A aeronave decolou da pista de Bossoroca para efetuar voos
de pulverização agrícola em área distante cerca de 10 Km da
base, levando o piloto e um passageiro.
Ao retornar ao aeródromo de Bossoroca, a aeronave estolou a
baixa altura, durante a fase de aproximação final para
pouso, vindo a chocar-se violentamente com o solo.
A aeronave ficou completamente destruída e os dois ocupantes
faleceram no local.
ANÁLISE
A aeronave transportava, além do piloto, um passageiro,
contrariando as ordens técnicas do fabricante, que prevêem o
transporte de apenas um piloto.
O piloto estava com os Certificados de Habilitação Técnica e
de Capacidade Física vencidos.
No regresso do voo de pulverização, a aeronave enquadrou a
perna com o vento da pista 10, a 100 pés de altura. O vento
estava com 270º de direção e aproximadamente 16Kt de
intensidade, com rajadas. O enquadramento da aproximação
final não foi bem sucedido, tendo o piloto que realizar uma
“barriga”e em seguida estolado com a aeronave.
De acordo com as pesquisas e exames realizados nos destroços
da aeronave, a velocidade de estol nas condições em que se
encontrava configurada se aproxima da velocidade mostrada
pelo velocímetro, que era de 100Kt. Também, o CG da aeronave
foi acrescido em 3,8% na parte traseira, devido ao
transporte de outra pessoa no avião, o que é proibido pelo
fabricante. Este fato certamente comprometeu o desempenho do
avião.
Observou-se, também, que a aeronave, ao colidir com o solo,
estava com regime de potência máxima, quando o normal neste
tipo de avião seria estar com o motor reduzido, devido à
aproximação final.
A situação de motor aplicado na sua capacidade máxima
durante a aproximação final, provavelmente deve-se ao fato
da realização de uma curva de grande inclinação durante o
enquadramento da perna base e final, devido ao forte vento
de cauda que existia no momento, ou uma possível recuperação
da situação de estol, onde o procedimento previsto é ceder o
nariz da aeronave e aplicar potência para ganhar
sustentação.
O fato de o piloto estar realizando uma aproximação a baixa
altura (100pés), impossibilitou-o de efetuar uma recuperação
da atitude de estol, devido à proximidade com o solo. Caso
estivesse o piloto em altura satisfatória para a realização
de um tráfego padrão, provavelmente o acidente não teria
ocorrido, pois poder-se-ia efetuar a recuperação da aeronave
antes do impacto com o solo.
De acordo com a pesquisa realizada no fator humano, a
repetição de atitudes negativas e operações despadronizadas
que o piloto executava com sucesso foram decisivas para a
continuidade e reforçamento deste tipo de conduta negativa,
concluindo que houve influência deste aspecto em nível
individual e organizacional, pois o proprietário da aeronave
tinha conhecimento das irregularidades realizadas pelo
piloto.
CONCLUSÃO
Fator Humano - Aspecto Psicológico - Contribuiu
Houve influência do aspecto psicológico em nível individual
e organizacional. As atividades aéreas realizadas com pouca
segurança e de forma arrojada, pelo piloto, denotam uma
atitude caracterizada por excesso de confiança em seus
hábitos adquiridos. Em nível organizacional, também houve
contribuição com relação ao procedimento da empresa em não
ter orientado ou afastado o piloto do voo, posto que a mesma
tinha conhecimento das suas atitudes negativas com relação à
doutrina de segurança de voo.
As condições de vento reinantes no momento do acidente
contribuíram com o enquadramento inadequado da aproximação
final realizado pelo piloto.
(2).Deficiente Supervisão - Contribuiu
A empresa permitiu que o piloto voasse com outra pessoa a
bordo, por várias vezes, contrariando as normas de segurança
e de operação da aeronave, além de permitir o voo de
tripulantes com CHT e CCF vencidos.
(3). Deficiente Planejamento - Contribuiu
O piloto efetuou um deficiente planejamento do seu voo,
embarcando um passageiro, o que contraria as normas
operacionais e de segurança para o tipo de aeronave, e não
realizou o balanceamento correto do avião, deslocando o CG
em 3,8% na parte traseira da aeronave.
(4). Deficiente Julgamento - Contribuiu
O piloto utilizou-se de uma inclinação inadequada e perigosa
(90º) para a fase de aproximação final, colocando a aeronave
fora de seu envelope de voo, e realizou o tráfego para pouso
com apenas cem pés de altura, também colocando em risco a
operação, denotando um deficiente julgamento de sua parte.
(5). Indisciplina de Voo - Contribuiu
O piloto realizou o voo com a aeronave fora de seu envelope
de balanceamento, além de estar com suas habilitações e
Certificado de Capacidade Física vencidos, desobedecendo
intencionalmente regras de tráfego aéreo, normas
operacionais e regulamentos, sem que houvesse justificados
motivos para tal.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os SERAC deverão dar conhecimento do conteúdo deste
relatório a todos os operadores de aviação agrícola de suas
circunscrições, visando a valorizar a doutrina de segurança
de voo através dos ensinamentos colhidos deste acidente.
A Palmares Aviação Agrícola deverá supervisionar
corretamente a operação aérea e os seus pilotos, quanto ao
cumprimento fiel das normas e doutrina de segurança de voo,
bem como das normas de tráfego aéreo e regulamentações do
DAC e publicações técnicas de suas aeronaves; manter um
controle atualizado do cadastro de tripulantes da empresa,
devendo reportar e coibir qualquer irregularidade que seja
observada.
O SERAC-6 deverá realizar uma Vistoria de Segurança de Voo
Especial na empresa operadora da aeronave acidentada.
Aeroporto de Partida: Aeródromo de Anápolis (SWNS) –
GO
Aeroporto de Destino: Aeródromo de Luziânia (SWUZ) –
GO
HISTÓRICO
A aeronave encontrava-se realizando serviços de manutenção
no aeródromo de Anápolis.
Após os serviços, sem realizar voo de experiência, a
aeronave decolou de Anápolis – GO (SWNS) com destino à
Luziânia – GO (SWUZ), conduzindo três pessoas: o piloto; o
proprietário da mesma e outro passageiro. O tempo de voo
estimado era de aproximadamente 00:45h.
De acordo com as informações de testemunhas, a aeronave,
após sair do solo, realizou curva à esquerda e manteve a
altitude, sem subir. Na seqüência, ingressou na perna com o
vento, nivelou as asas e iniciou um aumento gradativo do
ângulo de ataque, perdendo velocidade, até que a asa direita
estolasse, fazendo com que a aeronave entrasse em um
mergulho em espiral descendente.
De acordo com uma testemunha, pelo menos um motor da
aeronave estava em condições de potência plena quando do
estol da asa direita.
A aeronave, na sua trajetória de queda, colidiu com uma
linha de transmissão de energia elétrica urbana das Centrais
Elétricas de Goiás e, na seqüência, caiu sobre uma área
residencial, incendiando-se.
A aeronave foi completamente consumida pelo fogo.
As três pessoas que estavam a bordo faleceram no local.
ANÁLISE
O piloto não tinha experiência no tipo de aeronave e estava
com o Certificado de Habilitação Técnica vencido.
De acordo com as informações de um mecânico que realizara a
manutenção corretiva na aeronave minutos antes da decolagem,
a aeronave estava em condições inadequadas e perigosas para
a operação aérea, porque se encontrava com cinco cilindros
do motor direito e dois cilindros do motor esquerdo fora da
compressão prevista. Tal testemunho denota uma filosofia e
preocupação com os aspectos preventivos da segurança de voo
muito aquém do desejado, tanto pelo proprietário da aeronave
quanto pelo piloto.
A hipótese mais provável da ocorrência é a falha do motor
direito.
Dessa forma, é possível que o piloto tenha tentado manter a
aeronave em voo nivelado, esquecendo a manutenção da
velocidade mínima de controle, quando a mesma entrou em
estol pela direita, lado do motor hipoteticamente em pane. A
falha em manter-se voando com velocidade necessária à
condução do voo monomotor, deu-se, provavelmente, pela
inexperiência do piloto no tipo de aeronave, canalização de
atenção para procedimentos de recuperação da potência do
motor ou até mesmo pela possibilidade de o motor esquerdo
não ter suportado o voo nas condições de monomotor, haja
vista que o mesmo tinha dois cilindros comprometidos por
baixa compressão, de acordo com o mecânico.
Mesmo desconsiderando-se os aspectos latentes que existiam
antes dos momentos antecedentes ao acidente, com relação à
habilitação vencida do piloto, sua reduzida experiência no
tipo de aeronave e os serviços de manutenção preventiva
executados de maneira inadequada, verifica-se que ainda
houve uma possibilidade real para o piloto evitar um dos
últimos elos da cadeia de eventos que culminou com a
ocorrência. Caso o piloto tivesse considerado o alerta dos
mecânicos que haviam reparado sua aeronave, com relação às
condições marginais de voo em que se encontrava, o acidente
poderia ter sido evitado.
CONCLUSÃO
Fator Operacional
(1). Deficiente Julgamento - Contribuiu
O piloto julgou inadequadamente as condições da aeronave
para a realização do voo. A aeronave estava em condições
marginais de operação, com relação aos seus motores.
(2). Indisciplina de Voo - Contribuiu
O piloto infringiu as regras e padrões estabelecidos pelos
órgãos reguladores, ao exercer função à bordo de aeronave
sem estar devidamente habilitado e utilizando equipamento em
condições inadequadas para o voo.
(3). Deficiente Manutenção- Contribuiu.
A aeronave estava em condições marginais de segurança para o
voo, com relação aos aspectos deficientes verificados pelos
mecânicos em ambos os motores.
(4). Deficiente Supervisão – Contribuiu
O proprietário da aeronave não realizou serviços adequados
de manutenção e permitiu que um piloto não habilitado
operasse seu equipamento.
(5). Outros - Deficiente Doutrina de Segurança de Voo -
Contribuiu
Tanto o proprietário da aeronave quanto o piloto
demonstraram descaso para com as normas de segurança de voo,
realizando voo em aeronave comprometida tecnicamente, mesmo
após alertados por pessoal qualificado.
(6). Pouca Experiência de Voo na Aeronave – Indeterminado
É possível que a ausência de experiência do piloto no tipo
de aeronave tenha contribuído para falhas nos procedimentos
de manutenção do voo após a perda de um dos motores.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
O SERAC-6 deverá realizar uma Vistoria de Segurança de Voo
Especial na Oficina Globo Aviação Ltda., visando verificar a
qualidade técnica e os procedimentos de manutenção adotados.
Os SERAC deverão divulgar o conteúdo deste Relatório Final
aos operadores de suas respectivas regiões, alertando-os
quanto aos aspectos operacionais verificados nesta
ocorrência.
Natureza do Voo: voo de transporte de pára-quedistas
Aeroporto de Partida: Pista da Fazenda Macuco,
Vassouras – RJ
Aeroporto de Destino: Aeródromo de Bossoroca - RS
HISTÓRICO
A aeronave decolou da pista da Fazenda Macuco às 16:15 P,
tendo a bordo o piloto e dois pára-quedistas, a fim de
realizar uma missão de salto livre.
Durante a subida, ao cruzar 2300 pés de altura, foi
percebida a presença de fumaça no motor, seguida de fogo
abaixo do painel de instrumentos.
O piloto colocou a aeronave em uma atitude de descida e
determinou que os pára-quedistas abandonassem a aeronave, o
que aconteceu próximo de 800 pés de altura.
Totalmente tomada pelo fogo, a aeronave veio a colidir com o
solo à distância de 1000 metros da pista da fazenda.
O piloto sofreu lesões fatais e um pára-quedista sofreu
queimaduras de 1º e 2º graus.
A aeronave sofreu perda total.
ANÁLISE
O piloto era experiente na atividade aérea. Era o presidente
do aeroclube e possuía mais de 7.000 horas de voo
registradas, no entanto, estava com os Certificados de
Habilitação Técnica e de Capacidade Física vencidos.
A aeronave estava parada há sete dias, aguardando serviço de
manutenção. O próprio piloto efetuou a troca de uma
mangueira do motor.
A análise dos dados colhidos durante a investigação mostrou
que a execução do serviço de manutenção, efetuado pelo
piloto da aeronave momentos antes do voo, aliado à
inadequabilidade da peça utilizada que, apesar de similar,
não era a prevista para a aeronave, permitiu que a mangueira
de óleo do motor ficasse encostada no tubo de escapamento do
cilindro número 4.
Durante a operação da aeronave, o calor gerado pelos gases
em combustão deformou a mangueira até rasgá-la, permitindo o
vazamento de óleo quente na parede de fogo e no “copinho“ de
combustível, vindo a derreter a gaxeta de borracha da tampa
do “copinho”, com imediato vazamento de gasolina sobre o
escapamento, gerando o fogo.
O fogo alastrou-se rapidamente por toda a lateral esquerda
da fuselagem e para o interior da cabine de comando, por
trás da parede de fogo. Os pára-quedistas que estavam a
bordo tentaram, em vão, antes de abandonar a aeronave,
convencer o piloto a saltar da mesma.
O piloto apresentava estado emocional abalado por problemas
econômicos, aliado à necessidade de efetuar aquele voo para
angariar mais fundos para o Aeroclube que dirigia, pode ter
gerado a pressa em efetuar o serviço ali mesmo no pátio de
estacionamento, eliminando, desta forma, o atraso que já
começava a se configurar.
O fato de a aeronave estar parada há sete dias, aguardando
serviço de manutenção pode, também, ter influenciado na
decisão do piloto em efetuar a troca da peça em questão e,
assim, dar continuidade à missão.
CONCLUSÃO
Fator Humano - Aspecto Psicológico - Contribuiu
Houve a participação de variáveis psicológicas a nível
organizacional e pessoal que acarretaram na tomada de
decisão errada, com o próprio piloto efetuando a manutenção
na aeronave, desconsiderando os riscos advindos deste
procedimento.
Fator Operacional
(1). Deficiente Supervisão - Contribuiu
O piloto, presidente do aeroclube, era o próprio agente
supervisor, responsável pelos serviços realizados. Ao negar
os serviços de uma equipe especializada de manutenção
demonstrou o desconhecimento das atividades de supervisão,
da qual era o responsável.
(2).Indisciplina de Voo – Contribuiu
A execução de manutenção da aeronave quando não habilitado;
a operação de uma aeronave quando não liberado pelo órgão de
saúde e com o Certificado de Habilitação Técnica vencido,
determinam a contribuição deste aspecto para o acidente.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os Serviços Regionais de Aviação Civil deverão divulgar o
conteúdo deste Relatório Final para todos os aeroclubes.
O Aeroclube de Nova Iguaçu deverá realizar atividades
educativas enfocando os fatores contribuintes na ocorrência
de acidentes aeronáuticos, principalmente o fator
operacional, e suas conseqüências.
Local do Acidente: Fazenda Matary, Santa Luzia, MA
Tipo de acidente: Perda de Controle no Solo
Fase de Operação: pouso
Natureza do Voo: voo de instrução
Aeroporto de Partida: Aeroporto de Recife (SBRF) – PE
Aeroporto de Destino: Pista da Fazenda Matary
(SNFW) – Santa Luzia – MA
HISTÓRICO
A aeronave decolou de Recife (SBRF) com destino à Fazenda
Matary (SNFW), com um pouso intermediário em Imperatriz (SBIZ)
para reabastecimento.
No trecho Imperatriz - Fazenda Matary, o instrutor voava no
assento da esquerda e informou ao aluno que iria realizar um
pouso com arremetida no solo, utilizando flape em 15º, a fim
de observar as condições da pista.
Durante o pouso, o instrutor decidiu prosseguir com uma
parada completa, contrariando a sua intenção inicial, sem
informar esta mudança de procedimento ao aluno. Este, ao
perceber a demora do instrutor em iniciar a arremetida, já
no último terço da pista, decidiu aplicar potência nas
turbinas. O instrutor tentou manter o pouso, reduzindo as
manetes. Sem condições de efetuar a parada total, a aeronave
ultrapassou os limites da pista, colidiu com obstáculos e
incendiou-se.
Houve perda total da aeronave e os tripulantes saíram
ilesos.
ANÁLISE
A aeronave realizou a aproximação com velocidade de 125kt,
segundo declarações do aluno, em função da posição do flape
em 15º. A velocidade para pouso normal estava cerca de 10kt
acima do previsto (116 kt).
O instrutor havia informado que realizaria toque e
arremetida. A aproximação final para o toque e arremetida
estava com velocidade cerca de 10 kt acima da prevista para
pouso normal, além de estar o flape na posição de
aproximação, 15º, o que não ocasionaria problema algum caso
fosse realizada a arremetida. No entanto, ao efetuar o toque
na pista, o instrutor, resolveu, intimamente, realizar o
pouso com parada total da aeronave. Nesse momento, nada foi
informado ao aluno, que aguardava uma reação do instrutor no
sentido de arremeter a aeronave, conforme o combinado.
O aluno, ao verificar a velocidade abaixo do normal para a
arremetida e o final da pista chegando, já no último terço,
tomou a atitude de interferir nos controles das manetes de
potência no sentido de aplicar potência nos motores com a
intenção de arremeter, temendo, provavelmente, a
possibilidade de ultrapassar os limites da pista. O
instrutor, por outro lado, julgou que seria melhor reduzir
as manetes de potência e tentar parar a aeronave, do que
tentar arremeter naquelas circunstâncias, e realizou o
procedimento de reduzir a potência. Como não havia condições
de parar a aeronave, a mesma ultrapassou os limites da
pista, vindo a incendiar-se após.
Verifica-se, portanto, que houve um erro de julgamento do
instrutor, proveniente de uma falta de planejamento adequado
para a parada da aeronave durante o pouso, que não estava
configurada adequadamente para pouso normal, e o deficiente
gerenciamento dos recursos da tripulação advindo de uma
falta de comunicação do que pretendia realizar, contrariando
o exposto à tripulação. O aluno, por sua vez, ao verificar a
velocidade baixa para a arremetida e o final da pista se
aproximando, questionou o instrutor, que nada respondeu, e
procedeu interferindo nos controles de potência da aeronave,
contrariando a intenção do instrutor e imprimindo ainda mais
velocidade à aeronave, procedendo de maneira oposta à
intenção do mesmo, que era de parar a aeronave.
Com relação ao aspecto psicológico, verificou-se que houve
uma atitude impulsiva seguida de escolha da decisão errada,
por parte do instrutor, que contrariou o previsto nas
instruções de toque e arremetida. Tal fato pode ter ocorrido
em função da sua autoconfiança, pois era possuidor de uma
larga experiência no tipo de aeronave, ao contrário do
aluno. Houve, também, um deficiente gerenciamento dos
recursos disponíveis da tripulação pelo instrutor.
CONCLUSÃO
Fator Humano - Aspecto Psicológico - Contribuiu
Houve excesso de confiança, aliada a uma atitude impulsiva,
por parte do instrutor, fazendo com que o mesmo estivesse
convicto de que conseguiria pousar sem problemas, mesmo
alterando o procedimento por ele já estabelecido e não
comunicando sua decisão ao aluno.
Fator Operacional
(1). Deficiente Planejamento - Contribuiu
O instrutor não planejou adequadamente o procedimento de
pouso que decidiu realizar, contrariando o exposto em
“briefing” anterior.
(2). Deficiente Julgamento - Contribuiu
Houve erro de julgamento do instrutor, decorrente da
inadequada avaliação de pouso normal com configuração de
flape em 15º e velocidade cerca de 10kt acima da prevista,
contrariando “briefing” anterior.
(3). Deficiente Coordenação de Cabine - Contribuiu
O instrutor não informou ao aluno a sua decisão de efetuar o
pouso completo, sem arremetida, bem como não respondeu à
solicitação de iniciar a arremetida. O aluno acelerou os
motores sem a autorização do instrutor.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os SERAC deverão divulgar o conteúdo deste Relatório Final
para todas as Empresas de Táxi Aéreo de suas respectivas
circunscrições, visando a elevar o nível de segurança de voo
da aviação executiva e geral brasileira por intermédio dos
ensinamentos colhidos desta investigação.
A Sociedade de Táxi Aéreo Weston Ltda. deverá realizar
atividades educativas no sentido de esclarecer e instruir
seu quadro de tripulantes da importância do cumprimento dos
procedimentos determinados em “briefing”, do correto
julgamento dos procedimentos e gerenciamento dos recursos da
tripulação, principalmente relativo à comunicação entre os
seus membros; e estudar a possibilidade de aprimorar seu
programa de instrução para a formação de pilotos, incluindo
aspectos de Gerenciamento de Recursos de Tripulação (CRM) e
aerodinâmica.
Aeroporto de Destino: Aeródromo de Monte Dourado –
Almeirim – PA
HISTÓRICO
A aeronave decolou de Santarém com destino a Monte Dourado.
Nas proximidades da cidade de Alenquer, o motor direito da
aeronave começou a apresentar falhas no seu funcionamento.
Diante disso, o piloto decidiu realizar um pouso de
precaução na pista da cidade de Alenquer. Após o toque da
aeronave no solo, a asa direita atingiu uma mulher que
transitava de bicicleta pelo aeródromo.
O tripulante saiu ileso, a aeronave sofreu danos graves na
asa direita e a pessoa que passava pela pista faleceu no
local.
ANÁLISE
Dois aspectos referentes ao fator operacional merecem ser
comentados: a pane da aeronave e a opção de pouso na pista
de Alenquer.
De acordo com o relato do piloto, ao ter o motor direito
apresentado um funcionamento intermitente, o mesmo adotou um
procedimento que veio a restabelecer a sua operação normal,
com o posicionamento da seletora de combustível do tanque
esquerdo para alimentar ambos os motores. A partir daí, a
sua atenção passou a ser direcionada para a verificação de
tal discrepância. A anormalidade ocorreu num ponto em que a
pista com infra-estrutura de apoio mais próxima seria
Santarém. Considerando as distâncias quase iguais dos campos
de pouso de Santarém e Alenquer para o ponto onde ocorreu a
pane, pode-se atestar que a opção de prosseguir para
Alenquer foi operacionalmente incorreta. Sob o ponto de
vista das condições de auxílios de solo, foi insegura, já
que o aeródromo encontrava-se interditado desde 24/06/91 e,
como o próprio piloto relatou, apresentava o trânsito de
pessoas próximas a pista.
