 100 juntamente com o 1º Oficial Ricardo Luiz
Gomes Martins ouviram soar na cabine um alerta de nível 2. Logo eles
procuraram no painel da aeronave pelo problema. Não detectado, eles
responsabilizaram o auto-trote que como eles já sabiam, estava
quebrado.
O Auto-trote é um aparelho que realiza a dosagem da aceleração
automaticamente, obtendo a máxima performance da aeronave. É
totalmente dispensável, logo antes da decolagem eles o manteiram
desligado para realizar a decolagem
manualmente.
Às 8
horas e 26 minutos, a torre autoriza a decolagem, o MRK ingressa na
pista 17 Direita aplica potência maxima e inicia a decolagem. Mas
logo que a aeronave levanta vôo, o Comandante percebe que algo está
errado, a aeronave está com a razão de subida muito inferior ao
normal e com uma forte guinada a direita. A reação é imediata, o
Comandante olha novamente para os instrumentos e não vê nenhuma
informação de pane, aponta para o alto do painel e diz: - Lá em
cima! Lá em cima! pedindo que o 1º Oficial desligasse o
auto-trote que de alguma forma deveria estar ligado tirando a
potência do aparelho. Mas as palavras do 1º Oficial: - Ta em off! Ta
em off! confirmavam o inexplicável, o auto-trote estava da
mesma forma que fora deixado antes da decolagem,
desligado.
O MRK
subiu apenas 129 pés (40m), foi rapidamente perdendo altitude e cada
vez mais rolando para a direita. Apenas 25 segundos depois de ter
levantado vôo, o MRK, quase de lado, se chocou com um pequeno
prédio, caindo logo depois em várias casas no bairro do Jabaquara
matando 3 pessoas.
Nenhum
dos passageiros ou tripulantes sobreviveu. O aparelho ficou tão
destruído que visto do alto mais parecia que um botijão de gás havia
explodido do que a queda de um avião.
Imediatamente começaram em vão a procura de sobreviventes e deu-se
início a as investigação do acidente. Tudo indicava que o reversor
direito da aeronave abrira durante a decolagem. Mas os engenheiros
holandeses que vieram auxiliar no caso, confirmaram o que a própria
TAM já
sabia. Isso era IMPOSSÍVEL.
O
piloto de uma aeronave, quando se vê diante de um problema, deve
seguir uma série de atitudes conjuntas, ou seja um procedimento de
emergência. Toda aeronave tem uma série de procedimentos de emergência, que vão
desde uma simples pane em um dos instrumentos até a uma grave pane
de um motor. Grande parte dos Pilotos dos Fokker 100 da
TAM já
pilotaram os Boeing 737, logo sentiram falta de um procedimento,
justamente o procedimento para abertura do reversor durante a
decolagem. Procedimento que existe nos Boeing 737. Na procura de
maior segurança os Pilotos da TAM, reivindicaram o procedimento à companhia
a qual entrou em contato com o fabricante do aparelho a Fokker. A
Fokker então informou à TAM que não existia tal procedimento porque
foi constatado através de cálculos matemáticos que era simplesmente
IMPOSSÍVEL a abertura do reversor durante a
decolagem.
Logo
esta teoria fora descartada. Ao mesmo tempo não se conseguia
encontrar um explicação lógica para o acidente. Foi quando o
Mecânico da Líder taxi aéreo, Antônio Bueno, disse a ultima coisa que se
esperava ouvir. Ele viu o reversor direito abrir e fechar por
diversas vezes durante a decolagem. A noticia caiu como uma bomba, o
IMPOSSÍVEL havia ocorrido.
O
acidente foi totalmente negativo para Congonhas, a população voltou
a declarar sua insatisfação do seu vizinho importuno, a imprensa
dava explicações totalmente errôneas.
As
investigações levaram mais de um ano, e em 11 de Dezembro de 1997 o
Ministério da Aeronáutica divulgou o Laudo Oficial. Uma seqüência de
falhas operacionais e nos equipamentos foi a causa da queda.
Tudo
começou quando a Fokker recomendou uma alteração no sistema de
alimentação elétrica dos reversores para economizar energia. A
TAM seguiu esta
recomendação e fez as modificações em suas aeronaves incluindo o
MRK.
