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O motivo do acidente, na opinião do
presidente da Transbrasil (que também era piloto comercial), Omar
Fontana, só poderia ser "falha humana ou mecânica", excluindo totalmente
a possibilidade de um raio ter tomado parte na cadeia de eventos que
levou a perda do Boeing, que voava há pouco mais de cinco anos na sua
empresa.
Na opinião dele à época, o Boeing
tentou afastar-se da tempestade sobre a cidade e, nesta manobra, uma
corrente de ar descendente (a famosa "tesoura de vento" como se falava
na época - Nota do Editor), havia puxado o avião de encontro ao solo.
Sobre os mais de oito quilômetros
de distância entre o 727 e sua rota correta, Omar Fontana disse: "com a
tempestade que caia nas proximidades do aeroporto, o avião, operando por
instrumentos, tinha melhores condições de vôo na Baía Norte, onde
ocorreu o acidente" (SIC).
Ele ainda repudiava a hipótese de
falha mecânica por não ter havido nenhuma comunicação neste sentido do
avião com a Torre. Aliás, a última mensagem de rádio entre o 727 e os
controladores, foi realizada exatos 60 segundos antes do choque e era
apenas parte de uma conversação normal pré-pouso.
O major Ronaldo Jenkins do DAC
afirmava, no dia seguinte em Santa Catarina, que os destroços permitiam
afirmar que o avião estava em configuração de pouso e com seu trem
baixado.
De acordo com os dados do DAC na
época, divulgados logo após a queda do PT-TYS, em sua última conversação
com a torre, o avião reportou estar a 5.000 pés (para a aproximação pela
Baía Norte ele poderia voar com segurança até mesmo entre 1.000 e 1.500
pés - Nota do Editor).
Porém, como o 727 estava quase oito
quilômetros à esquerda da rota, colidiu a uma altura de 1.100 pés. Não
havia no 727 nenhum instrumento capaz de mostrar aos seus tripulantes, o
Morro da Virgínia, segundo o major Jenkins que também entrevistou os
sobreviventes, perguntando-lhes sobre as condições atmosféricas e o que
lembravam dos últimos segundos de vôo antes da colisão.
Segundo um ex-piloto da Transbrasil
(cuja identidade será mantida em sigilo), que também comandava o 727 nos
anos 80, "o auxílio usado em 1980, ficava perto da praia da Saudade e
segundo ele, o grande motivo do acidente foi à velocidade empregada até
o bloqueio do auxílio que, especula-se, tenha sido de aproximadamente
300 nós, fazendo com que a aeronave saísse do gabarito de segurança da
órbita, ou seja, do correto procedimento de descida. Assim, o raio da
curva foi muito grande, levando a aeronave para fora da área de
segurança. Já fora do gabarito, esta desacelerou, tentando voltar para o rebloqueio, mas deve ter ficado sem marcações do rádio farol, pois estas
estavam "encobertas" pelos morros que existem em Florianópolis. O 727
continuou descendo e chocou-se com o Morro da Virgínia, numa atitude de
subida, pois realmente estava tentando subir para 2.000 pés (altitude
que deveria ter mantido)".
Sobre os comentários de que o major
da FAB estava nos comandos do 727 na hora do acidente, este comandante
comenta que "realmente o major checador estava no posto da esquerda, o
que seria normal, pois o mesmo era habilitado no Boeing 727.
O que acontece nestes casos, é a
presença compulsória do comandante no posto da direita. Aparentemente,
não foi o que ocorreu naquele dia.
Por estarmos sob regime militar, a
(confirmação) presença do major na esquerda, sem o comandante no posto
da direita, infelizmente foi censurada e até hoje se evita comentar.
O major estava no vôo, realizando o
recheque dos co-pilotos (na TransBrasil os co-pilotos revezavam-se entre
o posto da direita e no do painel do Engenheiro de Vôo, sendo chamados
de POS - Piloto Operador de Sistemas).
A grande incógnita é: quem
realmente estava pilotando a aeronave? Naquelas condições
meteorológicas, a pilotagem deveria ser feita pelo comandante, segundo o
Manual de Operações da TransBrasil" (SIC).
Problemas com a
Caixa-Preta de Dados (FDR - Flight Data Recorder)
A "caixa-preta" do 727-27C PT-TYS
da Transbrasil foi enviada para os Estados Unidos algum tempo após o
acidente, no dia 20 de maio.
Soube-se que havia um problema no
"cabo de pressão estática" e, por este motivo, o equipamento fabricado
pela Lockheed não gravou três de seus seis parâmetros do Flight Recorder
(altitude, velocidade e força G).
Já o Voice Recorder estava perfeito
e as conversas entre o avião e a Torre, todas sem indícios do motivo da
queda do 727, foram ouvidas em som alto e claro, bem como as últimas
conversas na cabine do avião.
A voz do comandante Geraldo
Teixeira foi ouvida e reconhecida por 16 pilotos da Transbrasil.
O teor das gravações não foi
liberado, mas Ronaldo Jenkins, do Centro de Investigações e Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos, disse que as conversas estavam dentro do padrão,
não havendo nenhuma referência dos tripulantes quanto ao tempo ruim no
local, sob efeito de ventos e chuvas fortes.