Relatos obtidos de testemunhas, com referência à operação
eventual para pousos e decolagens de diversas aeronaves,
mesmo depois da pista de Alenquer ter sido interditada,
revelam outra hipótese que tenha levado o piloto a tomar tal
decisão: uma intencionalidade prévia de efetuar a rota
Santarém – Alenquer.
Apesar de a aeronave estar com os serviços de manutenção em
dia, é possível que tenha ocorrido alguma anormalidade no
funcionamento do motor direito. Tal hipótese, apesar do
relato do piloto, não pode ser comprovada, por falta de
pesquisas e exames nos componentes do avião. Como o piloto,
logo após o acidente, decolou com a aeronave, a hipótese de
falha do motor tornou-se menos provável e a de
intencionalidade do pouso mais plausível.
CONCLUSÃO
Fator Operacional
(1). Deficiente Julgamento - Contribuiu.
Pelo fato de o piloto ter decidido efetuar um pouso para a
verificação da aeronave, a qual se encontrava em condições
de voo, em localidade de difícil apoio técnico, cuja pista
fora interditada em 24/06/91, com uma opção de pouso em
Santarém, cuja distância para a aeronave era menor, com a
possibilidade de melhor auxílio de solo do que em Alenquer.
(2). Indisciplina de Voo - Indeterminado.
Com base nos relatos de várias testemunhas do local onde
ocorreu o acidente, no que tange à eventual operação de
aeronaves na pista de Alenquer, mesmo depois de sua
interdição, existe a possibilidade do piloto ter tido a
intenção prévia de efetuar a rota Santarém - Alenquer, com o
prejuízo da sua segurança, da integridade da aeronave e dos
habitantes da região, os quais, conforme sua própria versão,
encontravam-se próximos ao antigo campo de pouso.
(3). Deficiente Planejamento – Indeterminado.
Existe a possibilidade do piloto ter planejado o pouso em
Alenquer estando a pista interditada para a operação aérea.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os SERAC deverão divulgar este acidente para todos os
operadores da aviação geral, destacando os aspetos de
julgamento, planejamento e indisciplina de voo.
Local do Acidente: Serra da Cantareira, Guarulhos -
SP
Tipo de acidente: Colisão em Voo com Obstáculo
Fase de Operação: aproximação
Natureza do Voo: transporte particular de passageiros
Aeroporto de Partida: Aeroporto de Brasília – DF
Aeroporto de Destino: Aeroporto de Guarulhos (SBGR) –
SP
O ACIDENTE COM A BANDA MAMONAS ASSASSINAS
O voo foi realizado pelo Learjet 25D, prefixo PT-LSD, da
Madri Táxi Aéreo (foto acima), em diversas etapas, passando
por diferentes regiões do país.
O voo não alterou sua tripulação e passageiros em nenhum
momento da viagem, transportando, durante os quatro voos, as
seguintes pessoas:
Jorge Luiz Germano Martins, 30 anos de idade, piloto
experiente, possuía 2 500 horas de voo, sendo 220 horas
em aeronaves Learjet;
Alberto Yoshiumi Takeda, 24 anos de idade, copiloto,
possuía 330 horas de voo e era certificado para pilotar
neste tipo de aeronave, porém sem vasta experiência;
Alecsander "Dinho" Alves Leite, 24 anos de idade,
vocalista e compositor da banda Mamonas Assassinas;
Samuel "Samuel Reoli" Reis de Oliveira, 22 anos de
idade, baixista da banda;
Sérgio "Sérgio Reoli" Reis de Oliveira, 26 anos de
idade, baterista da banda;
Alberto "Bento" Hinoto, 25 anos de idade, guitarrista da
banda;
Júlio "Julio Rasec" César Barbosa, 28 anos de idade,
tecladista da banda;
Isaac "Shurelambers" Souto, 28 anos de idade, secretário
e assistente da banda;
Sérgio "Reco" Saturnino Porto, 29 anos de idade,
segurança da banda.
A empresa de táxi aéreo Madri Táxi Aéreo Ltda., que na
ocasião estava com seu registro aéreo ativo e operante,
tinha sede em Ribeirão Preto (SP), e estava há um ano no
mercado.
A aeronave estava com suas inspeções em dia, a sua inspeção
anual foi realizada pelas oficinas da empresa Líder Táxi
Aéreo e a última realizada nos último seis meses pela
empresa Transamérica Táxi Aéreo, ambas empresas regulares,
registradas e autorizadas para a realização deste tipo de
serviço.
A aeronave possuía como capacidade máxima de oito
passageiros e capacidade mínima para operação de dois
tripulantes, assim possuindo uma capacidade total de carga
humana de dez pessoas.
O voo foi inciado no dia 1 de março de 1996, e o acidente
ocorreu no dia seguinte, 2 de março. Durante esse período de
24 horas, foram realizadas estas viagens:
O primeiro voo foi realizado no dia 1 de março de 1996 entre
o Aeroporto Hugo Cantergiani em Caxias do Sul (RS), e o
Aeroporto Pedro Morganti em Piracicaba (SP). O voo
transcorreu sem problemas e a tripulação realizou um
descanso de uma noite.
O segundo voo foi realizado no dia 2 de março de 1996 às
07h10 entre o Aeroporto Pedro Morganti em Piracicaba (SP) e
o Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos em
Guarulhos (SP). O voo transcorreu sem problemas e a
tripulação dês de sua chegada já planejava o seu 3.° voo.
O terceiro voo foi realizado no dia 2 de março de 1996 às
15h00 entre o Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos
em Guarulhos (SP) e o Aeroporto Internacional Presidente
Juscelino Kubitschek em Brasília (DF). O voo transcorreu sem
problemas além de um breve atraso não detalhado em sua
decolagem.
O quarto voo foi realizado no dia 2 de março de 1996 às
21h58 entre o Aeroporto Internacional Presidente Juscelino
Kubitschek em Brasília (DF) e o Aeroporto Internacional de
São Paulo em Guarulhos (SP). O voo em questão nunca chegou
ao seu destino, ele acabou chocando-se com a Serra da
Cantareira antes de pousar em Guarulhos.
O acidente
O voo decolou do Aeroporto Internacional Presidente
Juscelino Kubitschek (BSB) em Brasília (DF) no dia 2 de
março de 1996 às 21h58 (BRT). Com os dois tripulantes e os
outros sete passageiros, totalmente abastecida e com algumas
bagagens pertencentes à banda que não possuíam peso
significativo para a alteração aerodinâmica da aeronave.
O voo transcorreu de forma tranquila durante grande parte do
tempo, a situação meteorológica era razoavelmente boa até a
aproximação com Guarulhos, onde o teto de voo era de 1 800
pés (548,64 metros) com dez km de visibilidade assim
complicando a aproximação da aeronave com a pista.
A região da Serra da Cantareira possui baixa densidade
demográfica (com poucas casas e consequentemente, com pouca
iluminação), dificultando assim uma aproximação noturna.
Com a aproximação complexa em Guarulhos, o voo começou a ser
orientado integralmente pela equipe de solo na torre de
comando do Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos
(GRU), conforme se pode ouvir abaixo.
Assim sendo ordenada para um procedimento chamado de
"Charlie 2" que é a realização do pouso da aeronave por
instrumentos quando considerada insegura a aproximação
visual do piloto. A aproximação por instrumentos é
considerada algo comum de ocorrer, principalmente em
situações onde o pouso por aproximação visual é inseguro.
Tanto o operador da torre de Guarulhos quanto o piloto Jorge
Luiz eram certificados pelo Departamento de Aviação Civil
para este tipo de operação.
Em um momento da operação o piloto Jorge Luiz pede
autorização ao operador para manter sua velocidade durante o
procedimento, o que é autorizado pelo controle da torre.
Este pedido inusitado do piloto, demonstra a pressa do
piloto para o pouso, por provavelmente estar fadigado.
Porém, a alta velocidade da aeronave ocasionou uma
desestabilização da aeronave no momento do pouso.
Percebendo a dificuldade do pouso e sua alta aceleração, o
piloto Jorge Luiz resolveu realizar uma manobra de
arremetida. As manobras de arremetida são convencionais na
aviação e na maioria dos aeroportos elas ocorrem para o lado
esquerdo da pista para evitar choques com outras aeronaves.
Porém, em Guarulhos, sua carta de aproximação determinava
que em caso de arremetida, o piloto deveria ir para o lado
direito da pista em sentido à Bonsucesso, assim evitando uma
volta à região de serra. Algo que não foi observado pelo
piloto que seguiu o procedimento padrão virando para a
esquerda.
Durante a arremetida, ocorreu um desencontro entre as
informações passadas pelo piloto e pelas informações
compreendidas pela torre de comando de Guarulhos, que acabou
aprovando a arremetida dele pelo lado esquerdo da pista.
Assim foi realizada uma curva à direita, mas o avião foi
para esquerda de Guarulhos em uma velocidade significativa.
Com a alta velocidade do avião, o raio da curva do avião foi
maior que o esperado, assim levando a aeronave de encontro
novamente com a Serra da Cantareira.
Assim o controle de voo regional localizado no Aeroporto de
São Paulo-Congonhas (CGH) percebeu pelo seu radar que a
aeronave não havia conseguido pousar em Guarulhos.
Preocupados com um eventual choque com outros dois aviões
comerciais que estavam em aproximação para Guarulhos,
solicitaram a transferência do controle do voo local de
Guarulhos para o controle de voo regional em Congonhas, algo
que foi prontamente realizado.
Assim o controlador do Aeroporto de Congonhas pede a
informação sobre as condições do voo, e o piloto Jorge Luiz
afirma que está apto para realizar uma reaproximação visual
da pista. Assim o piloto preparando-se para voltar ao
aeroporto é informado pelo controlador de Congonhas para
continuar em frente e aguardar o pouso das demais aeronaves
que iriam pousar em Guarulhos, assim acreditando que o
Learjet havia realizado a curva padrão de Guarulhos a
direita e estando assim em direção à Bonsucesso e não à
Serra da Cantareira.
Por estar muito baixo e mantendo sua rota em direção à Serra
da Cantareira, a aeronave às 23h16 horas acabou chocando-se
com um dos morros, a uma altitude de 3 300 pés (1 006
metros).
Logo após a informação do Learjet sumir do radar, o
controlador de Congonhas pediu atualizações sobre o status
da aeronave, algo que não foi atendido pelo Learjet que
acabava de se chocar com a Serra da Cantareira.
Logo após a observação do controlador de Congonhas de que
algo não estava correto, ele pediu para o voo Varig 854
tentar contato com o Learjet PT-LSD com a esperança de que
um erro na comunicação tenha ocorrido entre Congonhas e o
jato. Porém, após o piloto do VARIG 854 também não receber
nenhuma resposta, o operador de Congonhas informou a
situação de emergência para as autoridades locais.
O piloto do voo Varig 854 também informou ao operador que em sua
aproximação conseguiu observar uma nuvem de fumaça densa e
preta na Serra da Cantareira, algo que aumentou a
preocupação do controlador.
Horas após a colisão, as equipes de resgate dos bombeiros
conseguiram chegar ao local do acidente, um ponto de
complicado acesso na Serra da Cantareira, onde encontraram
todos os ocupantes da aeronave já mortos.
"Vi o avião passando baixinho, parecia que soltava fogo da
turbina. Depois ele parou na serra." A afirmação é do
desempregado José Reis, 28, que estava em um bar próximo à
pedreira da Cachoeira, onde fica a estrada que leva ao local
do acidente.
A operação de resgate começou à 0h de domingo. Cerca de 30
homens do COE (Comando de Operações Especiais da PM) e 20 do
Corpo de Bombeiros vasculharam a mata com lanternas. Quando
o dia clareou, às 5h45, chegou o primeiro helicóptero.
Integrantes do COE sobrevoaram a área e localizaram os
restos do avião.
O avião rasgou a mata. A 1.200 metros de altitude, por uma
extensão de 400 metros, era possível encontrar pedaços do
Learjet entre as árvores derrubadas, em meio a um forte
cheiro de querosene (combustível do avião). Formou-se uma
clareira no local onde a parte dianteira do Learjet foi
encontrada, após 20 minutos de caminhada pela serra.
Uma das asas ficou pendurada em uma árvore. Às 6h45 foi
encontrado o primeiro corpo. A maioria dos ocupantes do
Learjet ficou irreconhecível. Os bombeiros resgataram
membros dos corpos por um raio de cem metros na mata.
Marcos César Carbone, 34, tio de Dinho, reconheceu o corpo
do vocalista, último a ser localizado, pela única parte de
seu rosto que permaneceu ligada ao tronco, um pedaço do
maxilar. O vocalista perdeu um braço e uma perna.
Pedaços das roupas listradas usadas pelos Mamonas em shows
ficaram espalhadas pela mata. Uma bermuda quadriculada nas
cores laranja e branco estava a 50 metros do local onde foi
encontrado o primeiro corpo. Quatro mochilas dos integrantes
permaneceram intactas. Uma das jaquetas de couro com a
inscrição do grupo foi achada ao lado do painel do avião.
As partes resgatadas dos corpos eram embrulhadas em lonas. O
COE usou serras elétricas para derrubar árvores e permitir
que o helicóptero da PM pudesse carregar os cadáveres para
um platô da pedreira da Cachoeira. O primeiro foi içado às
9h30 e o último, às 10h45.
Cerca de cem pessoas se aglomeravam dentro da pedreira
durante o resgate. Do lado de fora, mais 200 pessoas
tentavam entrar.
Logo após a confirmação do acidente envolvendo a banda,
jornais de todo o país começaram a divulgar notícias sobre o
evento. As buscas entre os destroços foram fotografadas e
transmitidas pela televisão, bem como a localização e
remoção dos corpos ainda no local do acidente. Esta intensa
cobertura midiática acabou por dificultar a ocultação dos
cadáveres mutilados, que acabaram por ser divulgados por
algumas mídias.
Diversas emissoras de televisão mudaram suas grades de
programação para a divulgação das notícias sobre o acidente,
bem como para realização de homenagens aos artistas e o
acompanhamento de seu velório e cortejo fúnebre. Ainda antes
da realização de uma perícia oficial por parte do CENIPA,
algumas mídias começaram a especular as causas do acidente,
que teve sua investigação intensamente acompanhada pelos
meios de comunicação.
A cobertura midiática não ficou restrita ao território
brasileiro, jornais em Portugal também lamentaram a morte
dos artistas que iriam realizar uma turnê pelo país nos dias
seguintes à tragédia.
O velório dos membros da banda foi realizado no dia 4 de
março de 1996 no Ginásio Municipal Paschoal Thomeu na cidade
de Guarulhos, mesmo antes da chegada dos corpos ao ginásio,
já haviam aguardando no mesmo cerca de 30 mil pessoas. Ao
todo cerca de 65 mil pessoas participaram do velório dos
artistas no ginásio.
O cortejo fúnebre foi acompanhado presencialmente por mais
de 100 mil pessoas, na chegada ao cemitério Parque das
Primaveras, cerca de 500 pessoas entre amigos e familiares
participaram do sepultamento dos membros da banda.
Com a requisição familiar de manter a cerimônia de enterro
restrita, a Polícia Militar evitou a invasão de fans ao
cemitério, assim gerando um breve tumulto da multidão que
tentava acompanhar a cerimônia de perto, no local cerca de
31 pessoas desmaiaram.
Há uma lenda urbana que ronda o incidente sobre os membros
da banda terem supostamente tido uma premonição sobre o
acidente. Horas antes da decolagem do voo, um dos
integrantes, o tecladista Júlio Rasec, havia comentado com
seu barbeiro que havia tido um sonho estranho que o
tecladista relatou em um vídeo gravado por seu amigo:
"Não sei, essa noite eu sonhei com um negócio... Assim,
parecia que o avião caía. Não sei. Não sei o que quer dizer
isso."
Outra premonição foi realizada pelo vocalista da banda,
Dinho, que momentos antes de embarcar no avião fez uma piada
para os cinegrafistas que estavam acompanhando a banda,
simultaneamente com a brincadeira feita pelo Dinho para o
cinegrafista, um diálogo entre Júlio e Dinho chamam a
atenção, o diálogo é o seguinte:
Dinho: "Vai ser uma aventura, esse avião quase caiu na selva
amazônica, por que quebrou o radar, tenho uma boa e uma má
noticia para você que irá viajar com a gente camera-man. A
boa é que consertaram o radar, quebrou de novo."
Júlio: "Tu não é o Dinho, aquele do Mamonas Assassinas?"
Dinho: "Eu era."
Esta preocupação relatada
pelo Júlio demonstrava uma real apreensão sobre a piada do
amigo, mesmo Dinho sempre sendo considerado muito brincalhão
era complexo distinguir piadas da realidade no dia a dia da
banda.
A aeronave havia sido fretada com a finalidade de efetuar o
transporte de um grupo musical. No dia 01.03.96, transportou
esse grupo de Caxias do Sul para Piracicaba, aonde chegou às
15:45P. No dia 02.03.96, com a mesma tripulação e sete
passageiros, decolou de Piracicaba, às 07:10P, com destino a
Guarulhos, onde pousou às 07:36 P. A tripulação permaneceu
nas instalações do aeroporto, onde, às 11:02 P, apresentou
um plano de voo para Brasília, estimando a decolagem para as
15:00P. Após duas mensagens de atraso, decolaram às 16:41P.
O pouso em Brasília ocorreu às 17:52 P.
A decolagem de Brasília, de regresso a Guarulhos, ocorreu às
21:58P. O voo, no nível (FL) 410, transcorreu sem
anormalidades. Na descida, cruzando o FL 230, o PT-LSD
chamou o Controle São Paulo, de quem passou a receber
vetoração radar para a aproximação final do procedimento
Charlie 2, ILS da pista 09 R do Aeroporto de Guarulhos (SBGR).
A aeronave apresentou tendência de deriva à esquerda, o
que obrigou o Controle São Paulo (APP-SP) a determinar novas
proas para possibilitar a interceptação do localizador
(final do procedimento). A interceptação ocorreu no bloqueio
do marcador externo e fora dos parâmetros de uma aproximação
estabilizada. Sem estabilizar na aproximação final, a
aeronave prosseguiu até atingir um ponto desviado
lateralmente para a esquerda da pista, com velocidade de
205Kt e a 800 pés acima do terreno, quando arremeteu.
A arremetida foi executada em contato com a torre, tendo a
aeronave informado que estava em condições visuais e em
curva pela esquerda, para interceptar a perna do vento. A
torre orientou a aeronave para informar ingressando na perna
do vento no setor sul. A aeronave informou “setor norte”.
Na perna do vento, a aeronave confirmou à Torre estar em
condições visuais. Após algumas chamadas da Torre, a
aeronave respondeu e foi orientada a retornar ao contato com
o APP-SP para coordenação do seu tráfego com outros dois
tráfegos em aproximação IFR. O PT-LSD chamou o APP-SP, o
qual solicitou informar suas condições no setor. O PT-LSD
confirmou estar visual no setor e solicitou “perna base
alongando”, sendo então orientado a manter a perna do vento,
aguardando a passagem de outra aeronave em aproximação por
instrumento. No prolongamento da perna do vento, no setor
Norte, às 23:16P, o PT-LSD chocou-se com obstáculos a
3.300pés, no ponto de coordenadas 23º25’S/046º35’W. Em
conseqüência do impacto, a aeronave foi destruída e todos os
ocupantes faleceram no local.
ANÁLISE
O PT-LSD não estava equipado com um gravador de vozes de
cabine (Cockpit Voice Recorder - CVR), fato que dificultou o
conhecimento qualitativo do desenvolvimento das ações na
cabine, nos momentos finais do voo.
O co-piloto ainda não havia alcançado as marcas para ser
avaliado. Era, portanto, um co-piloto em formação no Lear
Jet (tipo), devendo voar somente com um instrutor. O Cmt não
detinha a habilitação de instrutor, por não lhe ter sido
proporcionado tal treinamento.
O Cmt, em conversa com outro Cmt em Guarulhos, às 10:00P do
dia 02 Mar. 96, comentou que estava cansado (“com areia nos
olhos”).
Considerando o início da jornada na saída do hotel (“checkout”
às 06:45P) e a decolagem de Piracicaba, às 07:10P, a
tripulação estava com mais de 16:30 horas de jornada na hora
do acidente.
O Cmt, além de piloto da aeronave, cuidava da parte de
apoio. Era preocupado com a manutenção e aparência da
aeronave, que procurava manter impecável. Era também
atencioso para com aos clientes, os quais procurava não
deixar faltar nada. Essas tarefas, acrescidas do desgaste
das esperas incertas e da operação da aeronave, são
suficientes para assegurar um alto grau de desgaste e
cansaço.
O voo em aeronaves com a performance do Lear Jet contêm uma
série de ingredientes causadores de estresse, devido à sua
elevada velocidade, ergonomia da cabine dificultando o voo
combinado por instrumentos e visual, e ainda piorado pela
falta de referências em voo à noite.
As falhas de planejamento e de operação verificadas durante
a vetoração apontam para a possibilidade de algum tipo de
desvio de atenção ou de redução de capacidade de desempenho
dos tripulantes na última fase do voo. A partir da não
estabilização na aproximação final, o incremento da
vigilância e da atenção para poder ler e interpretar, seguir
e monitorar os instrumentos de voo teve que ser dividido com
outros complicadores tais como:
- o estresse de uma manobra não corretamente planejada;
- o assessoramento de um co-piloto pouco experiente;
- uma fadiga de 17 horas sem repouso;
- dificuldades de visualização de pontos externos;
- a influência, na cabine, de clientes irrequietos,
irreverentes, porém importantes para a empresa, e
interferência do Controle de tráfego e de outras aeronaves
na manobra.
O estresse da longa jornada levou ao estado de fadiga física
que pode ter propiciado as falhas de procedimento
verificadas nesse acidente. Essas falhas apresentam elevado
índice de flutuação de atenção, distrações, retardamento nas
respostas ao Órgão de Controle, iniciativas erradas e
correções inadequadas.
Um ato que não pode ser descartado é que a trajetória da
aproximação final para a pista 09R passa acima e à direita
do local de residência de um dos membros do grupo que
estava a bordo, e que pode ter sido um dos motivos de desvio
da atenção dos pilotos, conforme já citado.