A
análise da caixa-preta mostrou que após o MRK aterrissar em
Congonhas (procedente de Caxias do Sul) um relê que comanda a
abertura do reversor direito continuou energizado, apesar do piloto
ter comandado o seu fechamento, o que levou uma válvula hidráulica a
deixar as conchas do reversor destravadas. No momento da decolagem
este mesmo relê determinou a abertura do reversor, em contrapartida
um outro relê (este em perfeita ordem) comandava o fechamento. O
sistema elétrico acabou "ciclando" e as conchas do reversor abriram
e fecharam ininterruptamente, até o teleflex (braço que move as
conchas) não suportar mais a pressão do ar e se romper deixando as
conchas do reversor abertas
definitivamente.
A
manual do Fokker 100 estipula que a tripulação não deve tomar
nenhuma atitude de emergência quando o aparelho está abaixo de 400
pés, pois dispositivos automáticos corrigem o problema. Essa regra
foi desrespeitada pois uns dos tripulante forçou o manéte (controle
manual de aceleração) por três vezes. Em uma das ocasiões ele chegou
há aplicar a incrível força equivalente ao peso de 50 quilos sobre a
manéte. Porém em nenhum momento o relatório usa a expressão falha
humana, e como até o acidente não havia treinamento específico para
o caso, os peritos afirmam que a situação era
inédita.
Simulações foram incluídas no treinamento de pilotos e a operação da
aeronave foi modificada, por recomendação da
Fokker.
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Copyright© 1998-2002 Fernando
Marcato |
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13 de novembro de 1996 |
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Dez segundos de terror
Investigação reconstitui a queda do Fokker 100 e
determina alteração no projeto do avião holandês
NORTON GODOY
Quando o Fokker 100 atingiu a velocidade de
190 km por hora, o co-piloto puxou gentilmente o manche do avião em
direção ao seu peito. O nariz da aeronave levantou apontando para o céu,
as rodas despregando da pista a 220 km por hora. Uma campainha disparou na
cabine.
A luz vermelha de alerta piscava insistentemente no painel onde se
lia "reverse deploited". Era o aviso de que o reverso, o freio
aerodinâmico do motor direito, havia aberto. O co-piloto, que já havia
experimentado a situação nos simuladores, nem pediu socorro ao piloto.
Sua
reação foi imediata. Cortou a potência desse motor e manteve o esquerdo
acelerado. O Fokker 100 continuou ganhando altura. Com o avião
estabilizado, o comandante comunicou o ocorrido à torre do aeroporto.
Pediu permissão para aterrissar em caráter de emergência e voltou ao solo
menos de 15 minutos depois.
Alguns passageiros reclamaram do contratempo e
foram todos embarcados em outro avião da companhia. A história do vôo 402
só não transcorreu dessa maneira porque faltou o alarme e a luz vermelha
no painel.
Ela não existe nos modelos 100 da Fokker, mas faz parte
do sistema de segurança de outros aviões, como os da Boeing por exemplo.
Os membros do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos, órgão do governo que investiga a tragédia) chegaram à
conclusão de que uma falha de projeto foi determinante na queda do avião
que fazia o vôo 402.
Apesar de ser considerada uma das aeronaves mais
seguras do mundo, seus projetistas não previram a possibilidade de o
reverso do motor - o freio aerodinâmico que ajuda a parar o avião durante
o pouso - abrir na decolagem, antes de o aparelho atingir os mil pés de
altura (cerca de 330 metros).
"É uma possibilidade em um milhão", afirmou
a ISTOÉ um dos especialistas que investigam o acidente. A partir de agora,
todos os Fokker terão de ter este dispositivo de segurança. É a primeira consequência prática para se evitar que a repetição da tragédia no vôo
506, novo número do extinto 402. A possibilidade em um milhão aconteceu na
manhã de 31 de outubro no Aeroporto de Congonhas em São Paulo.
Entre a
abertura do reverso e a queda que matou 98 pessoas foram apenas dez
segundos. Acompanhe a tragédia segundo a segundo.
10 - Uma
falha mecânica libera a pressão no sistema hidráulico que mantinha o
reverso do motor direito fechado. O Fokker 100 está na mão do co-piloto
Ricardo Gomes Martins, que cumpria parte de seu treinamento.
9
- Com o reverso aberto, o fluxo de ar espelido pela turbina é
direcionado para a frente, invertendo a ação do motor direito. A ação de
duas forças contrárias faz o avião se inclinar levemente para a direita. O
desastre vai começar.