Ele disse ainda não ter havido
interferência nas comunicações de rádio, com todas as instruções da
torre confirmadas pela aeronave, que estava ciente da preferência para
pouso do avião da Varig, na chegada.
Ele ainda afirmou serem infundados
os boatos dizendo que o major da FAB era quem estava no comando do
Boeing 727 no momento do acidente, reciclando-se neste tipo de aeronave.
O que apontou o
Relatório Final
Nos meses seguintes, a aeronáutica
e a Transbrasil empenharam-se em descobrir o que poderia ter levado à
tragédia.
O relatório final custou a sair.
Publicado na edição de Relatórios de Acidentes Aeronáuticos Mais
Significativos - 1980-1983, publicada em dezembro de 1984 pelo CENIPA, o
documento não aponta um fator diretamente relacionado à tragédia: em
nenhum momento faz menção do fato de que o major Matriciano pilotava a
aeronave. Diz apenas que "Teixeira ocupava o assento da direita".
Contribuiu para o acidente o fato
de que o PT-TYS não era equipado com GPWS, Ground Proximity Warning
System, que poderia ter evitado a tragédia. Afinal, aquele era um jato
dotado de tecnologia dos anos 60, e o emprego deste dispositivo não era
nem obrigatório nem tampouco comum à época.
Um fator contribuinte de grande
impacto na cadeia de acontecimentos que levou ao desastre estava fora do
âmbito de responsabilidade da Transbrasil ou de seus tripulantes: o fato
é que os auxílios fixos e os instrumentos disponíveis à navegação em
Florianópolis eram absolutamente rudimentares à época. O relatório
conclui que o acidente ocorreu por uma seqüência de fatos, pequenos
erros ou omissões, elencando textualmente:
1- Turbulência que dificultou a
manutenção de proas e altitudes.
2- Interferência elétrica de grande
magnitude que perturbou a recepção dos sinais do NDB.
3- Descida abaixo da altitude
prevista no final da curva de aproximação, ocasionada pela confiança que
a tripulação sentia em sua segura posição geográfica.
4- Forte vento de través, ignorado
pela tripulação e pelo controle de tráfego, que contribuiu para desviar
a aeronave de sua trajetória normal no procedimento de descida.
Como recomendações, o CENIPA
enumerou três itens principais:
1- As tripulações devem manter os
tempos exatos e proas exatas na curvas de aproximação, manter altitude e
velocidades prescritas nas cartas de aproximação.
2- Dotar o Aeroporto de
Florianópolis de equipamentos de aproximação mais precisos e menos
influenciáveis pelas condições atmosféricas.
3- Recomenda à DIREPV (Diretoria
Regional de Proteção ao Vôo) que investigue a possibilidade de bloqueios
falsos sob tempestades na Terminal de Florianópolis, bem como a
instalação de equipamento ILS e radar de aproximação.
Clique
AQUI para acessar o Relatório Final do acidente [em .pdf]
Após o acidente, a Força Aérea
Brasileira acelerou a implantação do CINDACTA II em novembro de 1982,
enquanto que a Infraero implantou, entre julho de 1981 e abril de 1982,
um novo sistema de auxílio a navegação no aeroporto Hercílio Luz,
composto de radar, ILS, DME e VOR enquanto que o obsoleto equipamento NDB
foi desativado. Tarde demais para 55 dos 58 ocupantes do Transbrasil
303.
A Transbrasil vivia uma grave crise
financeira desde 1975, sendo agravada pelo acidente e por incidentes,
ameaças de greve, demissões, etc.
Para não falir (em meados de 1987, a
Transbrasil tinha uma dívida de cerca de US$ 120 milhões), a companhia
aérea aceitou receber grandes aportes financeiros do governo brasileiro
que chegou a intervir na direção da empresa entre 1988 e 1989.
Após
gestões desastrosas, a empresa encerrou suas atividades em 2003 -
deixando uma dívida de cerca de R$ 1,5 bilhão.
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Ficha técnica
Data: Sábado, 12.04.1980
Hora: 20h38min
Aeronave:
Boeing 727-27C
Operadora:
Transbrasil
Prefixo:
PT-TYS
Número de Série:
19111/297
Primeiro voo:
1966
Tripulantes: 8
Passageiros: 50
Partida:
Aeroporto de São Paulo/Congonhas (CGH/SBSP), São Paulo,
SP
Destino:
Aeroporto Internacional de Florianópolis/Hercílio Luz (FLN/SBFL),
Florianópolis, SC
Local da ocorrência:
22 km (1.3 mls) a nor-nordeste do Aeroporto Internacional de
Florianópolis/Hercílio Luz (FLN/SBFL), Florianópolis, SC
Fatalidades: 8
tripulantes e 47 passageiros
A
aeronave PT-TYS
O Boeing 727 envolvido
no acidente foi fabricado em 1966 e adquirido pela Braniff.
Após alguns anos operando na empresa aérea americana, a
aeronave foi vendida em 1976 - juntamente com outras 13
aeronaves similares - para a empresa aérea brasileira
Transbrasil, onde recebeu o prefixo PT-TYS. O avião estava
com seu certificado de voo regular e as manutenções em dia.
O Boeing
727-200, PT-TYS, antes de receber a pintura no padrão
"Arco-Íris"
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