A não preparação da aeronave para o pouso quando a mesma
estava na perna do vento (condição de voo visual - VFR), não
encontra explicação outra que não a de confusão na cabine
decorrente do procedimento não planejado, associado à
velocidade da aeronave.
A trajetória da aeronave e a colisão com asas niveladas, em
pequeno ângulo de impacto, indicam que não houve
desorientação espacial, mas que os tripulantes não estavam
olhando para fora e para frente.
É provável que estivessem com sua atenção voltada para o
lado esquerdo, área iluminada onde se encontrava a pista
(atenção canalizada).
A partir da primeira chamada do PT-LSD para o APPSP,
verifica-se que o nível de alerta da tripulação esteve
sempre muito baixo, propiciando a seqüência de
acontecimentos que culminou com o acidente.
O voo transcorreu sem anormalidades até a autorização para
descer e manter 5.500 pés, às 23:03P. Nesse momento surge um
conflito de comunicação, onde os dois tripulantes veiculam a
mesma mensagem. A partir do FL110, o PT-LSD solicitou manter
a velocidade de 320kt, no que foi atendido. A vetoração
prosseguiu com correções à direita para compensar uma deriva
à esquerda. O ajuste do altímetro, que não havia sido
fornecido nem cobrado, foi informado juntamente com uma
advertência de manutenção de altura, a qual o PT-LSD havia
descuidado, descendo 600 pés da altitude autorizada.
A partir dessa advertência, o PT-LSD retornou para a altura
determinada, reduzindo sua velocidade de 250 para 205 Kt. A
partir desse ponto, a desaceleração da aeronave foi
insignificante, prejudicando a sua estabilização na
aproximação final no marcador externo. A tripulação não
interceptou o localizador e acabou arremetendo, por não ter
alcançado condições para configurar a aeronave e pousar.
Três hipóteses são mais prováveis:
- Distrações e desatenções relativas aos procedimentos na
cabine;
- Falha no cálculo de distância e velocidade para
desaceleração.
- Ação intencional.
A terceira hipótese configuraria indisciplina de voo,
difícil de ser aceita de um piloto, nesse nível.
As duas primeiras implicariam em falhas na realização de
procedimentos, deficiente coordenação de cabine e até a
possibilidade de redução de performance de um dos pilotos
devido à fadiga física pela extensa jornada ou por
interferências outras como, por exemplo, a presença e ou
conversa com um dos passageiros, algum outro tipo de
dificuldade a bordo, etc.
Na cabine de comando de uma aeronave de alta performance o
correto desempenho dos tripulantes em cada posto é crucial
face à velocidade e à complexidade das tarefas que devem,
coordenadamente, executar. A demora de um deve ser percebida
pelo outro e vice-versa, de modo que a manobra alcance seu
fim dentro de estreitos limites de tolerância. Um piloto
pouco experiente, uma aproximação muito veloz,
interferências de passageiros ou alguma anormalidade em
presença de fadiga física, seguramente constituem os
ingredientes que poderiam explicar a falha em estabilizar a
aeronave para o pouso.
A arremetida foi uma decisão acertada, que resolvia todas as
dificuldades, até então, encontradas. É uma prerrogativa do
Cmt e é um procedimento alternativo normal. Nesse caso,
operando IFR, deveria ter sido a arremetida realizada em
frente e de acordo com as instruções da carta de aproximação
Charlie 2.
O primeiro contato do PT-LSD com a Torre foi o comunicado da
arremetida:
- “Sierra Delta arremetendo, senhor”.
O controlador da torre solicitou a confirmação do tráfego. O
PT-LSD repetiu a mensagem de que estava arremetendo.
Uma vez que a aeronave se encontrava sob regras de voo por
instrumento, a torre informou estar ciente da arremetida e
que o PT-LSD chamasse o APPSP em 119.8.
Em resposta, o PT-LSD respondeu: - “Afirmativo, não há
possibilidade, estamos em condições visuais, curva à
esquerda e interceptar a do vento?”
Com essa solicitação, o Cmt estava propondo cancelamento do
plano de voo por instrumento para voar visual no tráfego do
Aeroporto de Guarulhos.
Analisando o teor da resposta do Cmt, verificamos que o
mesmo iniciou a transmissão concordando com as instruções: -
“Afirmativo”..., mas prosseguiu com uma solicitação: “- há
possibilidade,...”, continuou com uma informação: - “estamos
em condições visuais;”, e terminou completando a
solicitação: - “curva à esquerda e interceptar a do vento”.
Não disse qual a perna do vento, se do setor sul ou norte.
Para o controlador, só havia uma perna do vento, conforme a
carta do aeródromo, para o tráfego de aviões, que era no
setor sul.
Não havia tráfego conhecido na área de responsabilidade da
torre. O controlador respondeu: - “Afirmativo. Prossiga
então para o setor sul, acuse ingressando na perna do vento,
Léo, Lima Sierra Delta”.
Com essa autorização de ingressar no tráfego visual do
aeroporto de Guarulhos , o PT-LSD estava deixando de voar
sob regras de voo por instrumentos (IFR).
Em resposta às instruções da torre – Guarulhos (TWR –GR), o
Cmt transmitiu: - “Afirmativo, setor norte, senhor.”
No momento da mensagem para o órgão de controle (torre), o
PT-LSD já curvava à esquerda, fazendo com que a TWR-GR
entendesse que pretendia realizar uma curva no setor norte
para posteriormente, ingressar na perna do vento, ou seja,
no setor sul;
O circuito de tráfego visual em SBGR é definido pela carta
de Aproximação Visual específica para aquele aeroporto, na
qual é definido o circuito pelo setor sul;
A citada carta define os obstáculos de maior altitude. No
setor sul, dentro da Zona de Tráfego de Aeródromo - ATZ,
define 2733 pés, e no setor norte, ainda dentro da ATZ, 3019
pés. Não oferece informações dos obstáculos fora da ATZ, na
trajetória cumprida pela aeronave após a arremetida, em
virtude das dimensões propostas nesta carta cobrirem uma
área maior que aquela prevista para uma ATZ.
No caso de arremetida visual para a pista em uso, após o
procedimento de descida por instrumento, a carta orienta
prosseguir em frente para ingressar no circuito, com curva
para a perna do vento, que seria, neste caso, para a
direita, portanto, diferente do tráfego padrão em outros
aeródromos.
Como pode ser verificado, as instruções do Cmt de prosseguir
para a perna do vento no setor Norte não haviam sido por ele
claramente explicitadas na solicitação (Falha de
Comunicação), e o controlador não havia recebido a mensagem
como pensou lhe estar sendo dirigida.
A falha não apresentava maiores implicações, nem perigo
iminente, sendo relegada a segundo plano, tendo em vista a
importância maior em controlar este e outros tráfegos. Nesse
casos, os esclarecimentos são feitos após o pouso.
Entretanto, no caso em questão, revelou-se um evento
significativo para o acidente.
A arremetida foi realizada com velocidade bem acima do
normal. Em conseqüência, o raio de curva maior colocou a
aeronave mais afastada que o normal na perna do vento ( mais
perto da serra). Essa velocidade maior (205 Kt) provocou um
deslocamento quase 50% mais veloz que o previsto, afastando
a aeronave da área de controle da Torre.
O estresse da arremetida, agravado por ser diferente do
procedimento de arremetida IFR estabelecido; a transição do
voo IFR para o voo VFR; as novas tarefas a serem realizadas
em curto espaço de tempo, possivelmente agravadas pela
presença de clientes irrequietos, curiosos, irreverentes,
porém importantes para a empresa, redundaram numa somatória
de fatores, que tumultuaram a concentração dos tripulantes.
A partir desse ponto, os procedimentos normais
imprescindíveis para o pouso não foram realizados.
Na perna do vento, a velocidade não foi reduzida para que a
aeronave fosse configurada para o pouso. Tudo indica que a
aeronave estava sendo voada manualmente sem a assistência do
piloto automático. Sua estabilidade estava nas mãos de uma
piloto cansado, estressado e não suficientemente
assessorado.
A distração com os pontos no terreno (visível e iluminado, à
esquerda e atrás; e invisível - tipo buraco negro - à frente
e à direita da aeronave), somada com o monitoramento dos
instrumentos de controle, e ainda, acrescida da falta de
horizonte natural (externo), levaram o piloto a iniciar uma
perda sutil de altura.
O APPSP percebeu no radar que o PT-LSD ainda estava voando e
questionou a Torre Guarulhos quanto à situação e velocidade
do mesmo. Recebeu desta a informação de que o PT-LSD estava
se dirigindo para o circuito de tráfego.
Apesar da responsabilidade do piloto sobre a manutenção de
seu voo em condições visuais, a torre interrogou:
- TWR - “Lima Sierra Delta, confirme condições de voo?”
- PT-LSD - “Visuais”.
A Torre então instruiu:
- TWR - “Acuse, então, perna do vento da pista zero nove,
câmbio!!”
- PT-LSD - “Ciente”.
O período de tempo decorrido entre a última chamada do
PT-LSD, que já curvava à esquerda e o presente contato, foi
de trinta e dois segundos.
As condições a serem cumpridas para o voo visual são as
seguintes:
- Manter-se em condições de visibilidade igual ou superior a
cinco quilômetros;
- Permanecer, no mínimo, a mil e quinhentos metros
horizontalmente e trezentos metros verticalmente das nuvens
ou qualquer formação meteorológica;
- Manter referência com o solo ou água, de modo que as
formações meteorológicas abaixo do nível de voo não obstruam
mais da metade da área de visão do piloto;
- Voar abaixo do nível de voo 150 (FL 150); e
- Voar com velocidade inferior a 250 KIAS.
O tráfego do PT-LSD preocupava o APPSP, tendo em vista a
possibilidade de vir a interferir com uma aeronave da VASP
que ele, APP, vetorava para a final do procedimento Charlie
2 e, por ser um tráfego IFR, tinha prioridade sobre o
tráfego visual (VFR) do PT-LSD.
A velocidade do PT-LSD aliada à sua demora em acusar as
posições críticas no tráfego visual, inicialmente perna do
vento, afastou aquele tráfego, apresentando probabilidade de
interferir no tráfego IFR sob vetoração do APP-SP. A Torre
Guarulhos chamou a aeronave duas vezes para ser atendida. O
PT-LSD respondeu interrogando: “ - Confirme senhor, estou
para girar base?”.
Pelo exposto, o PT-LSD considerava estar na perna do vento
de SBGR.
Sua mensagem transmitida: “Afirmativo, setor Norte senhor”,
define a intenção do PT-LSD em realizar o circuito de
tráfego pelo setor Norte e não como a interpretação da
TWR-GR, ou seja, de que o deslocamento para o setor Norte
seria uma forma de ingressar na perna do vento de SBGR.
Por outro lado, o PT-LSD deixou de acusar as posições no
tráfego e parecia estar “aguardando” instruções como se
estivesse em voo por instrumentos.
A transferência de controle foi informada ao PT-LSD com as
instruções:
- “Chame da presente posição o Controle São Paulo cento e
dezenove decimal oito. Temos duas aeronaves em aproximação.
Chame aquele Controle paraaa...o encaixe na aproximação,
pouso zero nove.”
O PT-LSD chamou o controle São Paulo, que interrogou suas
condições de voo.
Em resposta o PT-LSD acusou visual no setor, na perna base
alongando.
A condição informada, de alongar a perna base, não
corresponde à trajetória verificada na apresentação radar.
Nesta, a aeronave parecia estar em uma trajetória
aproximadamente paralela ao prolongamento da pista de SBGR,
ligeiramente convergente.
O controle passa as seguintes orientações ao PT-LSD:
- “Okay, mantenha a perna do vento, okay? Mantenha a perna
do vento que eu tenho um tráfego que está à sua esquerda, na
posição dez horas, agora. Em aproximação por instrumentos.”
O PT-LSD informa estar ciente, cotejando afirmativo.
Enquanto permaneceu na perna do vento, o PT-LSD desceu de
4.400 para 3.100 pés. O ALTITUDE ALERT, equipamento de
alerta de altitude estava selecionado para 4.000 pés. Se foi
selecionado é porque os tripulantes acreditavam que estava
funcionando e sabiam da altura a ser mantida no tráfego. Por
qual motivo não reagiram adequadamente ao sinal de alerta,
não pode ser verificado. Essa falha pode ser imputada a uma
falha do equipamento, ou a algum desvio de atenção (mais
provável) por parte dos tripulantes.
A aeronave não posuía um equipamento de aviso de proximidade
com o solo (Ground Proximit Warning System - GPWS) que
alertaria os tripulantes com muito maior acuracidade e
precisão de sua proximidade com o solo. A operacionalidade
para uso desse equipamento pressupõe um treinamento
específico em simulador. Por outro lado, esse recurso também
não é exigido no RBHA 135 para esse tipo de aeronave.
As condições meteorológicas na área do aeródromo não
impediam a realização de um tráfego visual. O Cmt considerou
mais adequado cancelar o procedimento IFR previsto, passando
a operar visual noturno no tráfego.
A decisão de curvar a esquerda, apesar de não recomendada,
não era proibida. Esse setor possui topografia mais
acidentada e por isso maior influência de ventos e maior
ocorrência de nebulosidade. Esse setor é destinado ao
tráfego visual de helicópteros.
A seqüência dos fatos, acrescida pelos fatores presentes já
citados, e agravada pela falta de horizonte externo foram
fechando a armadilha em que rapidamente a aeronave se
envolveu.
CONCLUSÃO:
Fator Humano
(1). Aspecto Fisiológico - Contribuiu
As falhas verificadas no desempenho dos tripulantes
evidenciaram cansaço resultante da longa jornada, de 16:30
h, sem repouso, levando-os a um comportamento típico de
fadiga física.
(2). Aspecto Psicológico - Contribuiu
O temperamento persistente do Cmt, a preservação da sua
auto-imagem e a carência de potencial nos revelaram uma
personalidade ansiosa e rígida. As atitudes e excesso de
autoconfiança e necessidade de afirmação, indevidamente
irracionalizadas, prejudicam o desempenho, principalmente em
situações não rotineiras e que envolvem risco; no caso, com
o aumento de tensão e configuração de um estresse
situacional. A dinâmica afetiva estava presente,
principalmente, pelo papel social que o Cmt sempre procurou
exercer de chefe de equipamento, de excelente piloto, de
administrador e de preposto da operadora.
O co-piloto exibia um controle racional adequado e
comportamento retraído. Diante do nível operacional exibido
pelo Cmt, deixou de assessorá-lo adequadamente e corrigi-lo,
como elemento de segurança da tripulação.
A fadiga física agravou os níveis de estresse situacional e
motivou as falhas verificadas.
Fator Operacional
(1). Deficiente Instrução - Contribuiu
Durante as fases de instrução e treinamento do Cmt e do
co-piloto, houve lacunas que contribuíram para o baixo nível
de desempenho encontrado nos momentos críticos do voo. Tais
deficiências podem ser conseqüências da inexistência de um
Programa de Treinamento aprovado pelo DAC.
(2). Pouca experiência de Voo na Aeronave - Contribuiu
A pouca experiência de voo do co-piloto contribuiu, através
de um deficiente assessoramento e de sua inadequada
fraseologia.
(3). Deficiente Supervisão - Contribuiu
Caracterizada pela ausência de uma supervisão mais próxima,
visando assegurar aos tripulantes as condições e parâmetros
preconizados pela legislação vigente, principalmente, no que
diz respeito à Lei do Aeronauta (Lei 7.183/84), assim como à
não existência de pessoal credenciado no trato dos assuntos
afetos à Segurança de Voo, à inexistência de um Programa de
Treinamento com previsto no RBHA 135 e da inadequada
composição da tripulação.
(4). Deficiente Coordenação de Cabine - Contribuiu
A não configuração da aeronave para as fases de aproximação
e de pouso; as atitudes tomadas pela tripulação, com acúmulo
de tarefas e pequenos deslizes, relegando tarefas essenciais
a um plano secundário; denotam que a coordenação de cabine
não estava à altura das exigências de desempenho de voo.
(6). Influência do Meio Ambiente - Contribuiu
A região sobrevoada pela aeronave apresentava circunstâncias
ambientais limitadoras de visibilidade, porquanto trata-se
de área de baixa densidade demográfica, quase sem
iluminação, em uma noite escura e com cobertura de nuvens.
A probabilidade da presença de um dos passageiros, entre os
pilotos, na cabine, poderia ter causado uma interferência,
que, de certo modo, poderia provocar o crescente número de
falhas e discrepâncias observadas, tais como a não
estabilização na final do procedimento de descida, os
retardos nas respostas às comunicações do APP SP e,
inclusive, a arremetida no ar.
(7). Deficiente Planejamento - Contribuiu
Ditado por uma falha de preparação para realizar a
aproximação e pouso, bem como para uma possível arremetida.
A aproximação perdida é indício de insuficiente planejamento
de descida; as falhas observadas após a arremetida são
indícios de falta de planejamento para essa fase em voo
visual.
Também está presente, embora não contribuinte, nas viagens
que antecederam ao voo do acidente. As missões sempre
findavam por serem realizadas diferentemente da forma que
eram planejadas.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
A Madri Táxi Aéreo e demais empresas congêneres deverão:
1) realizar o planejamento de seus voos considerando as
limitações físicas de suas tripulações, sob a ótica da Lei
7.183/84, a qual regula a profissão dos aeronautas, assim
como pelo que preceitua o Regulamento Brasileiro de
Homologação Aeronáutica (RBHA), além da aplicação de uma
correta higiene do trabalho;
2) elaborar e implantar um Programa de Treinamento,
atendendo os requisitos previstos no RBHA 135, destinado a
assegurar a seus tripulantes um alto nível de
operacionalidade e segurança de voo;
3) elaborar e aplicar um Programa de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos, conforme previsto na NSMA 3-3, Cap 3, item
3.3.6;
4) criar em sua estrutura organizacional, um setor
destinado, exclusivamente, aos tratos dos assuntos de
Segurança de Voo, conforme preconizado na Norma de Sistema
do Ministério da Aeronáutica 3-2 (NSMA 3-2), em seus itens
2.1.8 e 3.4;
5) incluir, em seu quadro de funcionários, profissional
credenciado do CENIPA, tais como Agentes de Segurança de Voo
ou, no mínimo, um Elemento Credenciado, conforme RBHA
(135.43);
6) considerar o fiel cumprimento dos RBHA, quando da
composição de suas tripulações, atentando para as restrições
técnicas e operacionais da mesma, visando obter efetiva
Segurança de Voo, assim como uma plena operacionalidade em
suas atividades aéreas;
7) providenciar para que seus tripulantes não se desviem do
fiel cumprimento do que preceitua a Instrução do Ministério
da Aeronáutica 100-12 (IMA 100-12) – Regras do Ar e Serviços
de Tráfego Aéreo, de forma a zelar pela efetiva observância
das autorizações de tráfego aéreo, empregando a fraseologia
padrão, a qual prevê clareza, concisão e objetividade, de
forma a atingir a interação eficaz com os órgãos de controle
de tráfego aéreo;
8) assegurar a obrigatoriedade da realização dos brifins aos
seus passageiros, orientando-os para os riscos de suas
interferências na operação dos tripulantes, especialmente
nas fases críticas do voo, além daquelas previstas no RBHA
(135.117);
9) determinar que as suas tripulações assegurem-se de que,
antes da decolagem, todos os passageiros sejam instruídos
sobre os procedimentos de emergência, uso dos cintos de
segurança, entre outras previstas no RBHA 135 (135.117);
10) cumprir o estabelecido no nº (3), da letra “(a)”, do
item 135.242, da Subparte “E”, do RBHA 135, firmando
contrato de trabalho entre operador e tripulantes, conforme
a legislação trabalhista vigente.
O Quarto Serviço Regional de Aviação Civil deverá realizar
visita técnica e de Segurança de Voo à empresa Madri Táxi
Aéreo.
A Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Voo deverá revisar a
fraseologia padrão, elaborando um manual, em português e
inglês, visando garantir um referencial mais abrangente para
a comunicação entre as aeronaves e órgãos de tráfego aéreo.
O Departamento de Aviação Civil deverá:
1) estudar a adoção de mecanismos comprobatórios do
cumprimento da Lei 7.183/84, por parte dos operadores, no
que tange ao repouso necessário da tripulação, quando a
jornada de trabalho sofrer uma parada intermediária superior
a quatro horas, tendo em vista a dificuldade para se
comprovar o cumprimento do citado preceito;
2) juntamente com o Centro de Investigação e Prevenção de
Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), realizar estudo visando
ampliar quantitativamente a formação do pessoal técnico
especializado em Segurança de Voo;
3) reavaliar o RBHA 135, buscando a viabilidade de: ampliar
a abrangência dos itens 135.151 e 135.152, Gravador de Voz
na Cabine e Gravadores de Dados de Voo, respectivamente, de
forma que as atuais exigências passem a abranger também as
aeronaves monomotoras e multimotoras, equipadas com motores
turbo-hélice ou reatores, que operem comercialmente na
configuração para seis passageiros ou mais; antecipar a
exigência para a obrigatoriedade de instalação de Gravador
de Voz na Cabine, a qual está prevista para a partir de 31
Dez 98; ampliar a abrangência do item 135.153, Sistema de
Alarme de Proximidade do Solo, para que seja estendido, de
forma que a atual exigência deste equipamento passe a
abranger também as aeronaves monomotoras e multimotoras,
equipadas com motores turbo-hélice ou reatores, que operem
comercialmente na configuração para seis passageiros ou
mais; e incluir no Programa de Treinamento a obrigatoriedade
do conhecimento dos conceitos de Gerenciamento de Recursos
de Cabine de Comando (Cockpit Resource Management – CRM),
para as tripulações operando aeronaves segundo este RBHA.
4) incluir a presente investigação nos trabalhos de pesquisa
relativos à adequação da lei 7.183, que regula a profissão
dos aeronautas, em curso naquele Departamento, com vistas a
corrigir desvios nas escalas de voo de tripulantes.
Os Mamonas Assassinas
Mamonas Assassinas, também conhecida como Mamonas,foi uma
banda brasileira de rock formada em Guarulhos em 1995,
originada da banda Utopia. Notabilizaram-se por suas
composições que conciliavam pop rock com gêneros musicais
populares, tais como sertanejo, heavy metal, pagode
romântico, vira e forró, e também por suas apresentações
irreverentes e excêntricas. Tais fatores tornaram o grupo um
notável expoente do rock cômico, gênero antagônico ao rock
alternativo que seus integrantes vinham aplicando no
repertório da banda Utopia.