8 - O auto-throttle (parte do piloto
automático) reage automaticamente à pane, reduzindo o manete de velocidade
do motor direito para a posição "idle", o ponto morto do avião. Mantido
dessa forma, o co-piloto poderia ter ganhado tempo para cortar a turbina
defeituosa, retomando então a rota correta e completando a decolagem
apenas com o motor esquerdo.
7 - O movimento do manete
chama a atenção do piloto José Antônio Moreno. Só três segundos depois da
pane, ele percebeu que alguma coisa estava errada. Não há nenhuma
indicação do tipo de problema. Moreno foi levado a crer numa falha no
auto-throttle. O avião começa a guinar para a direita. Os passageiros mais
atentos se assustam com o barulho causado pelo reverso aberto.
6 - O piloto assume o comando e pede ao co-piloto que
desligue o auto-throttle. "Em cima, em cima", diz Moreno. A frase foi
gravada na caixa preta. Moreno se refere ao botão que desliga o sistema
automático. Ricardo Martins cumpre a ordem. O manete que acelera a turbina
direita fica liberado para ser operado manualmente. A tragédia vai se
acelerar.
5 - O avião se inclina um pouco mais para
direita. O piloto pega no manete do motor direito e o empurra para frente.
O Fokker 100 dá uma espécie de "cavalo de pau" em pleno ar.
4
- Por causa da abertura do reverso, a aceleração da turbina na
potência máxima acentua a queda em curva para a direita. O avião vai
perder sustentação. Não existe mais retorno. A queda é inevitável. Os
passageiros começam a gritar.
3 - O monitor do computador
de bordo emite um alerta gravado: "Don't sink, don't sink", diz uma
metálica voz masculina. Ela é acionada quando os instrumentos indicam que
o avião está "em mergulho". O piloto ainda gira o manche para a esquerda e
o puxa todo para trás tentando compensar a queda para a direita. Os flaps
das asas são movimentados.
2 - A ponta da asa direita bate
no telhado de um prédio. "Meu Deus, meu Deus", grita o piloto. O chão se
aproxima rapidamente. As cadeiras dos passageiros saem do lugar. Os de
trás vão esmagar os da frente.
1 - O avião está caindo de
bico. Faltou pouco para que capotasse totalmente. As cadeiras vão se
imprensando em direção à cabine. Em milésimos de segundo, os passageiros
morrem esmagados pelos que vem de trás. Praticamente todos tiveram a
coluna vertebral quebrada. Sob o impacto de um choque a mais de 280
quilômetros por hora, a morte é instantânea e sem dor.
0 -
O querosene do Fokker 100 pega fogo. As labaredas se espalham pela rua
Luís Orsini de Castro. O pedreiro Tadao Funada morre queimado segundos
antes de despencar do segundo andar do prédio em que trabalhava. Os
destroços derrubam totalmente oito casas. Numa delas,
uma parede cai sobre
o professor de matemática Jorge Tadeu da Silva*. Se não tivesse caído de
bico, o avião teria deixado um rastro de destruição incomparavelmente
maior.
(*
Comentário: nesta a Isto É me matou. Na realidade
quem faleceu foi meu vizinho, o professor Marcos Antônio Oliveira).
As investigações do Cenipa, auxiliadas por especialistas da
Fokker e da Rolls-Royce (fabricante dos motores do avião), chegaram à
conclusão que uma falha técnica causou a abertura do reverso do motor
direito, na hora errada.
Testes realizados neste fim de semana nos
simuladores de vôo da própria Fokker, na Holanda, deveriam determinar qual
foi a falha. A hipótese mais provável é a quebra de um pino que trava o
sistema hidráulico do reverso (braços mecânicos acionados por um comando
eletrônico). Ele pode ter quebrado por estar fraco (fadiga de material) ou
mal colocado.
Embora o pino do motor direito não tenha sido recuperado nos
destroços do avião, as peças do sistema de trava do reverso estão sendo
analisadas pelo microscópio eletrônico do Centro Tecnológico da
Aeronáutica (CTA), em São José dos Campos.
