Cerca de quarenta minutos depois de decolar do Aeroporto de
Congonhas, o PP-SRK pousou no Galeão, na cidade do Rio de
Janeiro, cumprindo a única escala do voo com destino a
Fortaleza. Ali outros 67 passageiros embarcaram na aeronave,
orientados pelo chefe de cabine Humberto Pestana que comandava
mais cinco comissários.
Com 22 mil litros de querosene em seus tanques, a decolagem do
Rio de Janeiro foi efetuada as 00h12 minutos e o voo prosseguiu,
com lotação quase completa, para seu destino final.
A Vasp utilizava seus 727 na configuração de 152 lugares em
classe única, com 24 fileiras de seis lugares, 2 com três
lugares e 1 com apenas dois lugares, sendo fumantes no lado
esquerdo e não fumantes no lado direito.
Pouco depois da decolagem, iniciou-se o serviço de bordo servido
de duas galleys diferentes e os passageiros, confortáveis na
cabine pressurizada com temperatura de 22 graus, puderam se
distrair com os sete canais de áudio que a Vasp chamava de
"Música no Ar", na época uma das atrações da empresa para seus "VEN"
(sigla para "Voo Econômico Noturno"), autorizados pelo DAC pouco
tempo antes e com descontos de até 30% no preço regular das
passagens
Segundo dados oficiais
divulgados pela FAB, o 727 fazia a perna Rio-Fortaleza a uma
altura de 33 mil pés (FL330) pela UR-1, solicitando ao controle,
as 02h25, quando estava a 140 milhas de seu destino (259 Km), o
início do procedimento de descida.
O Controle de Tráfego Aéreo
no Aeroporto Pinto Martins autorizou o PP-SRK a descer do FL 330
até o FL 050 (1.500 metros), devendo reportar à torre quando
cruzasse a FL 100 (cerca de 3.300 metros).
O Comandante Fernando
Antônio Vieira de Paiva começou a descer da FL 330 a 137 milhas
náuticas (253 Km) quando, pelas cartas de navegação utilizadas
para a aproximação ao Aeroporto Pinto Martins, deveria fazê-lo a
86 milhas náuticas (159 Km). A antecipação da descida levou a
aeronave a atingir 3000 pés bem antes da linha vertical do
Aeroporto Pinto Martins e que era a altitude mínima para o
bloqueio.
O alarme de altitude
("altitude alert") existente na cabine da aeronave é acionado
durante duas vezes nessa passagem de altitude. O primeiro sinal
de alerta é dado quando a aeronave atinge a altura de 5.800 pés
(cerca de 1.933 metros). O segundo, quando ela atinge 2.300 pés
(cerca de 767 metros).
Ao cruzar a altitude de
3.800 pés, o co-piloto adverte o comandante da aeronave para a
presença de "morrotes à frente" (dados do CVR), sem que o mesmo
interrompesse a descida (dados do "Voice Recorder" e "Flight
Recorder").
Um minuto e onze segundos
após este aviso, a proa da aeronave é levantada em oito graus
(dados do "Flight Recorder"). Tal desvio, somado a intenção de
efetuar um tráfego visual, levou os técnicos do Cenipa a
concluir que o comandante tentava "interceptar a perna do vento
na pista 13 do Aeroporto Pinto Martins.
O procedimento padrão no
Ceará para o pouso de grandes aeronaves é semelhante, venha ela
por dentro do Estado (como o PP-SRK) ou pelo litoral. Dessa
forma, o 727 deveria inicialmente ir para a esquerda da pista do
Aeroporto Pinto Martins no sentido Oeste para o Leste (Icarai
para Aerolândia, onde a pista de pouso fica a esquerda do
comandante da aeronave).
A tripulação do voo 168
pretendia cruzar a pista vendo-a a esquerda e após a passagem,
virar-se novamente à esquerda por duas vezes, no sentido
Aerolândia-Icaraí, pegando a chamada perna base após a
inclinação da aeronave. Sua última manobra seria virar novamente
à esquerda e descer na final para o pouso.
Após atingir a altitude
solicitada (a FL 050) e já tendo obtido referências visuais ao
avistar a cidade de Fortaleza, o relatório do Cenipa aponta que
o comandante do Boeing 727-200 da Vasp optou por continuar na
descida para a faixa de 1.500 pés (FL 015, cerca de 500 metros),
que é a altitude de tráfego visual em Fortaleza. O copiloto da
aeronave não reporta o nivelamento no FL 050.
Um minuto e doze segundos
depois, com a aeronave prosseguindo na descida com o "altitud
alert" selecionado para 1.500 pés (500 metros), exatamente as
02h45min de 8 de junho de 1982, o PP-SRK choca-se a 1.950 pés de
altitude (594 metros) e a uma velocidade de 295 nós (530km/h)
contra a Serra da Aratanha, a 8 quilômetros de Pacatuba, Região
Metropolitana de Fortaleza.
Ainda segundo a FAB, as
condições metereológicas do Aeroporto Pinto Martins permitiam
operações visuais, com ventos fracos, visibilidade acima de
10Km, céu encoberto, teto de nuvens a 600 metros (nuvens altas a
6.000 metros) e temperatura na marca dos 24 graus na hora do
acidente.
A torre, que autorizou a
tripulação a descer dos 10 mil metros para 1.500 e solicitou que
ela informasse quando atingisse 3 mil metros, recebeu o último
contato do PP-SRK quando ele atingiu 2.800 metros e a tripulação
disse que estava a 55 milhas (pouco mais de 100 quilômetros) do
aeroporto.
A torre então confirmou a
autorização para descida até 1.500 metros, pedindo que o 727
mantivesse aquela altura, não recebendo mais nenhum contato por
parte do avião da companhia paulista.
Cinco minutos após o último
contato via rádio, o 727 entrou no chamado "período de perigo" e
a torre de Fortaleza acionou o serviço de Busca e Salvamento da
FAB no local, temendo por um desastre que já ocorrera.
O destino do PP-SRK estava
selado e com ele estavam também o de cento e vinte e oito
passageiros e nove tripulantes. Logo depois deste acidente, a
Vasp trocou a denominação do voo entre São Paulo-Rio de
Janeiro-Fortaleza de VA168 para VA254. |