A banda esteve em atividade durante poucos meses, pois, em
1996, devido a um acidente aéreo de comoção nacional, todos
os membros da banda, que eram Dinho (vocal), Júlio Rasec
(teclado, percussão e vocais), Bento Hinoto (guitarra),
Samuel Reoli (baixo) e Sérgio Reoli (bateria), morreram
quando a aeronave na qual voavam com destino a Guarulhos se
chocou contra a Serra da Cantareira.
Em seus pouco mais de 8 meses de trajetória, eles gravaram
um único álbum de estúdio, 'Mamonas Assassinas', lançado em
junho de 1995 e que vendeu mais de 3 milhões de cópias no
Brasil, feito que lhes rendeu um certificado de disco de
diamante comprovado pela Associação Brasileira dos
Produtores de Discos (ABPD). Duas músicas desse disco,
"Vira-Vira" e "Pelados em Santos", foram incluídas entre as
10 canções mais ouvidas do país no ano de 1995. Além disso,
foram lançados de forma póstuma, reunindo tanto materiais
inéditos quanto gravações antigas, álbuns como: 'Atenção,
Creuzebek: a Baixaria Continua!' (1998), 'Ao Vivo em
Valinhos' (2002), 'Mamonas Ao Vivo' (2006), 'One: 16 Hits'
(2009) e 'Pelados em Santos' (2011).
A banda foi uma das pioneiras do gênero de rock cômico no
Brasil, e continua sendo celebrada e influenciando o cenário
nacional da música mesmo muito tempo após seu
fim.Atualmente, o seu único disco lançado prevalece como um
dos 10 álbuns mais vendidos do Brasil em todos os tempos.
Durante a corrida de decolagem para um voo de pulverização a
aeronave apresentou perda de potência no motor.
O piloto prosseguiu no voo.
Sem potência a aeronave não ganhou altura, colidiu com um
poste e projetou-se ao solo.
O piloto sofreu lesões leves e a aeronave teve danos graves.
ANÁLISE
O piloto percebeu perda a de potência do motor da aeronave
durante a corrida de decolagem, momentos antes de rodá-la,
quando já havia levantado a cauda da aeronave.
O piloto optou por prosseguir na decolagem, mesmo com o mau
funcionamento do motor, e também, porque não havia uma área
segura de escape após a cabeceira oposta.
Na investigação do acidente foi constatado que no momento da
emergência, levando-se em consideração o comprimento da
pista e a performance da aeronave, o piloto poderia ter
abortado a decolagem com segurança.
Ficou claro também, que o piloto não considerou as condições
críticas do aeródromo para a operação da aeronave, com
relação ao peso e potência, e ainda, para o caso de uma
emergência durante a corrida de decolagem.
Ao perceber que não conseguiria ganhar altura, tentou alijar
a carga, sem sucesso, pois a alavanca de alijamento
encontrava-se travada pelo cursor sólido.
O piloto alegou que antes do voo havia realizado todos os
cheques de pré-voo, não tendo verificado a alavanca de
alijamento de carga, por não ser previsto no check-list da
aeronave, o que foi comprovado pela comissão de
investigação.
O mau funcionamento do motor provavelmente deveu-se à
presença de água no combustível. Os indícios dessa
contaminação foram verificados nas análises do combustível
encontrada no carburador da aeronave.
O transporte e o armazenamento de combustível para o
abastecimento das aeronaves da empresa não eram adequados,
favorecendo o acúmulo de água.
Outro aspecto que pode ter contribuído para a falha do motor
foi o mau funcionamento do sistema de suprimento de
combustível da aeronave.
Foi observado, durante a investigação, que não havia sido
realizada a troca da bóia do carburador por uma bóia
metálica, conforme previa o Boletim Mandatório Nº 495 A de
02 Out 92.
A oficina da aeronave lançou na FIAM que teria cumprido o
Boletim Mandatório, o que, na realidade, não ocorreu.
CONCLUSÃO
Fator Operacional
(1). Deficiente Manutenção - Presente, mas de contribuição
indeterminada.
A oficina não cumpriu o Boletim Mandatório 495A, de 02 de
outubro de 1992.
(2). Deficiente Julgamento - Contribuiu
Houve deficiente julgamento por parte do piloto, ao decidir
prosseguir na decolagem com a aeronave em pane, tendo pista
suficiente para pará-la.
(3). Deficiente Planejamento - Presente, mas de contribuição
indeterminada.
Ao decidir-se pela operação naquela pista, o piloto não
previu uma situação de emergência na corrida de decolagem,
considerando o comprimento da pista, o peso e a potência da
aeronave e as áreas de escape.
(4). Deficiente Pessoal de Apoio - Indeterminado.
A presença de água no carburador pode ser indício de água no
combustível abastecido e por conseguinte, deficiência do
pessoal de apoio de abastecimento.
(5). Deficiente Supervisão - Presente, mas de contribuição
indeterminada.
Não houve supervisão adequada por parte do encarregado de
manutenção da oficina, visto que a aeronave encontrava-se
voando com uma bóia diferente da que previa o Boletim
Mandatório. Esse fato pode ter contribuído para a perda de
potência do motor. A presença de água no combustível da
aeronave pode ser devido a uma supervisão inadequada.
(6). Outros Aspectos Operacionais
Deficiência nos procedimentos do check-list - Contribuiu
O check-list da aeronave não prevê uma verificação do
funcionamento da alavanca de alijamento, antes da realização
do voo.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
A Aero Agrícola Caiçara deverá efetuar um controle
eficiente, através de inspetores/mecânicos de sua oficina de
manutenção, visando a efetivar o cumprimento de todas as
ações especificadas em boletins mandatórios; realizar teste
de verificação de existência de água no combustível, em
todos os abastecimentos que forem realizados em suas
aeronaves. O “Kit” para verificação de contaminação por água
é, obrigatoriamente, fornecido pelo abastecedor; efetuar um
controle adequado em todo o processo de transferência e
estoque de combustível aeronáutico; orientar seus
tripulantes para as vantagens que uma atitude conservativa
de correto planejamento de qualquer voo, trazendo para a
operação economia de meios, tempo e produtividade; estudar
os procedimentos de emergência possíveis de ocorrer com suas
aeronaves verificando se os itens previstos podem ser
executados correta e tempestivamente.
O CTA/IFI deverá efetuar estudo e, caso aprovado, determinar
incluir no check-list das aeronaves Piper PA-25 a
verificação do funcionamento da alavanca de alijamento,
antes do voo, por ocasião da validação do Certificado de
Homologação.
Os SERAC deverão emitir DIVOP ou divulgar este relatório a
todos os operadores de aeronaves PA-25.
Aeroporto de Partida: Aeroporto de São José dos
Campos (SBSJ) – SP
Aeroporto de Destino: Aeroporto de São José dos
Campos (SBSJ) – SP
HISTÓRICO
A aeronave decolou de SBSJ para voo de observação
meteorológica na área de ensaio (voo local). Ao regressar,
cruzando o nível 200 e a 25 NM do VOR SJC, a potência do
motor reduziu-se para marcha lenta e a manete ficou
inoperante.
Ao atingir condições visuais, o piloto verificou que não
alcançaria a pista 15 de SBSJ, optando por realizar um
“pouso forçado”.
O pouso foi realizado em região plana e alagadiça.
O piloto saiu ileso e a aeronave sofreu danos graves.
ANÁLISE
A aeronave foi guarnecida sem ser reabastecida, tendo
decolado nessa condição para um voo local de observação
meteorológica da área de ensaio.
A luz de “Baixo Nível” acendeu já no regresso, porém o
combustível remanescente era suficiente para o pouso seguro
em SBSJ. Logo após, o motor perdeu potência, tendo seus
parâmetros se estabilizado (Ng = 50%, Np = 55% e torque =
0%), deixando de corresponder aos movimentos da manete.
Foi constatado que houve ruptura do tubo de P3 no limite da
área de junção com a base de fixação, devido à corrosão,
tendo este fato já ocorrido em diversos casos anteriormente
investigados.
A fratura do tubo de P3 causa a perda da pressão de
referência para a unidade de controle de combustível que,
por sua vez, leva o fluxo de combustível para mínimo, não
sustentando a rotação normal da hélice.
O retorno para SBSJ foi continuado em IMC. Ao atingir
condições visuais, o piloto verificou que não alcançaria a
pista. O piloto cortou o motor e estabeleceu um regime de
planeio máximo. Em dúvida de que a aeronave não cairia sobre
área habitada, optou, então, pelo pouso forçado em um
terreno alagado. Já sem energia para o desvio a aeronave
chocou-se com uma árvore e pousou suavemente.
CONCLUSÃO
Fator Material
(1). Deficiência do Projeto – Contribuiu
O processo de geração de pite de corrosão e de propagação da
fratura são diretamente ligados à composição e às
características mecânicas do material do tubo de P3.
O projeto prevê a necessidade de soldas por brasagem das
partes constituintes do tubo, sendo, posteriormente,
realizada a limpeza com um elemento químico que contém cloro
na sua constituição, que penetra na porosidade da junção e
inicia o processo de corrosão.
(2). Deficiência de Fabricação - Contribuiu
Os materiais utilizados para a liga e a limpeza do processo
de brasagem apresentam-se como fatores iniciais da fratura
do tubo.
(3). Deficiência de Manuseio do Material - Indeterminado
Através da análise do processo de fratura, pode-se prever a
ocorrência de tensões iniciais de montagem e/ou esforços
resultantes da flexão do tubo de P3 devido à soltura de um
só lado do mesmo, para acesso a outros equipamentos
localizados sob o tubo.
A falha do motor ocorreu no FL 200 a 25 NM de SBSJ. O fato
de o piloto ter realizado grande parte da descida em IMC
contribuiu para o pouso fora da pista.
(2). Deficiente Manutenção - Indeterminado
A soltura de um só lado do tubo, para acesso aos componentes
localizados sob o mesmo, gera tensões devido à flexão do
próprio tubo.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os PAMA-AF e PAMA-LS deverão reeditar o BT 89-797 C95 86,
com o acréscimo da inspeção com líquido penetrante.
A DIRMA deverá realizar entendimentos junto à EMBRAER e
PRATT & WHITNEY para a mudança do processo de soldagem e/ou
do material dos tubos de P3, assim como a gradual
substituição dos tubos atualmente utilizados na frota.
A EMBRAER deverá expedir uma nota técnica instruindo todos
os operadores de aeronaves de sua fabricação e, que utilizem
motores que podem ser afetados por problema similar ao
investigado, a fim de estabelecer uma sistemática de
inspeção e manuseio dos tubos de P3.
A aeronave decolou da cidade de Brumado - BA com destino a
Macaúbas –BA. Próximo a esta, sobre o trevo de acesso
rodoviário, colidiu com uma rede de transmissão de energia
elétrica. A aeronave ficou presa por um dos cabos e
chocou-se com o solo, incendiando-se. Devido à ação do fogo,
houve perda total da aeronave e os dois ocupantes faleceram
no local.
ANÁLISE
A aeronave foi avistada por testemunhas, durante toda a
rota, realizando navegação a baixa altura. Quando estava
próximo aos fios, tentou subir, curvando para a esquerda,
como se estivesse tentando livrar o obstáculo. Houve então a
colisão e um centelhamento, com curto-circuito, fogo e
quebra dos cabos, vindo a aeronave a colidir com o solo, em
chamas.
O proprietário da aeronave declarou que por várias vezes o
piloto fez voos rasantes sobre locais próximos à cidade e,
numa ocasião, chegou a interromper uma partida de futebol no
campo daquela cidade. Declarou também que os voos com o
mesmo a bordo eram conduzidos dentro da normalidade e que
não tomou qualquer medida para coibir as atitudes do piloto.
Segundo a análise do aspecto psicológico, conforme
declarações de testemunhas, a presença do irmão a bordo pode
ter gerado um clima de descontração na cabine. Esta
descontração provocou o relaxamento do processo de atenção
e, consequentemente, impediu que o piloto visualizasse a
rede elétrica à frente, a tempo de realizar alguma manobra
que evitasse a colisão.
CONCLUSÃO
Fator Humano - Aspecto Psicológico - Contribuiu
Houve participação de variáveis psicológicas, em nível
individual, que interferiram no desempenho do piloto da
aeronave.
Fator Operacional
(1). Deficiente Planejamento - Contribuiu
O piloto executou o voo fora dos padrões previstos para uma
navegação em condições visuais, realizando-o abaixo do nível
mínimo previsto.
(2). Deficiente Supervisão - Contribuiu
O proprietário da aeronave, mesmo ciente das atitudes do
piloto, o qual efetuava voos rasantes sobre áreas urbanas,
não tomou qualquer medida corretiva.
(3). Indisciplina de Voo - Contribuiu
O piloto realizou voo a baixa altura sobre veículos e
pessoas, ignorando os riscos advindos das condições
marginais em que operava a aeronave, contrariando as normas
em vigor.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os SERAC deverão divulgar o conteúdo deste Relatório Final
para todas as empresas aéreas e aeroclubes de suas
respectivas circunscrições, visando a elevar o nível de
percepção dos operadores e proprietários.
Local do Acidente: Aeródromo de Mirassol D’Oeste – MT
Tipo de acidente: Acidente com Hélice
Fase de Operação: aproximação
Natureza do Voo: transporte particular de passageiros
Aeroporto de Partida: Aeródromo de Mirassol D’Oeste –
MT
Aeroporto de Destino: Aeródromo de Moraes de Almeida
– PA
HISTÓRICO
A aeronave iria realizar um voo, no trecho entre Mirassol
D’oeste (MT) e Moraes de Almeida (PA), transportando um
único passageiro.
Quando o avião encontrava-se alinhado na cabeceira da pista
para a decolagem, o passageiro informou que estava passando
mal (indisposição intestinal) e que iria descer para atender
suas necessidades fisiológicas.
O piloto não teve tempo de informar que iria taxiar de volta
para o pátio de estacionamento, pois o passageiro desceu
rapidamente por sua porta (lado direito da aeronave), sem a
autorização do tripulante, indo em direção à hélice. Foi
atingido no braço esquerdo e, apesar de socorrido e levado
ao hospital local, não resistiu e faleceu ao ser transferido
a um segundo hospital.
A aeronave sofreu avarias leves.
ANÁLISE
O piloto estava habilitado para realizar aquele voo,
entretanto encontrava-se com o seu Certificado de Capacidade
Física vencido à época do acidente.
A pista de pouso existente na localidade de Mirassol D’oeste
era clandestina.
O tripulante não realizou nenhum brifing com o passageiro
sobre segurança de embarque e desembarque do avião.
Observa-se a presença dos aspectos de falta de atenção e
falha da tomada de decisão por parte do passageiro, em
conseqüência da prevalência de uma necessidade básica de
ordem fisiológica.
CONCLUSÃO
Fator Humano
(1). Aspecto Fisiológico - Contribuiu
O passageiro estava com problemas intestinais.
(2). Aspecto Psicológico - Contribuiu
O passageiro, devido aos problemas de ordem fisiológica
apresentados, estava psicologicamente abalado.
Fator Operacional
(1). Deficiente Doutrina de Segurança de Voo - Contribuiu
O piloto não realizou brifim com o passageiro sobre
segurança de embarque e desembarque.
(2). Indisciplina de Voo - Contribuiu
O piloto operava a aeronave em aeródromo não regularizado e
com o CCF vencido.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os SERAC deverão incluir nas suas atividades educativas e de
prevenção, temas que ressaltem a importância de um brifim de
segurança aos passageiros, a fim de proporcionar um
comportamento de bordo compatível com as necessidades de
inteira segurança do voo; e informar aos proprietários e
operadores sobre a necessidade de se cumprir o previsto na
NSMA 3-5, que trata da obrigatoriedade de comunicação de
acidentes e incidentes aeronáuticos por parte dos
proprietários, operadores, organizações envolvidas com a
fabricação, a manutenção, a operação e circulação de
aeronaves e o apoio de infra-estrutura aeronáutica.
Local do Acidente: Aeródromo de Ribeirão Preto - SP
Tipo de acidente: Perda de controle em solo
Fase de Operação: decolagem
Natureza do Voo: voo de verificação de proficiência
operacional
Aeroporto de Partida: Aeroporto de Congonhas - São
Paulo - SP
Aeroporto de Destino: Aeródromo de Ribeirão Preto -
SP
HISTÓRICO
A aeronave decolou de São Paulo para um circuito fechado com
pousos em Uberaba e Ribeirão Preto. O voo consistia na
verificação de proficiência operacional de pilotos por um
Inspetor de Aviação Civil (INSPAC).
Com o co-piloto operando, foi realizado um procedimento
monomotor com toque e arremetida em Ribeirão Preto. Ao ser
iniciada a aceleração para a arremetida, a manete do motor
esquerdo travou na posição recuada (idle), impedindo a
aceleração.
O comandante assumiu a operação e, julgando não haver pista
suficiente para interromper a corrida, decidiu prosseguir na
decolagem, comandando a rotação. Entretanto, sem sustentação
suficiente, a aeronave retornou ao solo fora da pista, 92
metros após a cabeceira oposta. Ao verificar a existência de
uma cerca em sua trajetória, o comandante novamente comandou
a rotação da aeronave que, sem controle, colidiu com um
caminhão e com uma árvore posicionados no alinhamento da
pista, fora dos limites do aeródromo.
Como conseqüência dos impactos, um ocupante do caminhão
faleceu e a aeronave incendiou-se, havendo perda total. Um
tripulante faleceu no local, outro sofreu ferimentos graves
e os outros dois ferimentos leves.
ANÁLISE
A investigação do aspecto psicológico apresentou indícios de
complacência, por parte da tripulação, com relação ao
primeiro emperramento da manete de potência do motor
esquerdo num voo anterior. Existem, ainda, variáveis
organizacionais quanto à expectativa dos pilotos em
realizarem um voo, que seria o transporte de uma criança
recém-nascida. Segundo declaração de um dos tripulantes,
havia um estado de ansiedade quanto à realização desse voo.
Mesmo com exames e testes realizados pelo CTA-IFI no
conjunto de manetes e FCU de ambos os motores, não foi
possível determinar a causa do emperramento da manete do
motor esquerdo. Entretanto, o Relatório Técnico levantou a
hipótese de a dificuldade reportada pelos pilotos ter sido
ocasionada pela ruptura de fibras do cabo que transfere o
comando da manete ao FCU. Este cabo desliza no interior de
uma capa corrugada e pode sofrer emperramento no caso de
ruptura de qualquer de suas fibras.
Com relação ao fator operacional, verificou-se que não foram
realizados briefing de decolagem em Uberaba, nem de pouso
quando do procedimento em Ribeirão Preto. A realização de
briefing, antes de pousos e decolagens, determina
procedimentos a serem executados nas operações normais e,
principalmente, em situações de emergência. A ausência
desses briefings certamente dificulta o entendimento das
ações frente às anormalidades, contribuindo para as
dificuldades de coordenação na cabine. Observa-se também
que, no caso específico deste acidente, o nível de alerta da
tripulação durante a arremetida na pista de Ribeirão Preto
estava aquém do necessário para operações desse tipo. O
problema da manete de potência do motor esquerdo, verificado
em etapa anterior do mesmo voo, já deveria ter sido um fator
a mais de atenção por parte dos pilotos.
A falta de treinamento em simulador no tipo de aeronave,
assim como a ausência de um programa de treinamento e CRM
por parte da empresa operadora, pode ter contribuído para
gerar nos tripulantes um certo grau de complacência com
relação aos procedimentos que deixaram de ser realizados e
com a falta da correção do defeito ocorrido anteriormente
(travamento da manete do motor esquerdo).
No momento do toque e arremetida, o INSPAC estava
posicionado na cabine de passageiros, no assento mais
próximo dos postos de pilotagem uma vez que esta aeronave
não possui “jump seat”, e não teve influência direta nas
ações do tripulante.
O comandante da aeronave, que estava sentado na cadeira da
esquerda, realizava procedimentos de assessoramento – “Pilot
Not Flying” (PNF). O comandante, no momento do emperramento
da manete de potência do motor esquerdo, estava com sua
atenção voltada para o recolhimento do flape, para
posicioná-lo na configuração de decolagem.
Numa operação de decolagem normal, o “PNF” acompanha a
aceleração dos motores da aeronave e informa ao “Pilot
Flying” (PF) uma eventual anormalidade. O “PF” realiza a
decolagem com sua atenção voltada especificamente para o
exterior da aeronave, ou seja, para a pista.
Assim, durante a ocorrência da pane, caberia ao co-piloto a
tomada de decisão. A transição entre a comunicação do
problema ao comandante, que assumiu os comandos, e a
verificação da situação com a decisão de continuar na
arremetida foram momentos que ocasionaram uma diminuição da
velocidade da aeronave e redução do comprimento da pista
para arremeter.
O treinamento de pilotos tem-se concentrado na habilidade de
pilotar e no conhecimento técnico do equipamento, mas a
tecnologia em mudança também exige a reformulação de normas
e procedimentos, assim como eficiência em compartilhar
informações, desenvolvimento do processo de tomada de
decisões e acima de tudo comunicação autêntica entre os
tripulantes. Essas variáveis compõem a doutrina onde
planejamento tem lugar de destaque, relacionamento é
indispensável e gerenciamento do risco é vital.
Assim, a não realização de uma cuidadosa pesquisa para se
verificar as causas do emperramento da manete de potência do
motor esquerdo por pessoal qualificado, haja vista que essa
pane já havia ocorrido anteriormente, juntamente com um
baixo nível de alerta situacional do co-piloto, que estava
nos comandos da aeronave durante o procedimento de
arremetida, além de um deficiente gerenciamento das ações
que deveriam ser executadas por cada um dos tripulantes,
completaram a cadeia de eventos que desencadeou o acidente.
Há indícios da presença de variáveis psicológicas em nível
individual que possam ter influenciado na decisão do
comandante em realizar o procedimento de toque e arremetida
no aeródromo de Ribeirão Preto.
Fator Operacional
(1). Deficiente Supervisão - Contribuiu
Houve uma supervisão inadequada, em nível técnico e
operacional, por parte da empresa operadora da aeronave,
pela falta de treinamento, instrução inadequada e ausência
de treinamento em simulador de voo.