Seja qual for a razão
da abertura inadvertida do reverso, os investigadores da Força Aérea têm
certeza de que os pilotos não souberam o que estava acontecendo. Para
chegar à reconstituição dos últimos dez segundos do vôo 402, os membros do
Cenipa seguiram à risca a primeira regra dessas investigações: começar
pelas evidências. São quatro:
1. A primeira delas foi o depoimento
do mecânico, que afirmou ter visto o reverso abrir nos segundos iniciais
da decolagem. "Sem esse depoimento, levaríamos muito mais tempo para
chegar às verdadeiras causas do acidente", afirmou o coronel Douglas
Ferreira Machado, coordenador do Cenipa e que já investigou mais de 700
acidentes aéreos.
2. Depois dos testemunhos, deve-se buscar
evidências materiais no que sobrou do avião. É um trabalho de detetive. As
peças são analisadas uma por uma. Primeiro as do equipamento que,
supõe-se, deu início à pane. No caso, a turbina direita.
3. Os
registros das caixas pretas são analisados por peritos. Além do diálogo
dos pilotos na cabine, também fica gravado tudo o que apareceu nos
mostradores do painel de controle. Introduzidas em um simulador, essas
informações reproduzem os comandos do avião na hora do acidente.
4. Levanta-se a possibilidade de interferências eletromagnéticas
estranhas ao avião, como telefones celulares, rádios e computadores
portáteis. Esta causa só pode ser comprovada por exclusão, porque um
problema deste tipo não deixa registros na parte eletrônica ou mecânica do
avião. No máximo se poderia detectar alguma ligação de um passageiro no
caso de quebra do sigilo telefônico das vítimas do desastre. Mas ainda
assim seria a confirmação de um indício e não uma prova definitiva. A
investigação do Cenipa não vai apontar culpados pelo acidente. Esse
trabalho está a cargo da polícia.
Colaboraram: Edna Dantas e
Mário Simas Filho |
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DIZEM QUE RIR FAZ BEM À
SAÚDE. AÍ VAI UMA PIADA. |
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Comentário:
O nosso "querido" ex-presidente FHC não
se contentou apenas com as condolências.
No seu melhor estilo em proferir
bravatas exigia rigor na apuração das
causas do acidente. Acho que foram
rigorosos mesmo, pois laudo que deveria
estar pronto em 90 dias demorou mais de
um ano para aparecer. É... a marquetagem
política ainda vai acabar com este país.
Publicado em "O Globo", 02/11/1996
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São Paulo, sexta-feira, 29
de novembro de 1996
VÔO 402
Morre outra vítima
de queda de jato
da Reportagem Local
Dirceu Barbosa Geraldo,
39, vítima em terra do acidente ocorrido no último dia 31 com o
Fokker-100 da TAM, morreu às 12h30 de ontem, na UTI (Unidade de Terapia
Intensiva) do Hospital Albert Einstein.
Ele estava internado no Einstein desde a madrugada do dia 3, com 61% de
seu corpo queimado.
Nos primeiros dias após o acidente, Geraldo ainda estava consciente e
chegou a conversar com a família, mas, ultimamente, ele estava sendo
mantido sedado.
Geraldo era vendedor de autopeças e trabalhava com o professor de
matemática Marco Antonio Oliveira, 36, que era morador da rua Luís
Orsini de Castro e foi uma das vítimas atingidas em terra.
Até as 18h45 de ontem, o corpo permanecia no velório do hospital. De lá
seguiria para o IML (Instituto Médico Legal). Nesse horário não havia
informações sobre o local do enterro.
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São Paulo, sexta-feira, 29
de novembro de 1996
VÔO 402
Reconstrução
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Casa atingida pelo Fokker-100 da TAM
começa a ser
reformada
Foto: Adriana
Zehbrauskas/Folha Imagem |
Aguardando
indenização, o professor Jorge Tadeu da Silva,
33, bancou cerca de R$ 6 mil pela reforma do telhado. |
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São
Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
VÔO 402
Nota da
Aeronáutica sobre acidente diz que pilotos ouviram sinal de alerta, mas
não encontraram problema
Checagem
pré-decolagem ignorou pane
RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local
O piloto e o co-piloto
do Fokker-100 da TAM que caiu em São Paulo no dia 31 de outubro chegaram
a fazer uma checagem de bordo antes da decolagem, depois que um alerta
no avião soou duas vezes. A checagem não detectou nada errado.
As informações fazem parte de uma nota oficial divulgada ontem pelo
Ministério da Aeronáutica.
A nota resume o conteúdo do relatório preliminar sobre o acidente,
elaborado pela equipe que investiga as causas da tragédia (leia íntegra
da nota abaixo).
Ontem, o número de vítimas fatais do acidente subiu para 99, após a
morte de mais uma pessoa que estava internada desde a queda (leia texto
acima).
O documento divulgado, o segundo oficial desde o acidente, confirma
informação divulgada pela Folha: quando a aeronave ia para a cabeceira
da pista, um sinal sonoro de alerta teria tocado duas vezes.
''Os pilotos ouviram um alerta de nível dois e não puderam identificar o
motivo'', diz o texto. ''No cheque de configuração de decolagem, a
tripulação obteve a confirmação da normalidade.'' O texto continua: ''Os
tripulantes prosseguiram na decolagem''.
Há quatro níveis de alerta em aeronáutica: de zero a três. Alerta de
nível dois significa ocorrência de uma pane que exige ação não-imediata
do piloto.
Reversor
O sinal, segundo a
Folha apurou, seria um aviso de que o reversor estava destravado. O
destravamento está registrado na caixa-preta. De acordo com os dados da
caixa-preta, o vôo teria durado, ao todo, 25 segundos.
O reversor é uma espécie de marcha à ré da turbina utilizado como freio
auxiliar em pousos. O reversor direito do avião da TAM abriu durante a
decolagem, desestabilizando a aeronave.
Apesar do alarme, o destravamento não teria causado a abertura do
reversor. O equipamento teria sido ativado por falha elétrica.
O fato de o sistema estar destravado teria agravado a falha inicial.
Entre as falhas que contribuíram para o acidente, a nota cita ainda o
fato de que os pilotos confundiram a pane no reverso como falha no
sistema automático de aceleração (autothrottle ou ATS).
Culpados
O texto não aponta
responsáveis ou culpados, ''até porque não é seu objetivo'', diz a nota.
A nota nega ainda que se possam tirar conclusões na fase atual das
investigações. ''Exceto que a investigação está em curso.''
Leia a seguir a nota
oficial da Aeronáutica:
O Ministério da
Aeronáutica, em complementação às notas oficiais divulgadas
anteriormente, com relação ao acidente ocorrido na cidade de São Paulo,
próximo ao aeroporto de Congonhas, com uma aeronave Fokker-100, PT-MRK,
operada pela TAM, onde faleceram todos os ocupantes e alguns moradores,
no local da colisão, informa que:
No dia 26 de novembro,
a Comissão de Investigação de Acidentes Aeronáuticos emitiu o relatório
preliminar do referido acidente.
Por filosofia do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos, o relatório preliminar não atribui culpa a quem quer que
seja, nem a projetos nem a operadores, até porque não é seu objetivo.
O relatório preliminar é um documento preliminar, onde são anexadas
todas as informações oriundas dos procedimentos iniciais do processo de
investigação e, na forma como é redigido, não serve de base para
qualquer conclusão, exceto que a investigação está em curso.
Os registros
preliminares dão conta que:
1. Durante a rolagem,
os pilotos ouviram um alerta de nível dois e não puderam identificar o
motivo. No cheque de configuração de decolagem, a tripulação obteve a
confirmação de normalidade. Em consequência, não tendo detectado, até
então, nenhuma anormalidade, os tripulantes prosseguiram na decolagem;
2. Por volta das 8h26,
durante a decolagem e logo após sair do solo, a tripulação foi
surpreendida por uma circunstância anormal nessa fase do vôo, procurando
executar imediatamente uma ação corretiva no sistema ''autothrottle''.