(2). Deficiente Coordenação de Cabine - Contribuiu
Houve erro cometido pelos pilotos decorrente da inadequada
utilização dos recursos na cabine destinados à operação da
aeronave, em virtude de um ineficaz cumprimento das tarefas
afetas a cada um dos tripulantes e da não observância das
normas operacionais.
(3). Deficiente Planejamento - Contribuiu
Mesmo estando a tripulação qualificada para o tipo de voo,
houve um inadequado planejamento com relação à ausência de
briefing de decolagem e pouso.
(4). Deficiente Julgamento - Contribuiu
Houve erro cometido pelo co-piloto, quando da demora em
reduzir as manetes de potência da aeronave, tão logo
estabeleceu-se o travamento da manete do motor esquerdo
durante a arremetida no solo, havendo uma inadequada
avaliação da situação com relação a este aspecto.
(5). Deficiente Instrução - Contribuiu
Houve a participação do processo de treinamento recebido,
por deficiência quantitativa e qualitativa, que não atribuiu
aos pilotos a plenitude das condições técnicas a serem
desenvolvidas na atividade, com relação à falta de
treinamento em simulador, falta de um programa de
treinamento da empresa que englobasse CRM e voos locais,
entre outros.
(6). Deficiente Manutenção - Indeterminado
Há indícios de que as dificuldades reportadas pelos pilotos
com relação à manete tenham sido ocasionadas pela ruptura de
fibras do cabo que transfere o comando da mesma ao FCU. Este
cabo desliza no interior de uma capa corrugada e pode sofrer
emperramento no caso de ruptura de qualquer fibra do
referido cabo.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
O Subdepartamento Técnico do DAC deverá determinar que os
SERAC inspecionem as empresas de Táxi Aéreo, objetivando
verificar o cumprimento de seus programas de treinamento;
providenciar um programa de reuniões anuais com os
Inspetores de Aviação Civil com o objetivo de transmitir
experiências e conceitos sobre Gerenciamento do Risco.
A Aeroexecutivos Táxi Aéreo Ltda. deverá incluir no programa
de treinamento de seus tripulantes CRM (Crew Resource
Management), CPT (Cockpit Procedure Trainning) e avaliações
periódicas através de testes de emergências e conhecimentos
gerais acerca das aeronaves a serem voadas; planejar e
executar seus voos levando sempre em consideração os tipos
de procedimentos a serem executados, rota e configuração das
aeronaves, visando a aumentar as margens de segurança em
suas operações. Mesmo com a presença de checadores a bordo
de suas aeronaves, fazer valer o planejamento inicial e mais
seguro, posto que a responsabilidade sobre a aeronave e
passageiros sempre será do comandante da aeronave (piloto da
empresa); e efetuar uma correta e eficaz pesquisa de
manutenção em aeronaves que apresentem tendências que possam
colocar em perigo a atividade aérea.
Local do
Acidente: Pico dos Três Estados - Serra da Mantiqueira - SP
Tipo de
acidente:
Colisão em Voo com Obstáculo
Fase de
Operação: em voo
Natureza do
Voo: militar
Aeroporto de
Partida: Base Aérea de São José dos Campos - CTA - SP
Aeroporto de
Destino: Base Aérea de São José dos Campos - CTA -
SP
HISTÓRICO
A aeronave decolou de São José dos Campos, com a finalidade
de realizar um voo de avaliação de alcance de um sistema de
comunicação e identificação de CB´s (VHF), com duração
prevista para 01h 20min. Durante o voo, a aeronave sobrevoou
o VOR de SBSJ e, ao atingir o nível 080, afastou-se na
radial 065º, conforme o previsto na notificação do voo. A
aeronave fez o último contato via VHF com o controle São
José às 12:50Z e nenhuma anormalidade foi reportada.
Confirmado o desaparecimento da aeronave, foram iniciadas as
buscas e os destroços foram localizados a oito mil pés de
altitude, no pico dos três Estados, na Serra da Mantiqueira,
no dia seguinte ao do acidente. A aeronave ficou
completamente destruída e os ocupantes faleceram em
decorrência do impacto.
ANÁLISE
Os pilotos da aeronave encontravam-se em condições físicas
satisfatórias para a realização da missão. Com relação ao
fator material, nenhuma anormalidade foi verificada nos
altímetros do avião, e os motores não puderam ser resgatados
para serem examinados. O perfil do voo foi planejado pelo
engenheiro responsável pelo desenvolvimento do equipamento
de comunicação que seria testado. Previa todos os
procedimentos normais de solo, no entanto, a carta WAC da
área não foi consultada, o que daria condições de se
verificar os pontos mais altos da região, aumentando, assim,
o nível de alerta situacional da tripulação. A aeronave
decolou de SBSJ para realizar o voo em condições totalmente
visuais.
O planejamento previa que, caso as condições
meteorológicas exigissem, o voo deveria ser procedido no
nível 100. No entanto, o tempo de voo alocado para a missão
fazia com que o ideal fosse sua realização no nível 080. As
condições meteorológicas não eram satisfatórias ao voo
visual, existia uma camada espessa no nível 070. A falta de
gravações dos dados de voo da aeronave e de gravador de voz
da cabine, aliadas à falta de testemunhas, comunicações dos
pilotos com o órgão de controle e impossibilidade de resgate
dos motores da aeronave, não permitiram uma análise mais
precisa dos fatores envolvidos no acidente. No entanto, de
acordo com os dados descritos anteriormente, tem-se a
seguinte hipótese para a ocorrência do sinistro:
A aeronave decolou de SBSJ sem problemas, tendo atingido o
FL 080 ainda na vertical do campo, em condições visuais, e
afastou-se na radial 065º. As condições meteorológicas
indicavam 8/8 de cobertura no FL 070, por toda a região. O
voo entre as radiais 060º e 070º, a partir do VOR SJC,
implica no sobrevoo da Serra da Mantiqueira, com elevações
que variam de 7.000ft a 9.500ft, desde 60NM até 100NM do VOR
SJC. É possível que, ao chegar a 70NM de distância do VOR
SJC, a cobertura de strato-cúmulos tenha ficado mais
elevada, acima do nível 080. O impacto aconteceu a 75NM do
VOR SJC, ou seja, a dois minutos do ponto de retorno (80NM).
Tal hipótese pode ter acontecido em decorrência do
deficiente planejamento da missão, que não utilizou a carta
WAC da área para plotar os pontos mais altos do terreno e,
também, devido ao baixo nível de alerta situacional dos
pilotos, que estavam envolvidos no cumprimento da missão,
com relação aos testes do equipamento de comunicação, e não
se aperceberam do perigo em entrar em condições de voo por
instrumentos naquela situação.
Este voo partiu da Base Aérea de São José dos Campos - CTA
interior de São Paulo por volta de 09:45hs da manhã. Esta
aeronave estava lotada na DOP-Divisão de Operações -X-40 do
CTA.
Local do Acidente: Fazenda Chico Pereira, Araci - BA
Tipo de acidente: Perda de controle em voo
Fase de Operação: em voo
Natureza do Voo: voo de transporte de carga
Aeroporto de Partida: Salvador - BA
Aeroporto de Destino: Fazenda Maria Preta, Santa Luz
- BA
HISTÓRICO
O helicóptero decolou de Salvador (BA), às 13:35 horas, com
destino à fazenda Maria Preta, para realizar um voo de
transporte de carga.
Por volta das 14:30 horas, distante cerca de 20 Km do seu
destino, o helicóptero realizou uma aproximação para um
terreno descampado e, no final desta, colidiu bruscamente
com o solo.
O piloto e um dos passageiros faleceram no local e o outro
passageiro sofreu lesões graves. O helicóptero teve perda
total.
ANÁLISE
As indicações dos instrumentos no painel apontam para um
funcionamento normal do motor. Entretanto, não foram
realizados exames detalhados dos componentes da aeronave, de
forma que não é possível avaliar a contribuição deste
aspecto para o acidente
O piloto estava tentando realizar um pouso em área não
prevista, sem que houvesse motivo aparente para tal. Este
fato causou estranheza aos funcionários da empresa de
mineração e da empresa de transporte aéreo, já que se
encontrava próximo da sua primeira escala.
Até aquele momento, o voo contava com pouco mais de uma hora
de duração. Nas duas fazendas onde o piloto pousaria para
fazer o carregamento, não haveria corte do motor. O voo de
retorno contaria com mais uma hora e trinta minutos. O
piloto tinha consciência de que, após o carregamento do ouro
a bordo, não deveria realizar pouso em local que não
oferecesse segurança para o tipo de carga transportada.
Existe a hipótese de que a decisão de pouso tenha sido
motivada por uma necessidade incontida do piloto em
satisfazer uma necessidade fisiológica. Desta forma, o
piloto teria optado pelo pouso antes de efetuar o primeiro
carregamento, pois tinha consciência de que deveria expor-se
o mínimo possível após o carregamento.
Segundo relato de testemunha, estima-se que o helicóptero
tenha realizado um tráfego curto para aproximação com vento
de cauda. Ainda pelo relato da testemunha, é provável que a
aproximação tenha sido feita com excesso de velocidade,
exigindo um “flare” para desaceleração. Nesta manobra, a
aeronave teria colidido a cauda com o solo e, em seguida,
com a parte dianteira do esqui direito, vindo a chocar-se
com o solo em giro pela direita, até parar sessenta metros
adiante.
A aproximação com vento de cauda pode induzir a um erro de
julgamento por parte do tripulante. No início da manobra, o
piloto baseia-se nas informações de velocidade indicadas no
velocímetro. No final da aproximação, por outro lado, o
tripulante basicamente se utiliza das referências visuais
externas para avaliar sua velocidade de aproximação. Ao
efetuar uma aproximação com vento de cauda, o piloto tem uma
indicação de velocidade no instrumento discordante da
velocidade em relação ao solo. Neste caso, ao aproximar-se
do terreno e perceber que está mais veloz do que deveria, o
piloto pode comandar uma atitude de desaceleração, expondo o
cone de cauda ao contato com o solo.
Também existe a possibilidade de que a poeira levantada
durante a aproximação tenha diminuído as condições de
visibilidade do piloto, prejudicando o julgamento de altura
e velocidade em relação ao terreno.
No campo das hipóteses, pode-se dizer que o piloto, sob uma
incontida necessidade fisiológica, decidiu pousar o mais
rápido possível, estando com os seus níveis de atenção e de
percepção severamente degradados por um estresse
fisiológico, tendo o seu julgamento de velocidade, rampa e
altura sido incorreto e prejudicado pela situação de vento
de cauda, resultando na perda de controle no final da
aproximação.
Pessoas ligadas ao convívio profissional do piloto afirmaram
terem conhecimento de problemas de saúde daquela vítima,
especificamente no aparelho urinário. É possível que tal
problema esteja relacionado com o acidente.
Fator Material - Indeterminado
Não foram realizadas pesquisas conclusivas sobre o
funcionamento dos sistemas da aeronave.
O piloto não avaliou corretamente suas condições de voo
durante a finalização da aproximação e do pouso (altura x
velocidade).
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
A Táxi Aéreo Kovacs deverá realizar palestras e aulas com o
intuito de conscientizar seus tripulantes sobre os riscos à
segurança das operações aéreas decorrentes de problemas de
saúde que possam interferir no desempenho das atividades dos
aeronavegantes; conscientizar os pilotos sobre a necessidade
da correta avaliação de todos os parâmetros influentes
durante a realização de pousos em locais desconhecidos
(direção e intensidade do vento, tipo do terreno, peso da
aeronave, obstáculos, etc.) de modo a reduzir ou eliminar as
condições de insegurança que possam existir.
Os SERAC deverão utilizar o acidente em apreço como auxílio
à instrução em palestras e seminários, com o intuito de
elevar o nível de conscientização dos tripulantes e
operadores sobre a influência do fator humano (aspecto
fisiológico) no desempenho da atividade aérea.
Local do Acidente: Aeródromo Sta. Cruz do Sul - RS
Tipo de acidente: Pouso forçado
Fase de Operação: pouso
Natureza do Voo: voo local
Aeroporto de Partida: Aeródromo Sta. Cruz do Sul - RS
Aeroporto de Destino: Aeródromo Sta. Cruz do Sul - RS
HISTÓRICO
A aeronave decolou para efetuar um voo local com quatro
pessoas a bordo. Após a decolagem, iniciou uma curva a
esquerda para ingresso na perna do vento, quando o piloto
percebeu a operação irregular do motor, seguida de
apagamento. O piloto tentou realizar o pouso em um campo
arado mas, neste procedimento, colidiu com a asa em uma
árvore e com o solo, vindo a pilonar.
Os ocupantes sofreram lesões leves e a aeronave danos
graves.
ANÁLISE
A aeronave iniciou a decolagem depois de permanecer cerca de
10 minutos no ponto de espera com o motor em marcha lenta,
aguardando para decolagem. Esta condição de funcionamento,
em marcha lenta com mistura rica durante longo tempo, pode
provocar alteração nas velas de ignição do motor, o que
efetivamente foi constatado nas velas do cilindro n.º 1. Por
outro lado, esta condição isoladamente poderia apenas
provocar funcionamento irregular do motor, mas não a sua
parada total, a não ser na presença de outro fator
interagindo simultaneamente.
As seletoras de combustível foram analisadas e observou-se
alteração de perfil e presença de corrosão nas esferas de
P/N S272-209. Esta condição, conforme verificado em testes,
pode provocar a saída da esfera de seu alojamento. Em
conseqüência, não acontece o deslocamento da esfera, o que
impede a passagem do combustível para alimentação do motor.
As esferas alteradas da seletora, provavelmente, não são
itens de uso aeronáutico, pois eram feitas de elementos
diferentes da esfera prevista, cuja especificação era P/N
S272-215 e apresentaram corrosão, inclusive em contato com
combustível.
As esferas usadas na seletora de combustível, identificadas
como P/N S272-209, apresentavam alterações de tamanho e
perfil e continham elementos diferentes das outras esferas,
assim como maior suscetibilidade à corrosão. A utilização de
esferas não homologadas contribuiu para a interrupção de
funcionamento do motor.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os SERAC deverão:
1) divulgar as circunstâncias da presente ocorrência às
oficinas de manutenção de sua circunscrição, enfatizando as
conseqüências de utilização de material não homologado para
uso aeronáutico;
2) alertar as oficinas homologadas no tipo de aeronave em
questão para que verifiquem, durante a próxima inspeção da
aeronave, a válvula seletora de combustível quanto ao uso
irregular de material inadequado;
3) alertar os aeroclubes que operam esse tipo de equipamento
para que inspecione a válvula seletora do sistema de
combustível da aeronave;
4) durante as vistorias e visitas técnicas, intensificar a
fiscalização relativa à utilização de itens não homologados
para uso aeronáutico.
O Aeroclube de Santa Cruz do Sul deverá inspecionar sua
frota de aeronaves, no tocante à situação das válvulas de
combustível; e nos serviços de manutenção, não utilizar
material aeronáutico de origem duvidosa.
Aeroporto de Partida: Aeroporto de Bacacheri,
Curitiba - PR
Aeroporto de Destino: Aeroporto de Campo Grande - MS
Descrição:
O acidente ocorreu no dia 13 de setembro de 1996, quando o
piloto Milton Juvenal de Queiroz da aeronave Baron 58, de
propriedade da Matel - Matadouro Indústria Ltda., decolou do
Aeroporto Bacacheri com destino a Campo Grande (MS).
O
piloto precisava de orientação por instrumentos da torre de
comando para afastar-se do aeroporto, devido a condições
meteorológicas, e pegou a rota incorreta.
O avião caiu
depois da manobra de outro avião, um Brasília da companhia
Passaredo, para evitar a colisão.
HISTÓRICO
A aeronave decolou do Aeroporto de Bacacheri, em Curitiba,
com destino a Campo Grande. Após a decolagem da pista 17, na
execução do perfil da subida EROM 2 o controlador do APP-CT
observou, através de apresentação no radar secundário, que a
aeronave estava realizando curva à direita quando o previsto
seria uma curva à esquerda para interceptar a radial 005 do
VOR CTB. Questionado do seu procedimento, o piloto informou
estar na radial 004 e cruzando a proa 150°, sendo esta a sua
última transmissão.
A aeronave foi encontrada a 5 km do aeroporto, tendo
colidido verticalmente com o solo. Houve perda total da
aeronave e os ocupantes faleceram no local.
ANÁLISE
Foi observada a influência do Aspecto Fisiológico e
Psicológico quanto à rotina de trabalho do piloto. Conforme
relato de sua companheira, ele vinha voando seguidamente,
quase todas as vezes, em período noturno.
O piloto, ao assumir este comportamento, posicionava-se a
favor do seu cansaço e fadiga. Em conseqüência dos vários
anos trabalhando neste ritmo, desenvolveu uma rotina
desgastante, principalmente por ser o único a realizá-la.
Aparentemente o piloto não possuía nenhuma patologia prévia
que denotasse ter algum distúrbio fisiológico. Constatou-se
que na noite anterior ao acidente teve um curto espaço de
repouso, algo em torno de cinco horas. Nesta noite não foi
observado nenhum comportamento ou atitude anormal pela sua
companheira. Constatou-se também que o piloto estava com um
nível considerável de fadiga diretamente ligada à carga de
trabalho e, indiretamente, ao longo período sem férias.
A longa jornada e o número de horas voando em nível de voo
elevado, aumentam o desgaste físico pelo estresse, ruído,
baixa oxigenação e acelerações inerentes a esse tipo de
atividade. Nessas condições, dependendo do organismo de cada
um, os níveis de fadiga começam a se manifestar. O corpo
sente o cansaço mas os efeitos mais críticos estão na área
cognitiva. O raciocínio passa a ser mais lento, algumas
vezes confuso e até errado. Estabelecem-se a nível
psicológico, reações de conformismo (deixa prá lá, não
importa, etc...), cochilos, fixação em determinadas tarefas,
esquecimentos, flutuação de atenção, distração, etc. Aos
erros seguem-se correções indevidas, levando a outros erros;
tornando a menor falha em um problema de enormes proporções.
Esse quadro provavelmente ocorria com o tripulante em
questão.
Estes fatos, quando relacionados com o acidente, mostram que
o piloto estava com um nível elevado de fadiga. Junto a
isto, as condições adversas durante o voo (período noturno,
chuva e condições IFR), podem ter levado o piloto a uma
situação de desorientação espacial.
As análises realizadas nos motores e hélices não encontraram
nenhuma condição anormal de funcionamento.
Não há indícios de que possa ter ocorrido uma falha
estrutural em voo.
Da análise das informações operacionais, das condições do
impacto com o solo, da disposição dos destroços e do relato
de testemunhas, verifica-se, claramente, que houve uma perda
de controle em voo. Resta portanto saber os motivos que
possam ter provocado esta perda de controle.
Pelo relatório do APP-CT, verificou-se que a aeronave não
executou corretamente o procedimento de subida EROM 2. O
fato do piloto reportar que a proa estava “derivando” e que
estava cruzando a proa 150, quando deveria estar mantendo
uma proa próxima a 005°, denota que o mesmo possivelmente
estava desorientado quanto a atitude da aeronave e a sua
posição.
Este dado mostra um primeiro indício de uma perda de
consciência situacional. No entanto, o piloto poderia já
estar em um processo de desorientação sem ter-se dado conta
da situação. Desta forma, poderia ter iniciado a curva de
maneira errada para o lado direito ou ter-se equivocado na
execução do procedimento de subida. Por este motivo, a
desorientação pode ter ocorrido mesmo antes do contato final
com o APP-CT, visto a decolagem de Bacacheri ter sido
realizada em condições IFR com um teto de 500ft. Presume-se,
no entanto, que a perda de controle tenha ocorrido após o
último contato rádio, pois dos fatos investigados
verificou-se que o tempo decorrido entre este contato e o
impacto com o solo foi pouco maior ou igual a três minutos.
As condições de noite escura, teto e visibilidade reduzidos
contribuíram para que o piloto ficasse na completa
dependência dos instrumentos de voo para manter ou recuperar
as condições normais de voo. A inexistência de referências
externas contribuiu decisivamente para a perda de controle e
para a impossibilidade de recuperação.
CONCLUSÃO
Fator Humano
(1). Aspecto Fisiológico - Contribuiu
O piloto apresentava elevado nível de fadiga. Os fatos
anteriores ao acidente denotam que o piloto adotava uma
postura inadequada em relação aos períodos de repouso
regulamentar para a atividade aérea.
(2). Aspecto Psicológico - Contribuiu
O piloto superestimava suas condições físico-psíquicas
frente às desgastantes jornadas que se impunha
No caso desse voo, há indícios de deficiência de raciocínio,
distração, dificuldades de concentração e outros sintomas
característicos de estresse, levando ao baixo nível de
vigília, insuficiente controle, desorientação espacial,
entrada em atitude anormal e dificuldade em recuperar o voo
normal.
As condições meteorológicas na fase do voo (subida IFR) eram
de voo IMC em noite escura e dentro de camada de nuvens.
Essa condição contribuiu para a perda de controle. O teto e
a visibilidade reduzidos contribuíram para impossibilitar a
recuperação.
(2) Deficiente Planejamento - Contribuiu
O piloto não tomou conhecimento das condições meteorológicas
do local, da rota e do destino antes de decolar
O piloto não planejou adequadamente a sua jornada de
trabalho.
É provável que não tenha planejado adequadamente a fase de
subida IFR (subida EROM 2).
(3). Deficiente Julgamento - Contribuiu
O piloto não julgou corretamente as condições em que vinha
voando, superestimou suas condições físicas diante do
estressante trabalho que realizava.
(4). Deficiente Aplicação de Comandos - Indeterminado
É provável que o piloto tenha se confundido no uso dos
comandos ao tentar recuperar a condição de voo normal.
(5). Deficiente Supervisão - Contribuiu
Muito embora a categoria da aeronave especifique a
tripulação mínima de um piloto, o tipo da missão que era
executado normalmente pelo piloto, aliada a jornada de
trabalho que o mesmo efetuava, apontam para a necessidade de
um co-piloto a bordo.