3. Foi observado por
testemunhas que o reversor do motor direito abriu e fechou algumas
vezes, tendo sido ouvido o barulho correspondente a essa situação;
4. Durante os 25
segundos totais de vôo, a aeronave inicialmente derivou à direita,
mantendo-se em baixa altura e velocidade, chegando a uma atitude de
acentuada inclinação à direita, vindo a colidir com edificações
residenciais, projetando-se ao solo e incendiando-se em seguida,
sofrendo perda total;
5. O acidente resultou
na morte de todos os 89 passageiros e 6 tripulantes, além de 3 outras
pessoas em terra;
6. Na recuperação da
caixa-preta (SSFDR - Solid State Flight Data Recorder) dos destroços,
constatou-se um alto grau de degeneração a que foi submetida pelo fogo,
o que, após uma avaliação local pelo representante do fabricante,
implicou a decisão conservativa de efetuar a sua leitura nas instalações
da fábrica, em Seattle (EUA), a fim de preservar as informações
registradas;
7. Após uma primeira
leitura da caixa-preta (CVR - Cockpit Voice Recorder), executada nas
instalações de um dos representantes do fabricante no Brasil, esta foi
enviada, juntamente com o SSFDR, para leitura final e sincronismo com as
informações do FDR, no NTSB (National Transportation Safety Board), em
Washington DC (EUA); e
8. Para o início da
investigação, apresentaram-se os representantes acreditados no NASB (Netherlands
Aviation Safety Board - NE), do fabricante Fokker, do Aaib (Air
Accidents Investigation Brach - UK) e do fabricante Rolls Royce - UK,
com os respectivos assessores técnicos, sendo que o representante
acreditado do NTSB participou dos trabalhos nos EUA, trocando
informações com a Ciaa (Comissão de Investigação de Acidentes
Aeronáuticos) e com as demais autoridades homologadoras dos países
envolvidos.
Não há previsão de
divulgação de outras notas oficiais. A juízo da autoridade competente,
serão ou não divulgadas outras informações durante o período da
investigação, ou seja, pelo prazo restante aos previstos 90 dias.
O Ministério da
Aeronáutica reitera os apelos de ponderação e cautela, naquilo que se
refere à divulgação das informações, e adverte que, através do Centro de
Comunicação Social, é a única fonte oficial divulgadora de informações
sobre o sinistro. Por essa razão, não pode ser responsabilizado por
opções que privilegiem fontes de interesse e origem duvidosos. O uso
dessas fontes é por conta e risco daqueles que as utilizarem.
Brasília-DF, 28 de
novembro de 1996.
Centro de Comunicação Social do Ministério da Aeronáutica |
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São Paulo,
segunda-feira, 02 de dezembro de 1996
TAM anuncia mudança
em jato
da Reportagem Local
A TAM anunciou
oficialmente, por meio de informe publicitário publicado nos principais
jornais do país, que mudou procedimentos de vôo depois do acidente com
seu Fokker-100, que matou 99 pessoas no dia 31 de outubro.
A principal
mudança anunciada foi no acionamento do reversor da turbina, que só
poderá ser posto em funcionamento pelo piloto. Reversor é um freio
aerodinâmico auxiliar, não obrigatório nos aviões.
No dia do acidente,
uma falha acionou o reversor da turbina direita do Fokker-100. Segundo o
comunicado, o sistema de comando dos reversores (relés) foi alterado
para que, em qualquer condição, mesmo sob sinais de interferência
externa, seu acionamento só seja possível se comandado pelo piloto. E,
assim mesmo, continua o comunicado, em operação de pouso, quando as
rodas do avião já tiverem tocado a pista de pouso.
A checagem do
reversor foi incluída na relação de equipamentos com vistoria
obrigatória e rotineira pela equipe de manutenção. As mudanças estão em
vigor na TAM desde o último dia 8. No dia 22, o fabricante passou as
mesmas instruções para seus clientes. |
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São
Paulo, segunda-feira, 02 de dezembro de 1996
ACIDENTE AÉREO
Segundo
o Ministério da Aeronáutica, 96 registra também o 5º maior número de
mortos em aviões no Brasil
Aviação
tem recorde de mortes em 14 anos
RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local
O
número de mortos em acidentes na aviação civil brasileira em 1996 já é o
maior dos últimos 14 anos e o quinto maior na história, segundo dados do
Ministério da Aeronáutica. Pela primeira vez na história da aviação
civil, o número de mortos superou o de acidentes.
Até 20
de novembro, últimos dados disponíveis, houve neste ano 177 vítimas
fatais em 82 acidentes aeronáuticos. Isso significa uma média de 2,16
mortos para cada acidente.
O
recorde histórico foi registrado em 1982, quando morreram 306 pessoas em
375 acidentes, ou 0,816 mortes por desastre. Os números mostram que,
apesar de o número de acidentes estar caindo ano a ano, o número de
mortos não diminuiu na mesma porcentagem.
O coronel Douglas Ferreira
Machado, diretor do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos), do Ministério da Aeronáutica, afirma que o
número de mortos por acidentes tem aumentado porque o porte dos aviões
hoje é maior. ''Além disso, acredito que pilotos e proprietários de
aviões menores têm hoje maior educação para a segurança de vôo,
manutenção e procedimentos.''
Uma
terceira razão para as estatísticas seria o fato, segundo o coronel, de
que os aviões hoje são mais resistentes. ''O número de horas de vôo está
aumentando, mas os acidentes diminuem, porque os aviões são mais
resistentes.'' Aviação executiva Historicamente, a aviação executiva é a
que mais registra acidentes e mortes.
Em
1996, porém, o número de mortos da aviação regional foi inflacionado
pela queda do Fokker-100 da TAM, com 99 vítimas fatais. Ramiro Eduardo
Tojal, diretor da TAM e presidente do Sindicato Nacional das Empresas
Aeroviárias, afirma que a aviação comercial no Brasil ''é uma das mais
seguras no planeta''.
A
aviação comercial engloba as empresas que fazem vôos regulares nacionais
e regionais. ''O problema é que, quando ocorre um acidente na aviação
nacional, é sempre com aviões de mais de 80 assentos. Na regional, são
aviões de 16, 44 ou mais assentos.'' Segundo o sindicato, o número de
passageiros transportados pela aviação comercial cresceu 62% desde 1980.
Naquele ano, foram transportados 13,05 milhões de pessoas, contra 21,16
milhões em 95. Para 96, estima-se que sejam transportados 22,80 milhões
de passageiros. ''A aviação comercial é responsável por 99% dos
passageiros transportados no país. E tem pouquíssimos acidentes.''
Fatores
operacionais são 82,3% das causas que contribuem para os acidentes na
aviação nacional, entre 87 e 96. |
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São
Paulo, terça-feira, 03 de dezembro de 1996
Moradores se
reúnem em Congonhas
Ato pede controle de
tráfego aéreo em SP
da Reportagem Local
O Movimento Defenda São
Paulo, que representa 250 associações de bairro da cidade, promoveu,
ontem, uma manifestação no saguão do Aeroporto de Congonhas.
A principal
reivindicação do movimento é a definição de uma política aeroportuária,
com melhor distribuição do tráfego aéreo que existe na cidade. Os
manifestantes pedem também que seja realizado o controle do adensamento
nas regiões e bairros que ficam próximas aos aeroportos.
Eles também pedem maior
rigor na fiscalização do cumprimento dos horários de pousos e decolagens
que hoje ocorrem entre 6h e 22h.
(*)
Participaram do
movimento representantes de várias associações de moradores de bairros
da capital, como Moema, Vila Olímpia e Cidade Vargas, todos na zona sul
de São Paulo.
Jabaquara
Os alunos da escola
Monteiro Lobato, que fica no Jabaquara, próximo ao local do acidente com
o Fokker-100 da TAM, levaram uma banda para tocar na manifestação.
Mobilização
De acordo com Miriam
Boch, diretora da Sociedade de Amigos da Cidade Vargas, o Jabaquara foi
o bairro que mais se mobilizou por ser o mais afetado pelo barulho
causado pelas aeronaves e por ter sido atingido no acidente há cerca de
um mês.
Uma comissão de manifestantes entregou ao coronel Ney Antunes
Cerqueira, Chefe do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo, um
documento contendo as principais reivindicações do movimento. De acordo
com Regina Monteiro, diretora do Movimento Defenda São Paulo, o próximo
passo é cobrar providências da Prefeitura e do governador Mário Covas.
(*) Até
hoje, aviões pousam e decolam após esse horário. Há vôos até de
madrugada. |
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São
Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 1996
VÔO 402
Carro da polícia que
vigiava o local é deslocado para patrulhar outras ruas no bairro do
Jabaquara
Vítimas temem saques
em casas destruídas
LUCIANA BENATTI
da Reportagem Local
A demora no pagamento
das indenizações aos moradores que tiveram suas casas atingidas pelo
acidente com o Fokker-100 da TAM, em 31 de outubro, vem causando dois
problemas.
O primeiro diz respeito
à segurança. Segundo os moradores, desde segunda-feira o carro da
Polícia Militar encarregado de fazer a segurança do local foi retirado.