A empresa não atentou para as dificuldades e irregularidades
que o piloto se impunha nas longas jornadas de voo.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
O Departamento de Aviação Civil deverá, através dos SERAC,
orientar os proprietários e operadores para os riscos de
permitir ou obrigar seus tripulantes a operar sob
prolongados períodos de voo e jornada, além das implicações
legais que essa prática oferece; divulgar o presente
relatório, durante a realização de atividades educativas de
segurança de voo como palestras, seminários etc., para todos
os operadores da aviação geral, destacando os aspectos de
julgamento, planejamento, fadiga de voo e desorientação
espacial.
O Quinto Serviço Regional de Aviação Civil deverá realizar
Vistoria de Segurança de Voo na empresa MATEL.
A empresa MATEL deverá adotar medidas de planejamento e de
supervisão adequadas às suas missões aéreas considerando,
para isto, a jornada de trabalho de seus pilotos conforme a
legislação em vigor.
Local do Acidente: Morro da Palha, São Francisco do
Sul - SC
Tipo de acidente: Colisão em Voo com Obstáculo
Fase de Operação: em voo
Natureza do Voo: voo de transporte de carga
Aeroporto de Partida: Aeroporto de Porto Alegre (SBPA)
- RS
Aeroporto de Destino: Aeroporto de Joinville (SBJV) -
SC
HISTÓRICO
A aeronave com tripulação de dois pilotos, decolou de Porto
Alegre (SBPA) às 20:45P, com destino a Joinville (SBJV). Era
um voo de transporte de carga, contendo malotes, cerâmicas,
couros e calçados, dentre outros artigos.
A aeronave fez contato inicial com a Rádio Joinville às
22:00P e informou estar a 72 NM fora, tendo-lhe sido
Transmitidas as condições do aeródromo.
O último contato feito pela Rádio Joinville ocorreu às
22:26P, mas não houve resposta da aeronave.
A aeronave colidiu em atitude de asas niveladas, no rumo
051º, contra árvores e rocha de um morro, explodiu e pegou
fogo em seguida.
Os dois tripulantes faleceram no local.
ANÁLISE
A análise dos destroços revelou que a aeronave estava
configurada para o pouso e com os motores desenvolvendo
potência compatível com tal situação.
Os pilotos não reportaram qualquer anomalia na aeronave na
última mensagem, quando informaram estar na perna de
aproximação da descida ECHO 1, a 3000 pés.
A aeronave colidiu, em atitude nivelada, com um morro no QDR
051º do NDB JNV, a 300 pés de altitude. A descida ECHO 1,
procedimento designado para a aeronave, com MDA de 770 pés,
previa o afastamento no QDR 356º do NDB JNV em direção ao
NDB PP, então inoperante, que serve de MAPT.
Diante do exposto, é provável que a tripulação tenha
utilizado o GPS como meio primário de navegação. Assim, após
ter sido inserido o indicativo PP, foi seguido o rumo 051º a
partir do NDB JNV, sem realizar a conferência das
coordenadas apresentadas pelo equipamento, as quais
correspondiam àquelas do NDB PP Metro, de Congonhas, em São
Paulo. Além disso, não foi observada a MDA de 770 pés.
É possível que a seqüência de erros acima considerada tenha
sido favorecida por um quadro de fadiga dos tripulantes,
causada pela realização de jornadas noturnas consecutivas
com, aproximadamente, 10:00 horas de duração. A tal
hipótese, alia-se o fato de que havia uma insegurança e
insatisfação por parte do comandante e do co-piloto, pelo
fato de realizarem aquele tipo de voo noturno, com o intuito
de atenderem as suas necessidades financeiras, e suas
projeções futuras naquele emprego.
Dessa forma, verifica-se que, muito provavelmente, ocorreram
falhas operacionais (utilização do GPS não homologado para
procedimentos de descida noturno e desvio de atenção com
relação à altitude mínima da descida), somadas à fadiga de
voo e aspectos psicológicos. É possível que tenha havido uma
falha na comunicação entre os pilotos. Existiu, também, a
presença de variáveis organizacionais, que determinavam um
clima de insegurança profissional e pouca valorização dos
pilotos, pois a empresa não cumpria os procedimentos
estabelecidos na regulamentação.
CONCLUSÃO
Fator Humano
(1) Aspecto Fisiológico – Indeterminado.
É possível que tenha havido a interferência de variáveis
físicas, com relação à fadiga de voo, que interferiram no
desempenho da tripulação.
(2) Aspecto Psicológico – Indeterminado.
É possível que tenha havido a participação de variáveis
psicológicas a nível individual e organizacional que
interferiram no desempenho da tripulação na atividade aérea.
Fator Operacional
(1) Deficiente Supervisão – Indeterminado.
É possível que a inadequada supervisão da empresa no
planejamento do voo, com relação ao descumprimento de lei de
regulamentação, tenha contribuído para a ocorrência do
acidente, considerando-se a fadiga da tripulação.
(2) Deficiente Coordenação de Cabine – Contribuiu.
Houve erro cometido pela tripulação em decorrência da
inadequada utilização de recursos disponíveis na cabine, com
relação à não realização do procedimento de descida padrão.
(3) Deficiente Julgamento – Indeterminado.
É possível que tenha havido erro cometido pela tripulação em
decorrência da inadequada avaliação do procedimento de
descida.
(4) Indisciplina de Voo - Indeterminado.
É possível que tenha havido desobediência intencional pela
tripulação da Lei 7183, art. 36, com relação ao período
mínimo de descanso entre etapas de voos noturnos.
É possível, também, que tenha havido desobediência
intencional pela tripulação de regras de tráfego aéreo e
normas operacionais, com relação à utilização de equipamento
GPS para a realização de procedimento de descida, mesmo não
estando homologado para tal.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
A DIPAA deverá produzir DIVOP sobre o uso do GPS,
relembrando que tal equipamento não está homologado como
meio primário de navegação e que pode haver conflito de
indicativos. Usar o exemplo do indicativo PP, que
corresponde ao NDB Iririu em Joinville -SC e ao NDB Metro em
Congonhas – SP; divulgar, através das SIPAA dos SERAC, este
RF para todas as empresas de táxi aéreo de suas respectivas
circunscrições, alertando para a deficiente supervisão com
relação à jornada de trabalho excessiva e planejamento de
missões.
À empresa Helisul Táxi Aéreo deverá:
1) regularizar a categoria de registro de todas as suas
aeronaves;
2) regularizar o contrato dos pilotos;
3) alertar os pilotos sobre o uso do GPS, relembrando que
tal equipamento não está homologado como meio primário de
navegação e que pode haver conflito de indicativos. Usar o
exemplo do indicativo PP, que corresponde ao NDB Iririu em
Joinville -SC e ao NDB Metro em Congonhas - SP.
Local do Acidente: Usina União e Indústria, Primavera
- PE
Tipo de acidente: Colisão em Voo com Obstáculo
Fase de Operação: em voo
Natureza do Voo: voo de pulverização agrícola
Aeroporto de Partida: Usina União e Indústria,
Primavera - PE
Aeroporto de Destino: Usina União e Indústria,
Primavera - PE
HISTÓRICO
A aeronave agrícola decolou da pista da Usina União e
Indústria com o objetivo de realizar um voo de
reconhecimento visual da área a ser pulverizada com produtos
químicos.
O piloto pousou na área escolhida como “base” dos voos de
pulverização, permanecendo no solo por, aproximadamente, 5
(cinco) minutos com o motor acionado.
Efetuou nova decolagem para reconhecer um circuito de 1000
(mil) metros de extensão, deixando o sol a sua direita. Ao
sobrevoar uma área compreendida entre duas elevações do
terreno, colidiu com um fio de baixa tensão, perdendo
altura e precipitando-se contra o solo 80 (oitenta) metros à
frente.
O helicóptero incendiou-se após o choque com o terreno,
provocando a morte imediata do piloto.
ANÁLISE
As circunstâncias dessa ocorrência, comparada com outras
anteriores levam às seguintes conjecturas:
- A colisão se deu com os fios de uma rede de baixa tensão.
Se o helicóptero colidiu com esses fios durante o voo de
reconhecimento visual da área a ser pulverizada, é possível
que a rede de baixa tensão não tenha sido adequadamente
plotada ou até mesmo que o planejamento do voo não tenha
sido realizado. Em qualquer dessas duas suposições
verifica-se deficiência de procedimento no nível
organizacional. O gerenciamento do risco da operação não foi
satisfatório.
- Para colidir com os fios, o piloto, necessariamente,
estaria voando na altura dos mesmos. Para que isso tivesse
ocorrido é provável que desconhecesse a posição dos fios e
estivesse voando baixo para o tipo de operação – voo de
reconhecimento. O piloto deveria empregar uma altura de
segurança maior para efetuar o 1º voo de reconhecimento.
Somente após identificar todos os obstáculos, deveria
diminuir a altura do voo para uma verificação mais detalhada
do terreno. Não há indícios de interferência da posição do
sol em relação à visada do piloto.
Assim, ainda no campo operacional, pode-se concluir que um
deficiente planejamento de voo sempre agrava o potencial de
perigo da atividade aérea, seja por parte dos operadores ou
dos pilotos.
CONCLUSÃO
Fator Operacional
(1) Deficiente Infra-estrutura - Contribuiu.
A rede elétrica de baixa tensão não estava devidamente
balizada, dificultando a visualização em voos de
pulverização agrícola.
(2) Deficiente Planejamento - Contribuiu.
O piloto não planejou um voo com altura de segurança
adequada para identificar os obstáculos da área. O voo a
baixa altura não permitiu a visualização dos postes e do fio
de baixa tensão que cruzava o vale.
(3) Deficiente Julgamento – Contribuiu.
Houve erro cometido pelo piloto decorrente da inadequada
análise da altura do voo de reconhecimento, fazendo-o baixo,
fora da margem de segurança desejável.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
O DAC deverá, através de palestras, seminários, reuniões ou
DIVOP, enfatizar as noções de segurança de voo nas operações
de voo a baixa altura, divulgando os aspectos relacionados a
deficiente julgamento e deficiente planejamento desse
acidente.
Os Operadores da Aviação Agrícola deverão solicitar aos
proprietários das áreas a serem pulverizadas a colocação de
sinalização e marcadores nas redes de alta e baixa tensão,
antes do início das operações aéreas; e adotar medidas
preventivas, orientando seus pilotos a identificar, antes
dos voos, a localização de todos os obstáculos que ofereçam
risco às operações aéreas, principalmente os fios de baixa
tensão, passando a planejar a operação de forma a reduzir o
risco de colisão.
Local do Acidente: Aeroporto de Cruzeiro do Sul - AC
Tipo de acidente: Pouso Forçado
Fase de Operação: pouso
Natureza do Voo: voo de transporte particular de
passageiros
Aeroporto de Partida: Aeroporto de Cruzeiro do Sul -
AC
Aeroporto de Destino: ?
HISTÓRICO
Durante a decolagem de Cruzeiro do Sul (AC), o piloto
percebeu uma queda gradual e constante na potência de ambos
os motores, logo após o cruzamento da cabeceira oposta e
recolhimento do trem.
Com a finalidade de restabelecer a potência, o piloto
selecionou os tanques auxiliares e ciclou a manete de
mistura. Como não obteve sucesso, iniciou uma curva pela
esquerda para retorno à pista. Porém a perda de altura,
aliada à baixa velocidade, obrigou-o a realizar um pouso em
meio à mata fechada.
O piloto estolou a aeronave sobre uma grande árvore, cujos
galhos amorteceram a queda, reduzindo a força de impacto do
bimotor contra o solo.
A aeronave ficou seriamente danificada, os passageiros
sofreram lesões leves e o piloto ficou ileso
ANÁLISE
O piloto iniciou a decolagem a partir da interseção da pista
de táxi do aeroporto, ou seja, 800 m além da cabeceira em
uso.
Entre os dados pesquisados constatou-se que a aeronave
permaneceu por um período demasiadamente longo (sete meses)
hangarada na empresa Líder, em Belém (PA). Para retornar ao
voo foi realizada uma inspeção de 100 horas na oficina Roma,
em Porto Velho (RO), com quem a Regional Táxi Aéreo mantinha
contrato de prestação de serviços.
Como pôde ser verificado na vistoria realizada na empresa,
foram detectadas algumas situações de elevado potencial de
risco, entre elas a falta de pessoal qualificado e ausência
de controle efetivo dos serviços de manutenção. Este fato é
uma das causas principais da relação de pendências
constatadas na vistoria. Auxiliares de mecânicos capacitados
para pequenos serviços não conseguem gerenciar todas as
necessidades de controle de manutenção que a atividade aérea
requer.
Outro item observado na vistoria, qual seja, a ausência de
”check-list” nas aeronaves, demonstra pouca consideração em
nível operacional por parte da Empresa. A falta de
compromisso para com a padronização dos pilotos apresenta
precedentes conhecidos em acidentes e incidentes no passado.
Esta situação pode ter comprometido as atitudes do piloto
durante a situação de emergência.
Também é importante salientar o fato de o piloto ter
decolado da pista 10 a partir da interseção. Apesar do
comprimento da pista disponível ser suficiente para sua
operação de decolagem, o piloto descartou cerca de 800
metros utilizáveis. Como a pane se deu logo após a
decolagem, sobre a cabeceira oposta, se o piloto tivesse
decolado do início da pista teria, teoricamente, mais 800
metros disponíveis à sua frente para o pouso de emergência.
Analisando os fatos expostos com relação ao acidente
ocorrido, há indícios de que a perda de potência logo após a
decolagem tenha sido ocasionada por falha em um dos sistemas
da aeronave. A parada simultânea dos dois motores, devido as
suas características, nos fazem considerar a hipótese de uma
falha no sistema de alimentação de combustível, mesmo que
este fato não tenha sido identificado por falta de exames,
testes e pesquisas. A decolagem da interseção também pode
ter contribuído para o acidente, visto que, provavelmente,
haveria a possibilidade de que um pouso de emergência fosse
realizado na pista se o piloto tivesse decolado da cabeceira
em uso.
CONCLUSÃO
Fator Operacional
(1). Deficiente Manutenção - Indeterminado
Na vistoria realizada na empresa operadora, constatou-se uma
deficiente manutenção por inadequação dos serviços
realizados, sejam preventivos e/ou corretivos, devido a
ausência de pessoal qualificado. Há indícios de que a
aeronave tenha sofrido problemas no sistema de combustível
acarretados por uma deficiente manutenção.
(2). Deficiente Supervisão - Contribuiu
Foi constatado que a empresa operadora não possuía um
controle suficiente dos serviços de manutenção por falta de
supervisão adequada no planejamento e na execução das
operações, em nível administrativo, técnico e operacional.
(3). Omissão - Contribuiu
Apesar de já ter sofrido, anteriormente, problemas de motor
na mesma aeronave, o piloto não adotou as providências
necessárias e oportunas, objetivando sanar os problemas
apresentados. Assim sendo, o piloto deixou de adotar ações
(revisão do motor da aeronave) frente às circunstâncias para
as quais havia condições de agir.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os SERAC deverão orientar as empresas de táxi aéreo no
sentido de observarem o cumprimento da subparte “J” do RBHA
135, referente a manutenção, manutenção preventiva e
modificações em suas aeronaves e divulgar o conteúdo deste
Relatório Final para todas as empresas e aeroclubes de sua
circunscrição.
A direção da Regional Táxi Aéreo deverá:
1) dimensionar e setorizar a empresa com pessoal qualificado
para atender as necessidades de uma empresa de táxi aéreo,
conforme preconiza o RBHA – 135;
2) montar um setor de navegação aérea, dotando-o de
assinatura dos manuais existentes relativos ao sistemas de
proteção ao voo, bem como dimensionar esse material para que
cada aeronave conte com sua própria coletânea de
publicações;
3) dotar o setor de manutenção com pessoal qualificado e
habilitado para o desempenho de suas funções, não só no
nível execução, como também na supervisão dos serviços
realizados;
4) confeccionar o manual geral de operações da empresa, como
também efetivar um programa de treinamento para seus
tripulantes; e
5) confeccionar o Programa de Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos da empresa, bem como disseminar a doutrina do
SIPAER entre seus funcionários.
A aeronave realizava um voo de transporte regular de
passageiros, sob o designativo TAM 402, partindo de São
Paulo (Congonhas - SBSP ) com destino ao Rio de Janeiro
(Santos Dumont - SBRJ ).
Por volta das 08:26P, durante a decolagem e logo após sair
do solo, a tripulação foi surpreendida por uma circunstância
que interpretou como sendo uma indicação de falha do sistema
“auto throttle“ (Auto- Throtle System ou ATS), procurando
executar imediatamente uma ação corretiva.
Foi observado por testemunhas no solo que o reversor do
motor direito (motor nº 2) abriu e fechou algumas vezes,
tendo sido ouvido o ruído característico a esta situação.
Durante os vinte e quatro segundos totais de voo, a aeronave
derivou à direita, mantendo-se a baixa altura e velocidade,
chegando a uma atitude de acentuada inclinação à direita,
vindo a colidir com edificações, projetando-se ao solo e
incendiando-se em seguida, sofrendo perda total.
No acidente, todos os oitenta e nove passageiros e os seis
tripulantes faleceram, além de quatro outras fatalidades de
terceiros.
ANÁLISE
Os tripulantes não tiveram informação, nem instruções
escritas ou treinamento para essa emergência específica de
abertura de reverso na fase de decolagem. Essa falta de
informação e treinamento contribuiu para as dificuldades de
reconhecimento durante toda a fase em que se desenrolou a
anormalidade.
O recuo brusco da manete no exato momento da rotação desviou
a atenção dos tripulantes. O Comandante, além da surpresa,
teve que aplicar suas habilidades para neutralizar a
condição de potência assimétrica. O co-piloto teve sua
atenção (concentração) voltada para a anormalidade.
A ocorrência da falha de auto-throttle na corrida de
decolagem e a ausência de outros avisos, previstos ocorrerem
no caso de “reverse unlocked”, reforçaram as iniciativas, de
parte de um dos tripulantes, em avançar a manete do motor
afetado antes de alcançar a altura de segurança. As ações e
reações decorrentes dessa iniciativa desviaram as atenções e
geraram outros focos, que comprometeram mais ainda a
identificação da inusitada anormalidade.
Os fatos e as circunstâncias dessa ocorrência confrontados
com os resultados alcançados nas investigações levam a dois
tipos de falhas do fator material envolvendo o aspecto de
projeto. Uma envolve os componentes elétricos do sistema de
reverso e, a outra, envolve falha elétrica e mecânica na
desconexão do cabo de segurança do reverso.
Colocados numa seqüência lógica verificou-se o seguinte:
a. Tão logo foram reunidos os destroços possíveis, foram
realizados minuciosos exames nas peças fraturadas e não
fraturadas, levando à hipótese da seguinte seqüência de
falhas:
- existência de alta resistência no switch S1 do Sec Lock
Actuator;
- possivelmente reduzindo o desempenho do relé Stow Limit
Relay; que enviou sinais espúrios ao solenóide de fechamento
(stow solenoid da selector valve); e
- falha na posição energizada do SEC LOCK RLY1 do motor 2,
inibindo os avisos na cabine de comando, no caso de
ocorrência da abertura do reverso em voo.
b. Exames e testes do switch S1.
Nos testes de operação de abertura e fechamento do reverso
foi verificado que os valores de resistência elétrica do
microswitch S1 do atuador direito ( nº 2 SECONDARY LOCK
ACTUATOR ) eram extremamente elevados, chegando a 357 OHMS,
quando o normal seria não ultrapassar 0,7 OHMS. Nos outros
switches a valor máximo encontrado foi de 0,5 OHMS.
Quando dos exames de avaliação de S1, foi verificado
indícios de exposição prolongada a aquecimento; as
superfícies de ambos os contatos apresentaram contaminação
por sílica, oriunda da degradação de silicone orgânico; e
foi verificado não existir silicone na fabricação de S1.
c. Exames testes e análises do STOW LIMIT RELAY.
Nas pesquisas sobre o sistema elétrico do reverso foi
verificado existirem duas versões do mesmo, uma (Prép-Mod)
anterior ao boletim de serviço F-100-78-004 e outra (Pós-Mod)
posterior à modificação.
Versão “Pré-Mod”.
Na versão “Pré-Mod” o solenóide de fechamento do reverso (solenoid
STOW da THRUST RVSR SELECTOR VALVE), exceto quando comandado
para abrir após o pouso, permanecia sempre energizado,
mantendo o THRUST RVSR ACTUATOR pressurizado no sentido de
fechar. Essa condição de grande confiabilidade contra a
abertura do reversor em voo era provida pela barra de
corrente contínua (ESSENTIAL DC BUS), o que impossibilitaria
o uso do reverso, no pouso, caso ocorresse a “perda” dessa
barra.
Versão “Pós-Mod.”
Para corrigir a condição acima, a FOKKER emitiu o SERVICE
BULLETIN F100-78-004, que mudou a alimentação para a BATTERY
BUS (barra de emergência), mas houve a necessidade, para
atender aos rígidos requisitos de tempo de operação da
aeronave na condição de emergência elétrica, de economizar
energia. Essa economia foi conseguida desenergizando-se o
solenóide STOW com a introdução de um STOW LIMIT RELAY, que
energizava o solenóide STOW somente quando havia um comando
positivo neste sentido. Porém essa condição, durante as
fases do voo em que o reversor não é utilizado, mantém o
THRUST RVSR ACTUATOR despressurizado.
1) Consideração sobre a análise de falha (fault tree) do
Pré-Mod.
O relatório de análise de falha do reverso emitido pelo
fabricante para o processo de homologação, não apresentava
todas as condições possíveis de INADVERTENT POSITIVE e não
considerava a possibilidade de uma falha dormente (DORMANT
FAIL), sendo a probabilidade de falha calculada como da
ordem de 10 -11, o que atendia a JAR/FAR/RBHA 25.1309 no
nível de falha “extremamente improvável”.
(a) - A FAR 25.1309 determina, resumidamente, que
equipamentos, sistemas e instalações de uma aeronave,
considerados separadamente ou em relação a outros sistemas,
devem ser definidos de forma que, na ocorrência de qualquer
falha que possa impedir a continuação do voo seguro e o
pouso da aeronave, a falha deva ser classificada como
“extremamente improvável”;
(b) - A ADVISORY CIRCULAR N.º 25.1309-1A determina,
sucintamente, que para uma falha ser considerada
“extremamente improvável”, a probabilidade de a falha
ocorrer deva ser da ordem de 10 -9 ou menos; e
(c) - A FAR 25.1309, letra (c) determina, resumidamente, que
informações e advertências devem alertar a tripulação para
condições de operações inseguras, permitindo a tomada de
ações corretivas apropriadas. Os sistemas de advertência
devem ser projetados para minimizar os erros da tripulação
os quais poderiam criar riscos adicionais.
2) Conclusões alcançadas da análise de falha Pré-Mod.
O fabricante não considerou a possibilidade de um colamento
dos contatos do SECONDARY LOCK RLY 1, o caso não foi
analisado no REPORT N.º UK-28-313 SAFETY ASSESSMENT OF THE
THRUST REVERSER CONTROL SYSTEM e seus apêndices, e além
disso, seria uma falha dormente.
O diagrama de análise de falha do reversor feito
recentemente pelo fabricante, considerando-se a versão
PÓS-MOD, mesmo não levando em conta uma falha dormente,
indica que a probabilidade de uma abertura inadvertida dos
reversores é da ordem de 10-6. Portanto, a versão PÓS-MOD
não satisfaz aos requisitos de aeronavegabilidade da FAR/RBHA
25.1309.
d. Exames e testes dos atuadores “SECONDARY LOCK
ACTUATOR”
Os testes realizados nos dois solenóides do SECONDARY LOCK
ACTUATOR (C.I.I. P/N A-1355, S/N 874 – do reversor esquerdo
e S/N 870 – do reversor direito) de atuação da trava
secundária das portas dos reversores de empuxo das turbinas
mostraram a inconsistência nas respostas dos mesmos e a
conseqüente falta de confiabilidade por eles apresentada.
Apresentaram desempenho muito inferior ao mínimo aceitável
para garantir a segurança e a confiabilidade do sistema,
tendo a unidade S/N 870 (do reversor direito) apresentado
parcela de contribuição na seqüência de eventos que levaram
à abertura não comandada das portas do reversor de empuxo na
turbina nº. 2, durante a fase de decolagem.
e. Relação entre o ângulo da manete de potência (Thrust
Lever Angle – TLA) e o reversor (T/R).
Testes realizados em duas aeronaves FOKKER 100,
possibilitaram verificar os seguintes valores relativos à
abertura das conchas:
- A abertura total das conchas produz um ângulo de 62°;
- A manete de potência só inicia o seu curso para trás
quando as conchas já estão com uma abertura de,
aproximadamente, 24° (38,6% da abertura total, em média); e
- A partir da posição em que as conchas estão totalmente
abertas, levando-as para a direção da posição em que ficarão
totalmente fechadas, a manete de potência é liberada para
ser acelerada, quando as conchas estão com uma abertura de,
aproximadamente, 21° (33,4% da abertura total, em média).
Concluiu-se que em duas fases do ciclo completo dos
reversores, no início da abertura e no final do fechamento
das conchas é possível aplicar-se potência acima de IDLE,
com as conchas, parcialmente, abertas. O que não satisfaz ao
RBHA/FAR 25.933.
f. Possibilidade de falha do relé 1 da trava secundária
(T/R Secondary Lock RELAY 1 (K 1266A)).
Com base no F100 Troubleshooting Schematic Manual, o
relatório avalia que é possível que esse relé tenha falhado
devido a uma falha interna, uma vez que este fio é ligado
diretamente, também, ao relé K 2096A (T/R SEC. LCK. RLY 2),
o qual assume-se, pela mesma hipótese, que permaneceu
desenergizado.
Informa que cargas indutivas, como as do SEC. LCK. ACTUATOR,
são prejudiciais aos contatos que as comandam,
principalmente na desenergização, caso não haja um diodo de
proteção, o que é aparentemente o caso do SEC. LCK. ACTUATOR.
Avalia também, a possibilidade de existência de “ciclos
rápidos” de reversão durante serviços de manutenção, em que
se comande o fechamento das conchas antes de ter se
completado sua abertura, e neste caso, o desligamento dos
dois solenóides (SEC. LCK ACTUATOR e DEPLOY SOLENOID) será
efetuado pelo relé K 1266A. A interrupção simultânea dos
dois solenóides juntos, poderia comprometer os contatos
deste relé.
O relatório conclui que, pode-se aceitar que existe a
possibilidade de que uma falha simples no relé K 1266A,
caracterizada pela “fusão” de qualquer dos contatos A1/A2,
B1/B2 ou D1/D2, (em especial A1/A2), causando o contínuo
comando da bobina de DEPLOY (através da alimentação do SEC.
LCK. ACTUATOR) e, ao mesmo tempo, provoque a inibição dos
alarmes, visto que estes dependem do fechamento dos contatos
C2/C3, fechamento este que não ocorre. Essa falha pode ser
causada pelo excesso de carga em um daqueles três contatos.
g. Simulação de ciclagem do motor.
Admitindo a possibilidade de uma falha associada a uma falha
dormente, e após ativar o SWITCH REVERSER SECONDARY LOCK
RELAY 1 ENG 2, esta pane em conjunto com a resistência de
contato na SWITCH S1 do SECONDARY LOCK ACTUATOR, produziu a
ciclagem do reversor, normalmente de 3 a 8 vezes, isso com a
temperatura ambiente inferior a 20ºC. Com temperaturas acima
de 25ºC o reversor não ciclava.
A partir do estudo dos diagramas elétricos que envolvem o
sistema de reverso do FOKKER F-100, foram realizadas
simulações da ciclagem do reversor.
Ainda segundo esses testes, realizados por equipe técnica da
TAM e acompanhados por membros da Comissão de Investigação (CIAA),
isto também explicava a falta de mensagem de REVERSER ENG2,
na cabine de comando.
h. Estudo da falha do cabo.
Relatório de exames e ensaios em diversos componentes,
fraturados e não fraturados emitido pelo Instituto de
Aeronáutica e Espaço (IAE) do Centro Técnico Aeroespacial
(CTA).
(a) Exceto o cabo de recuo de segurança da manete de
potência (Feed Back Cable) do motor direito, todos os
componentes mecânicos (peças), que foram examinados,
sofreram fratura por sobrecarga, provavelmente ocasionadas
no impacto da aeronave com os obstáculos e, não apresentavam
indícios de pré-trincas.
(b) Os exames realizados nos filamentos das lâmpadas da
tecla ATS do painel GLARESHIELD e os filamentos das lâmpadas
das teclas ATS, YD, STAB TRIM e RUDD LIM, não identificaram
a presença de “estiramentos”, o que indica que os mesmos
encontravam-se apagados no momento do impacto da aeronave;
(c) O exame dos FEEDBACK CABLES que estavam instalados na
aeronave acidentada apresentaram resultados diferentes entre
si, no que tange as medidas finais da abertura interna e da
parede externa do “alojamento” do “pino de ligação” (ponto
de interligação entre as partes traseira e dianteira do
cabo):
MOTOR LH - ABERTURA = 2,21mm - PAREDE = 4,14mm
MOTOR RH - ABERTURA = 2,89mm - PAREDE = 4,49mm
(d) Comparando-se o cabo que estava instalado no motor
direito, com um cabo novo que foi usado no ensaio de
rompimento por tração, pode-se verificar que as medidas
finais de abertura interna e da parede externa, são bastante
semelhantes:
MOTOR RH - ABERTURA = 2,89mm - PAREDE = 4,49mm
CABO NOVO - ABERTURA = 2,92mm - PAREDE = 4,46mm
(e) O ensaio de tração realizado no cabo novo indicou que, a
separação física (SOLTURA) do “pino de ligação” do seu
“alojamento” iniciou quando a carga atingiu 240Kgf.
Pelo que foi pesquisado, o fabricante atendeu o requisito do
FAR 25.933 (a) (1), no aspecto de que um sistema de reverso
para ser utilizado somente no solo produzisse (o motor)
apenas tração de marcha lenta caso houvesse a abertura das
conchas em voo.
A FOKKER considerou as cargas induzidas pelo piloto e pelas
conchas se abrindo ao especificar o sistema de FEEDBACK e,
ainda, seguiu valores preconizados pela maioria dos
fabricantes aeronáuticos. Além disto, os Requisitos de
Projeto da FOKKER estipulavam um valor limite de 2812 N,
considerando a concha aberta e o piloto exercendo máximo
esforço ao levar a manete à frente. Contudo, não considerou
o caso do piloto resistindo à tendência da manete recuar
pela ação das conchas se abrindo, e que apresentou o
resultado registrado nos testes, com valores menores do que
os valores estipulados pela própria FOKKER nos Requisitos de
Projetos. Ou seja, 1732 N e 2500 N são valores menores que
2812 N, se medidos junto das conchas do reverso, porém
possivelmente iguais ou maiores para o ponto da conexão
denominado QUICK DISCONNECT.
A imprecisão acima se deveu ao fato de que o cabo MORSE, ao
ser forçado durante o ensaio, apresentou um grau elevado de
atrito interno, evidenciado pela deformação/ondulação que
ocorreu nesta parte do cabo, “mascarando”, desta forma, as
cargas reais a que o cabo como um todo estaria sendo
submetido. Este comportamento do cabo era desconhecido do
fabricante da aeronave.
Os testes foram positivos em apontar o local em que a
separação do FEEDBACK CABLE ocorreu, foi internamente ao
TURNBUCKLE, cujo diâmetro interior é maior do que o diâmetro
da capa externa do cabo, o que permitiu que houvesse uma
“expansão” da conexão fêmea com a saída do pino macho
durante o tracionamento e que resultou em danos a essas
peças de forma similar aos danos ocorridos nas peças
pertencentes ao motor direito do PT-MRK, cuja avaliação
consta do relatório N.º 02-AMR-E/97.
Os testes, portanto, complementam e corroboram os exames
realizados no CTA nas peças do PT-MRK, sendo um indicativo
de que houve a separação do FEEDBACK CABLE, em voo, nos
instantes finais que antecederam a queda da aeronave.
Por último, ainda de acordo com os requisitos aplicáveis, o
FAR 25.933 (a) (3), determina que cada sistema [de reverso]
deve ser provido de meios que impeçam [MEANS TO PREVENT] o
motor de produzir potência maior do que a potência de marcha
lenta quando de uma falha no sistema de reverso [não
estipulando o tipo de falha]. Este requisito não foi
cumprido, tanto no que se refere ao sistema de controle, que
permitiu abrir as conchas em voo, quanto no que se refere à
proteção, que deixou de existir ao ocorrer à separação do
FEEDBACK CABLE, pela ação imprevista do piloto sobre a
manete, na intenção de retomar a potência do motor afetado.
As condições meteorológicas na ocasião da decolagem (08:26P)
eram favoráveis ao voo visual o vento era de 060 Kt,
condições CAVOK, temperatura de 22ºC. Não houve contribuição
desse aspecto para o acidente.
A pista de decolagem do Aeroporto de Congonhas - São Paulo,
asfaltada, com dimensões 1.940 x 49 m e altitude de 2.600
pés é adequada à operação do F-100 em seu peso máximo. Não
houve contribuição desse aspecto para o acidente.
A aeronave estava com 37.973 Kg de peso e suas condições de
balanceamento eram de 23,4, estando dentro dos limites
previstos.
Ambos os tripulantes estavam com suas licenças válidas e
aptos a realizar o voo.
1) O comandante possuía um total geral de 6.433:00h de voo
das quais 2.392:05h no modelo FOKKER F-100, sendo instrutor
nessa aeronave.
2) O co-piloto possuía 3.000:00h de voo totais. Apesar dessa
experiência, era pouco experiente no modelo FOKKER F-100,
sendo esta aeronave a primeira de concepção “glass cockpit”,
totalmente automatizada, e com sistema automático de
controle de manetes de aceleração do ATS que voava. Estava
com 230:41h de voo no F100, tendo sido checado e aprovado
poucos dias antes do acidente.
i. Instrução
A operadora é dotada de um setor de treinamento completo que
atende as especificações determinadas no RBHA - 121.
As instruções do fabricante comentam suficientemente os
sistemas de ATS e de reverso da aeronave F-100, cobrindo as
necessidades de operação dos tripulantes.
No que concerne ao auto-trottle verifica-se ser um
dispositivo auxiliar que proporciona condições de maximizar
o rendimento da operação, respondendo ao sistema de
gerenciamento de performance da aeronave, quando acoplado.
Responde também pela redução de carga de trabalho dos
tripulantes, acelerando ou desacelerando os motores
automaticamente. Os movimentos das manetes podem ser
contrariados com pequeno esforço do(s) tripulante(s)
diretamente nas mesmas. Uma falha nesse sistema pode se
dever a diversas origens. Quando qualquer das manetes
apresenta operação anormal o sistema desacopla. Em todos os
casos, sem exceção, as manetes ficam estáticas, sem
movimento automático, mas livres para a movimentação manual,
como ocorre nas aeronaves de modelo mais antigo. A falha no
ATS (auto-throttle) não é significativa para a operação.
j. A atuação do sistema de proteção de acionamento do
reverso em voo.
Anos atrás, o sistema de reverso de potência do motor já
atuou em voo, provocando a perda de controle de um grande
jato de transporte. Desde então a certificação dessas
aeronaves exige que um sistema de proteção contra uma
abertura inadvertida de reverso em voo esteja operacional.
No F-100 a manete de potência do motor é escravizada ao
respectivo reverso. Caso ocorra uma abertura inadvertida do
reversor em voo, o motor é reduzido simultaneamente para
idle (marcha lenta). A escravização se dá na manete de
potência, que é recuada bruscamente para o batente de marcha
lenta (posição idle), devendo ficar travada nessa posição. A
velocidade de deslocamento da manete para trás é
significativamente mais rápida (cerca de oito vezes mais)
que o movimento mais rápido realizado pelo auto-throttle.
Desempenho da Aeronave
Considerando os dados relativos às condições do aeródromo de
Congonhas - São Paulo, no momento do acidente, como
parâmetros para o ensaio em simulador e, confrontando os
resultados obtidos do voo de ensaio com os gráficos de
performance da aeronave, entre outros, foram alcançados os
resultados seguintes:
Tabela 1 - Razão de Subida (Pés/Min) -
Simulador
Posição do Reversor do Motor Direito
Configuração
Fechado
Ciclando
Aberto
Aberto
Trem Recolhido
670 (2) (3)
560 (1)
390 (1)
-
Trem Baixo
480 (2)
410 (1)
120 (1)
480 (2)
(1) Motor direito em “idle”
(2) Motor direito cortado
(3) Razão de subida do Manual de Voo (AFM) = 736 Ft/min
A tabela acima permite considerar:
- O efeito do reversor ciclando, com motor em “idle” degrada
a razão de subida em 110 Ft/min.
- O efeito do reversor aberto, com motor em “idle”, degrada
a razão de subida em 280 Ft/min.
- Quando o trem de pouso está baixado, com o motor cortado,
o efeito do reversor aberto ou fechado é desprezível no
desempenho em subida da aeronave.
- O recolhimento do trem de pouso aumenta a razão de subida
em mais de 150 Ft/min.
- O desempenho alcançado, em termos da razão de subida, do
simulador é similar aos valores encontrados no Manual de Voo
na condição de trem de pouso e reversor fechado.
Razão de subida do AFM = 736 pés/min. Altitude :
3.000 pés até 4.500 pés.
Razão de subida do simulador = 670 pés/min. Altitude: 2.160
pés até 5.080 pés.
1) A razão de subida dos simulador na configuração de motor
direito cortado, trem recolhido e flap 8 é similar à razão
de subida prevista no AFM.
2) Os valores de razão de subida do simulador com reverso
ciclando ou aberto não devem ser considerados de forma
definitiva, uma vez que o modelo não foi validado.
3) Baseado nos dados do simulador, se o trem de pouso
tivesse sido recolhido, a aeronave teria uma razão positiva
de subida de 390 Ft/min com reverso aberto e 560 Ft/min com
o reverso ciclando.
4) Baseado nos dados do Flight Data Recorder (FDR), se o
motor esquerdo não tivesse sido reduzido após a decolagem, a
aeronave teria uma razão residual positiva de subida.
5) A abertura do T/R associado ao uso de tração máxima não
causa perda de controlabilidade látero-direcional, no
entanto, causa deterioração no desempenho. (inviabilizando o
voo nesta fase).
6) Baseado nos dados do Cockpit Voice Recorder (CVR), a
tripulação não teve informação no MFDS do mau-funcionamento
do T/R o que no entanto foi registrado no FDR.
7) Segundo os dados do CVR, a informação de saída do
“auto-trottle” na corrida de decolagem pode ter induzido a
tripulação a relacionar a redução da manete direita, após a
decolagem, com pane do “auto- throttle”.
8) A redução da manete direita pode ter desviado a atenção
da tripulação e contribuído para que esta esquecesse de
recolher o trem de pouso. Conseqüentemente, o desempenho em
subida foi degradado.
9) A tripulação não seguiu o procedimento preconizado de
cheque após a decolagem, o trem de pouso não foi recolhido
após o “positive climb”.
Esses resultados indicam que a aeronave somente não
apresenta condições de voo com um reversor aberto associado
com tração máxima devido a perda de desempenho. No caso
desse acidente, às condições acima comentadas deve-se
acrescentar a deterioração de desempenho resultante da
redução do motor esquerdo por quatro segundos e a demora,
por mais outros quatro, em retomar a potência de decolagem.
O rolamento resultante nos últimos segundos do voo é
consistente com as condições de estol, corroborada pelo
afundamento e o toque do stick shaker.
k. Procedimentos Operacionais
Procedimentos operacionais (Flight Standards) correspondem a
ações e atuações desempenhadas pelos diversos membros
envolvidos na realização das tarefas que possibilitam um voo
seguro. Seguem o contido no Regulamento Brasileiro de
Homologação Aeronáutica (RBHA), no manual do fabricante e,
geralmente, constam da rotina operacional da empresa. Com o
tempo, a experiência do grupo de pilotos provoca algumas
adaptações que, via de regra, melhoram o desempenho em voo e
constituem a doutrina operacional daquele grupo.
Acidentes aeronáuticos ocorridos no passado e extensivamente
investigados levaram a algumas recomendações que aumentaram
a segurança do voo. Uma delas, contida no Manual do
Fabricante e adotada na rotina operacional da empresa,
“recomenda” que as ações de segurança devam ser tomadas
acima de 1000 pés de altura, quando não se tratar de fogo ou
superaquecimento do motor, que é antecipada para 400 pés.
Conforme verificado na transcrição da gravação do CVR, os
procedimentos realizados a partir das 08:12P (hora local),
incluindo o push back, a partida dos motores, o taxi e a
leitura dos cheques transcorreram dentro da normalidade.
Durante a leitura do “before take off check list” (lista de
verificações antes da decolagem), o co-piloto interrogou:
“Briefing ?” e o Comandante (Cmt) respondeu “já foi
realizado” (“Have done it before”).
O briefing é um esclarecimento dos procedimentos a serem
realizados durante a decolagem, a subida e a saída da
Terminal. São ainda nele comentados os procedimentos
alternativos a serem realizados em caso de anormalidades e
emergências. Tendo sido realizado anteriormente, conforme
afirmado pelo Cmt e confirmado pelo co-piloto, o item foi
considerado realizado. Não foi possível determinar o
conteúdo do brifim.
Um sinal de duplo “beep” soou na cabine as 08:17:53, sem que
provocasse qualquer apreensão ou preocupação aos
tripulantes. O aviso era de menor importância e desapareceu
a seguir.
(A abertura do reverso em voo não é considerada uma
emergência na decolagem mas sim uma anormalidade. Conforme
verificado no ensaio realizado em simulador a aeronave com o
outro motor em potência de decolagem sobrepujaria tal
adversidade mesmo com o trem de pouso não recolhido).
O comportamento da aeronave, obtido no ensaio no simulador,
corresponde ao previsto nos gráficos do Manual de Voo.
O Fabricante previa que uma abertura de reverso na decolagem
estava no nível “extremamente remoto” (probabilidade 10-11,
ou seja, 1 por 100 bilhões) e informou não ser necessário
treinar essa falha na decolagem, mas sim em velocidades
acima de 200 Kt.
l. Atuação dos tripulantes a partir da gravação do CVR e dos
dados do SSFDR (Registrador de Dados de Voo).
A tripulação assumiu o voo sem anormalidades. Os
procedimentos realizados estavam de acordo com a rotina
operacional da empresa, exceto pelo “before start check
list”, que foi realizado pelo co-piloto sem a presença do
comandante na cabine. Esse fato não apresentou contribuição
para o acidente.
Entre 08:18P e 08:25P, o PT-MRK esteve na posição dois
(posição de espera) aguardando autorização para decolar, não
tendo ocorrido qualquer anormalidade nesse período, exceto a
interferência de uma rádio pirata por alguns instantes.
Aos 08:25:54, o TAM 402 recebeu autorização de decolagem,
vento de 060 graus com 06 nós e, a orientação para após a
decolagem, chamar 119.8. (Controle - SP)
Aos 08:2600, o co-piloto informou: -“ iniciando”.
(desse ponto em diante serão referidos apenas os minutos e
os segundos).
Na gravação é ouvida a aceleração inicial dos motores. O Cmt
anunciou o acionamento do “switch” “Take Off Go Around” -
“TOGA”. O co-piloto confirmou a condição normal: - “Take
off, take off green. Na cabine de comando (cockpit) tudo
estava normal. No SSFDR (registrador de dados de voo) o
motor dois apresentava a situação de trânsito (“transit”)
para o reversor do motor 2, que não era retransmitida ao
cockpit.
Aos 26:04, soou o sinal “beep” de nível 1. Esse sinal
simples não requer qualquer ação da tripulação. O Cmt
informou: - “Ei é isso que....... está fora viu?.” E o
co-piloto confirmou: - “Manual”.
Um canal do auto-throttle havia sido desarmado (desconectado
do sistema), não requerendo essa anormalidade qualquer
correção. O Cmt repetiu: - “O auto-throttle tá fora”.
Aos 26:10, soou o sinal de alerta de nível 2 (duplo “beep”).
No FDR surge um registro de aviso momentâneo de cautela (“Caution”),
de duração entre um e dois segundos.
Aos 26:15, o Cmt repetiu - “O auto-throttle tá fora”.
Provavelmente estava alertando o co-piloto para que
ajustasse manualmente a potência, pois o auto-throttle
estava inerte. Aos 26:20, o co-piloto informou: - “thrust
check”. Com essa informação confirmava que a potência de
decolagem havia sido ajustada e verificada.