Os moradores dizem que tiveram de chamar a polícia porque havia pessoas
tentando saquear as casas semidestruídas. A reportagem da Folha entrou
em contato ontem com o 3º Batalhão de Polícia Militar Metropolitana,
responsável pelo policiamento na região. O oficial responsável, que se
identificou apenas como tenente Loureiro, disse que o carro foi retirado
porque está sendo utilizado para atender outras ocorrências.
Segundo ele, além da
falta de veículos, também há falta de efetivo. ''A gente não tem como
manter uma viatura eternamente no local'', afirmou. A manutenção de um
carro de polícia no local ''ficou um mês onerando o policiamento em
outras áreas, porque era um carro a menos para atender a população do
Jabaquara'', segundo ele. Ele afirmou ainda que o patrulhamento continua
sendo feito, sem que o carro fique na rua.
Segundo o
tenente, a segurança em área privada fica por conta de quem gerou o
problema. ''A TAM deveria ter providenciado a mudança desse material.''
Chuvas
O segundo problema,
agravado pelas chuvas que atingiram São Paulo nos últimos dias, é
provocado pelas infiltrações e rachaduras nas casas que foram
destelhadas. Segundo Gisele Cristina Cardoso, 21, moradora da rua Luís
Orsini de Castro, local mais afetado pela queda do avião, durante a
chuva da última segunda-feira foi preciso colocar panos e baldes pela
casa para conter a água que escorria pela escada e pelas paredes. Os
tapetes foram retirados.
Além disso, com a chuva
o problema das rachaduras nas paredes e nos muros da casa está se
agravando. Desde o dia do acidente a casa está coberta com uma lona
preta colocada pela prefeitura.
O assessor da
presidência da TAM, Paulo Pompílio, informou que mais de 70% dos
moradores já foram indenizados.
(*)
Ele afirmou que a segurança é responsabilidade da Polícia Militar.
(*)
Passados mais de dez anos, ainda aguardo a indenização. |
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São
Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
Mecânico diz que
telefonema alertou sobre barulho em avião
da Reportagem Local e
do enviado especial a Florianópolis
O mecânico da TAM
Luis Fernando Ribeiro confirmou ontem que recebeu um telefonema no
aeroporto de Caxias do Sul (RS), no dia 31 de outubro, de uma pessoa que
alertava para o barulho excessivo que o avião PT-MRK fazia durante a
decolagem. Poucas horas depois, o avião cairia em SP, matando 99
pessoas.
Ribeiro prestou
depoimento ao delegado Romeu Tuma Jr., da delegacia Seccional Sul de São
Paulo. Segundo Tuma Jr., o mecânico disse que não tomou nenhuma
providência após o telefonema. Ele justificou sua atitude dizendo que a
checagem pré-decolagem apontava que o avião estava em perfeitas
condições.
''Subjetivamente,
podemos dizer que ele poderia ter evitado a queda se tivesse ligado para
Curitiba ou São Paulo'', disse Tuma Jr. O promotor Mário Sarrubbo, que
acompanha as investigações, afirmou ontem que pretende requisitar os
laudos preliminares da Aeronáutica, pois ainda não foram enviados à
polícia.
''Mártires''
Luiz Eduardo Falco,
vice-presidente da TAM, afirmou ontem em Florianópolis que os 99 mortos
do vôo 402 ''podem ser considerados mártires da aviação mundial''.
''Aquele acidente era imprevisível até o dia em que ocorreu.
Infelizmente, foi com a morte dessas pessoas que o mundo da aviação
descobriu que uma falha, até então inimaginável, era possível'', afirmou
Falco. (OC e RF) (*)
(*) Comentário: Se a TAM tivesse dado
o treinamento à tripulação, como recomendado pelo fabricante do avião,
o acidente não teria ocorrido. |
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TAM, A EMPRESA DO ANO!
A revista Exame – Melhores e
Maiores elegeu a TAM para receber o
título de Empresa do Ano. À parte a
polêmica decorrente da escolha, um
rastreamento feito pelo Instituto
Gutenberg nas páginas de Melhores e
Maiores mostra que a revista é
imprecisa, erra com freqüência, os
critérios técnicos são maleáveis, mudam
sem justificativa e podem ser
distorcidos pela equipe editorial.
A TAM pousou na pista da vitória num voo
por instrumento: a "Empresa do Ano" foi
escolhida não pelo desempenho, mas num
julgamento “editorial e jornalístico”
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O ACIDENTE NA
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