Aos 26:19 o SSFDR registrou o cruzamento de 80 nós de
velocidade.
Aos 26:32 o co-piloto informou: - “V-one”. Nos dados de voo
era registrada a velocidade de 127 nós.
Aos 26:34 o co-piloto informou: - “Rotate”. A velocidade era
de 131 Kt. O ângulo de arfagem (pitch angle) sai do zero
subindo em valores positivos. Aos 26:36 a velocidade era de
cerca de 136 Kt, em aceleração, o ângulo de pith cruzava 10º
e o air/ground switch transitava de “ground” para “air
position”, indicando o momento da decolagem. As pancadas
ouvidas no CVR, não completamente identificadas, tanto podem
ter sido resultante do choque das conchas do reverso como
podem ter sido, o ruído dos amortecedores do trem de pouso
se distendendo na decolagem. Pelo SSFDR, no mesmo momento
(26:36), a EPR do motor 2 (EPR2) começa a cair de 1.69 para
1.34 indicando a perda de potência.
Aos 26:38, o co-piloto solta uma exclamação, registrando
dessa forma a observação da ocorrência de alguma
anormalidade.
Nesse intervalo de tempo, entre 26:36 e 26:40, o ângulo de
rolamento à direita (positivo) cresce, de quase zero para
11,2º, numa razão aproximada de 3º por segundo, enquanto a
proa varia, à direita, de 163,5º até 173,8º, também numa
razão de cerca de 3º por segundo. Ambos os movimentos quase
foram estabilizados a seguir, ficando a aeronave entre 5º e
8º inclinada (roll/angle) à direita, mantendo a proa de
172º. Esse movimento é consistente com a perda de potência
do motor direito. Para contrariar essas tendências, o Cmt
aplicou pressão no pedal esquerdo até alcançar 16.3º
unidades, e manche à esquerda até 9.8º de aileron. Com esses
esforços dominou satisfatoriamente as tendências laterais e
cabrou até 14º para manter as condições de voo. O SSFDR não
registrou o movimento de abertura do reverso. Esse fato, no
entanto, foi visualizado por uma testemunha que confirmou
ter visto pelo menos dois ciclos completos e ouvido duas
pancadas resultantes das batidas das conchas ao final das
aberturas.
Aos 26:40, o co-piloto comentou: - “travou”. É muito
provável que estivesse se referindo à impossibilidade de
levar a manete da posição de marcha lenta (idle) para
frente. Pelo FDR se inicia uma discreta queda de velocidade
enquanto o ângulo de cabrada é aumentado para 16º, aos
26:44. O ganho de altura, de 120 pés, é consistente com a
redução de velocidade, em 4 nós por segundo, durante os dois
segundos seguintes.
Aos 26:41, a EPR2 começa a subir para 1,240 e a EPR1 é
aumentada para 1,719. Pelo gráfico de ângulo das manetes,
ambas são levadas ao batente dianteiro (45º), onde
permaneceram por cerca de um segundo. Ambas foram retardadas
quase imediatamente. A manete do motor 1 foi recuada até
1.328 EPR e a do motor 2 chega a 1,133 (5º), onde fica por
um segundo.
O evento acima leva à interpretação de que a manete recuou e
ficou restrita em idle. Uma vez que o recuo da manete não
foi acompanhado pelos avisos sonoros e luminosos
correspondentes, não se caracterizou, pelo menos para um dos
tripulantes a abertura do reverso em voo. Um dos
tripulantes, provavelmente o co-piloto, forçou a manete do
motor 2 para frente (ação normal). Coincidentemente a manete
foi liberada (provavelmente pela passagem das conchas pelo
ângulo de 21º). A manete foi avançada para o batente
dianteiro (45º), tendo a manete do motor 1 sido levada
junto. O ciclo se repetiu e as conchas se abriram, a manete
foi recuada, sobrepujando a força do tripulante que,
inadvertidamente, trouxe as duas manetes atrás.
As reações resultantes das variações de potência nos motores
continuaram a exigir variadas correções de comando
distraindo a atenção do comandante.
Aos 26:44, ele solicitou: - “Desliga lá em cima, auto
throttle, puxa aqui;” Essa solicitação confirma as
dificuldades que sentia aos comandos e confusão entre a
falha real existente e a que se lhe assemelhava.
Aos 26:45, a EPR2 começa novamente a subir. A manete do
motor dois foi levada até quase 39º e a do motor 1 até o
ângulo de 42º, não atingindo a EPR de decolagem. A manete do
motor 2 é novamente recuada bruscamente, chegando a zero
grau (batente de idle), onde fica por quase dois segundos.
No mesmo instante (26:45) o profundor chega a 1,55º picado e
a aplicação no rudder vai a 11,0 graus.
Aos 26:47 a velocidade cai para 126 Kt (um nó abaixo da V2).
Até esse momento o SSFDR não captou nenhuma ciclagem do
reverso, provavelmente pelo curtíssimo espaço em que as
conchas ficaram abertas.
Aos 26:48, o co-piloto informa: - “Tá off”. Provavelmente
confirmando estar desligado o sistema de auto-throttle.
Próximos aos de 26:49, a manete do motor 2 é posicionada
bruscamente toda a frente (batente de 45º) juntamente com a
manete do motor 1. Muito provavelmente as conchas do reverso
do motor 2 ciclaram (abriram) novamente provocando outro
tranco no cabo da manete. A força aplicada contra a manete
impediu o recuo e, pelo contrário, provocou a desconexão do
cabo no ponto de desconexão rápida. Liberada do cabo, a
manete permaneceu na posição de 45º (máxima potência)
O esforço contra a manete foi necessariamente grande. Pode
ter sido aplicado pelo piloto, pelo co-piloto ou, até, por
ambos. Não foi possível verificar.
Aos 26:51, é ouvida uma pancada no CVR. É provável que tenha
sido da manete do motor 2 batendo no batente de 45º.
Com o reversor do motor 2 aberto, aos (26:54), ambos os
motores ultrapassaram 1.724 de EPR, que foi mantida até o
impacto.
Aos 26:52 o comandante repetiu: - “Desliga lá em cima, aqui
também”. Referia-se novamente ao interruptor do controle
(conexão/desconexão) do auto throttle localizado no painel
superior e o outro existente na própria manete. Essa
afirmação pode ser indício de que provavelmente estava com
as mãos ocupadas com o manche não podendo ele mesmo tentar
desligar os referidos switches (interruptores).
Aos 26:53 o ângulo de ataque (pitch angle) estava em 12,7º
enquanto o FDR registrava a abertura do reversor 2. A
velocidade começa a se deteriorar.
Aos 26:55, com a velocidade se deteriorando cerca de 2Kt/s,
o aviso de estol (stick shaker) é acionado soando até o fim
da gravação.
Aos 26:56 com os comandos nos batentes o comandante exclama:
- “Ai meu Deus”. No segundo seguinte a aeronave ultrapassa
39º de inclinação à direita enquanto o aviso de proximidade
com o solo (GPWS) anuncia para não afundar: - “Don’t Sink”.
Está configurada a perda de controle em voo, ocorrendo o
impacto com o solo e o fim da gravação às 08:27:01.
A insuficiência dos dados acima impossibilitam a definição
exata de vários itens que poderiam esclarecer a ocorrência,
com a exatidão que uma investigação desse escopo requer.
Para alcançar uma conclusão a altura dos trabalhos
realizados e que atinja recomendações de grande valor para a
prevenção, faz-se necessária a formulação de pelo menos uma
hipótese.
Hipótese
Durante a corrida de decolagem próximo a velocidade de 80 Kt
ocorreram duas falhas de canal de auto-throttle com seus
avisos respectivos. Os avisos foram cancelados e a decolagem
corretamente continuada. A falha de auto-throttle não
envolve risco para a operação, mas a movimentação das
manetes passa a ser manual.
O comandante informou, em três momentos distintos a falha do
auto-throttle, provavelmente alertando o co-piloto para o
ajuste das manetes ou outra providência afim.
Durante a rotação, no momento em que ocorreu a saída do
solo, o reverso do motor 2 abriu. Na cabine de comando o
único sinal dessa anormalidade se deu com o recuo brusco da
manete. Os sinais visuais (Master Caution e Reverse Unlocked)
e sonoras não se manifestaram.
A falta de informações anteriores, instruções e treinamento
para esse tipo de anormalidade, a operação manual das
manetes e a ausência de outros avisos não retiveram, pelo
contrário, incentivaram o impulso por parte de um dos
tripulantes, em tentar avançar a manete. Coincidentemente a
manete foi liberada do batente de marcha lenta (nova
ciclagem) e o tripulante sentiu-se reforçado a recuperar a
potência do motor 2.
Devido ao esforço em avançar a manete do motor 2, avançou
também a do motor 1. Nesse momento nova ciclagem do reverso
provocou outro recuo brusco da manete, trazendo a mão do
tripulante junto. Inadvertidamente a manete do motor 1
também foi reduzida até 1.3 EPR.
Providências outras, além da surpresa, provocaram uma demora
de 4 segundos com os dois motores em muito baixa potência,
deteriorando a performance da aeronave.
Ao fim do 4º segundo um dos tripulantes conseguiu avançar as
duas manetes. O motor 1 ficou abaixo da potência de
decolagem e a alavanca do motor 2 recuou imediatamente.
Numa terceira liberação a manete foi levada e mantida,
juntamente com a manete do motor 1, para a posição de máxima
potência. Os esforços provocaram a desconexão do cabo,
liberando a manete em aceleração, enquanto o reverso
permanecia aberto.
Sem qualquer sinal de aviso de anormalidade, as manetes à
frente e motores acelerados era humanamente impossível, aos
tripulantes, identificar o motivo da rápida deterioração de
desempenho e a perda de controle que se seguiu.
CONCLUSÃO
Fator Humano - Aspecto Psicológico – Contribuiu
A falta de informação, instruções escrita e prática,
contribuiu para o não reconhecimento da anormalidade durante
o seu desenrolar.
A inusitada ocorrência do rápido recuo da manete, numa fase
particularmente difícil da operação (transição da corrida de
decolagem para o voo); a não ocorrência dos avisos
discriminadores da falha (sonoros e visuais); e a falta de
conhecimento e treinamento específico dessa anormalidade
provocaram a surpresa e o desvio de atenção dos tripulantes.
A liberação da restrição da manete do motor 2 no batente de
marcha lenta (Idle detent), sem a ocorrência dos avisos de
anormalidade reforçou a tendência, em pelo menos um dos
tripulantes, a tentar recuperar a potência do motor.
A ocorrência de avisos (antes dos 80 Kt) de falhas de
auto-throttle e a falta de avisos específicos de abertura de
reverso (Master Caution e RSVS UNLK) reforçaram, nos
tripulantes, a crença de que vivenciavam uma falha de
auto-throttle, comprometendo ainda mais a consciência
situacional de ambos os pilotos.
Fator Material - Deficiência de Projeto - Contribuiu
Falhas de projeto, insuficiente avaliação do diagrama de
árvore de falhas frente a FAR 25.1309 e 25.933, e na
orientação à operadora para não treinar a anormalidade
ocorrida naquela fase, contribuíram, indiretamente, para a
seqüência de eventos que levaram a colocar a tripulação
frente a uma situação inédita, sem possibilidades de
reconhecer e reagir corretamente, para evitar a perda de
controle.
Fator Operacional
(1). Pouca Experiência na Aeronave - Indeterminado.
A pouca experiência do co-piloto contribuiu para uma
limitação de informações e auxílios ao comandante. Este
possuía 230:00 horas totais de voo neste modelo de aeronave.
(2). Deficiente Aplicação de Comando - Indeterminado.
Por três vezes a manete de potência do motor 2 recuou e foi
avançada. Essas intervenções naquela manete provocaram a
redução da manete de potência do motor esquerdo,
prejudicando o desempenho da aeronave. O não retorno da
manete esquerda de imediato para a potência de decolagem e a
demora de mais quatro segundos em alcançar tal potência,
contribuíram para deteriorar ainda mais a capacidade de
subida da aeronave.
A condição com que a inusitada anormalidade se apresentou à
tripulação e a falta de avisos, indeterminou a
intencionalidade além de não ter sido possível determinar
quem dos dois tripulantes atuou nas manetes.
(3). Deficiente Julgamento - Indeterminado
O desconhecimento por parte dos tripulantes, por
insuficiência de avisos e de informações sobre a
anormalidade, foi determinante para que eles abandonassem a
seqüência normal de procedimentos, tais como recolhimento do
trem de pouso e acionamento do Auto-Pilot , para tomar as
iniciativas de priorizar a solução de uma situação
inusitada. Situação esta que, instalada na cabine de comando
abaixo da altitude de segurança, acabou por levar à perda
de controle da aeronave. Não foi possível determinar qual d
Brasileira s pilotos tomou as iniciativas o que indetermina
esse aspecto.
Outros Aspectos
(1). Inspeção Externa - Contribuiu
Não existe condição de visualização do “Secondary Lock”
aberto, durante a inspeção externa.
(2). Tomada de Ação Abaixo de 400 Ft - Contribuiu
Doutrinariamente, qualquer ação de uma tripulação, frente a
qualquer anormalidade, no ambiente da cabine de comandos de
voo, abaixo de 400 Ft, é NÃO RECOMENDÁVEL.
A tripulação tentou gerenciar a anormalidade concomitante
com o controle da aeronave. Nessa condição de risco, ocorreu
a redução de potência no outro motor, comprometendo o
desempenho da aeronave. Como conseqüência, a tripulação foi
obrigada a priorizar as necessidades de potência em
detrimento de outros procedimentos.
(3). Ação Inadequada Frente a Pane não Prevista - Contribuiu
Baseado nos dados colhidos no SSFDR, dos parâmetros de FUEL
FLOW e EPR, a manete do motor nº2 foi levada para a posição
de máxima potência, após o travamento da referida manete na
posição “IDLE”.
Este travamento ocorreu imediatamente após o LIFT-OFF,
quando a manete recuou sozinha para a posição “IDLE”,
ficando travada por cerca de 03 (três) segundos. Contudo, o
próprio sistema liberou a manete, induzindo o co-piloto a
levá-la para a posição de máxima potência, mesmo depois de
ter informado ao comandante sobre o seu travamento.
Cabe ressaltar que o comandante não solicitou tal ação
depois de ter sido informado do travamento, bem como o
co-piloto não questiona se tal ação deveria ser tomada ou
não.
O avião não forneceu meios para que ambos os pilotos
pudessem imaginar o quão inoportuno se tornaria essa atitude
naquele momento tão crítico do voo.
No caso da ação não ter sido realizada pelo co-piloto, a
suspeita recai no comandante, induzido pelas mesmas razões
apresentadas anteriormente.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os Órgãos Homologadores Primários deverão melhorar a
qualidade das análises de todos os boletins, mesmo se
considerados MINOR CHANGES, independente da sua
classificação, devendo determinar que seja compulsório, aos
fabricantes, refazerem a ANÁLISE DA ÁRVORE DE FALHAS para
toda e qualquer proposta de modificação em qualquer dos
sistemas, que de alguma forma possa interferir na
aeronavegabilidade da aeronave; deverão emitir uma
Notificação de proposta de Regra (NPR), sugerindo uma
modificação da FAR 25.933, principalmente quanto ao
dispositivo de redução automática da manete de potência, uma
vez que não existe nenhum requisito específico, que defina
níveis de esforços que tal dispositivo deva suportar;
deverão rever as taxas de amostragens de dados dos SSFDR,
que homologarem, com o objetivo de que possam refletir em
seus registros, de maneira mais próxima do real, os dados
referentes às diversas posições das conchas dos reversores
de empuxo, instalados nos motores das aeronaves, assim como,
rever as taxas de amostragens de outros parâmetros que
tenham comportamento de registro similar ao SSFDR; deverão
rever os requisitos dos SSFDR que homologarem, com o
objetivo de que: entre os dados que devem ser registrados
compulsoriamente, sejam inclusos os dados de ÂNGULO DE
MANETE DE POTÊNCIA (TLA).
A Divisão de Homologação do IFI/CTA deverá estudar e emitir
uma Notificação de Proposta de Regra (NPR) no intuito de
analisar e implementar um sistema de Cockpit Video Recorder,
inicialmente com o intuito de auxiliar no campo da
Investigação de Acidentes Aeronáuticos e futuramente,
contornados os possíveis obstáculos de ordem jurídica, para
auxílio também na Prevenção.
A RLD deverá rever as árvores de falhas dos diversos
sistemas do FOKKER 100, para que realmente atendam aos itens
das FAR 25.1309 e FAR 25.933; rever os requisitos de
homologação do FOKKER 100 de forma que, por projeto, uma
falha simples não possa inibir um alerta se a informação
estiver disponível para outro sistema da aeronave;
desenvolver uma diretriz de aeronavegabilidade (BLA):
- Para o sistema de reversores da aeronave FOKKER 100, que
determine a possibilidade da verificação visual e externa,
durante as inspeções pré e pós-voo, da posição do sistema de
travamento mecânico do SECONDARY LOCK. Incluir este cheque
visual no plano de manutenção da aeronave e na inspeção
externa antes de cada voo.
- Modificando o FLIGHT WARNING COMPUTER (FWC) para que o
aviso REVERSER ENGINE 1/2, seja classificado como NÍVEL 3
informando a tripulação, através da MASTER WARNING.
- Modificando o FWC para que o aviso REVERSER ENGINE 1/2,
não seja inibido e seja informado à tripulação em qualquer
fase do voo.
- Que elimine o STOW LIMIT RELAY, mantendo desta forma o
lado STOW da válvula seletora sempre energizado, exceto
quando há o comando efetivo do reversor.
- Que modifique a fiação elétrica do sistema de alarme, de
modo que o sinal indicativo de que a concha do reversor não
está travada (THRUST REV NOT STOWED), que passa pelos
contatos do T/R SEC LOCK RELAY 1 ENG 1/2, seja enviado
diretamente para o sistema de alarme (FWS), não permitindo
que no caso de uma falha desse relé, o alarme na cabine de
comando possa ser inibido.
- Que introduza uma proteção contra o “centelhamento” dos
terminais A1/A2 quando do desligamento da carga indutiva do
SECONDARY LOCK ACTUADOR.
- Que introduza uma modificação nas T/R SELECTOR VALVES,
evitando que qualquer equilíbrio instável possa resultar em
uma maior facilidade de abertura das conchas, no caso de uma
falha da trava do SECONDARY LOCK ACTUADOR na posição
UNLOCKED, associado ou não a um problema de vazamento
hidráulico na linha de STOW.
A FOKKER deverá modificar o sistema elétrico do sistema de
reverso de forma a satisfazer os requisitos de
aeronavegabilidade, em especial as FAR 25.1309 e 25.933, de
acordo com a filosofia contemporânea de interpretação dos
mesmos, a atual FEEDBACK CABLE SYSTEM ligado à manete, foi
associado a uma falha de ATS. A FOKKER deverá avaliar um
sistema ligado diretamente ao FUEL CONTROL UNIT,
independente da posição da manete, e que cumpra na íntegra
os requisitos de aeronavegabilidade das FAR 25.933 (a) (1) e
FAR 25.933 (a) (3), as quais determinam que ao abrir o
reversor em voo, o motor não produza potência superior a
IDLE; rever o FEEDBACK CABLE SYSTEM para atender ao
requisito da FAR 25.933 (a) (1) em sua totalidade, uma vez
que existem intervalos de tempos na abertura e no fechamento
das conchas “versus” posição da manete de potência, em que o
reversor está aberto em voo e existe a condição do motor
estar produzindo potência acima de IDLE.
O CENIPA/CECOMSAER deverão viabilizar, sob a coordenação do
CECOMSAER, Palestras e Simpósios sobre Segurança de Voo,
para os profissionais da mídia; nos acidentes aeronáuticos
de grande repercussão pública, deverão definir um local
físico (auditório), onde serão efetuadas coletivas diárias,
a fim de esclarecer todos os meios de comunicação (TV,
Rádio, Jornal, etc) e conseqüentemente a opinião pública,
evitando conflitos de informações; deverão viabilizar, sob a
coordenação dos Comandos Aéreos Regionais, a realização de
Palestras e Seminários sobre Ação Inicial em caso de
acidente aeronáutico de massa, para os Organismos
subordinados às Secretarias de Segurança Pública dos Estados
(Polícia Civil, Polícia Militar, Bombeiros, Defesa Civil,
etc); deverão incluir nas CIAA dos acidentes de grande
repercussão pública, um Oficial de Relações Públicas e um
Oficial de Informações no local do acidente e, outro Oficial
de Relações Públicas no local onde ocorrerão as coletivas
com a Imprensa.
A GRUMMAN / FOKKER / FAA / RLD O SECONDARY LOCK ACTUATOR dos
reversores devem ser reanalisados e ter a sua confiabilidade
aumentada, incluindo-se testes finais de impedância e
resistência elétrica, pré-delivery e pós-montagem na
aeronave; definir um processo primário de manutenção, que
determine o modo de falha do SEC. LOCK ACTUATOR, visando
evitar a falha dormente deste componente; determinar
programa de análises e testes no SEC. LCK. ACTUATOR, com o
objetivo de explicar as causas da contaminação dos SWITCHES
internos desse atuador, provendo uma forma eficaz de
evitá-la; reprojetar o FEEDBACK CABLE de modo a que ao
deslocar-se, devido ao comando para DEPLOY, a conexão
(MORSE/GRUMMAN) não encontre espaço “livre”, conforme o
existente no interior do TURNBUCKLE, onde possa ocorrer uma
separação inadvertida. Ou ainda, dentro da mesma filosofia,
modificar o processo de união entre as partes traseira e
dianteira do FEEDBACK CABLE, que impeça a referida
separação.
A FOKKER / RLD deverá analisar a atual aplicação do RELAY
P/N FOKKER F0N9-6105D4L, fabricado pela LRE FRANCE sob o P/N
M400-D4L003, e por outros fabricantes, utilizado no THRUST
REVERSER SYSTEM do FOKKER 100, realizando um estudo em
conjunto com a LEACH, e os demais fabricantes do mesmo
modelo de relé, com a finalidade de se estabelecer a real
confiabilidade desse RELAY; definir um processo primário de
manutenção, que determine o modo de falha do T/R SEC. LCK.
RELAY, visando evitar a falha dormente deste componente;
analisar a incorporação de um componente ou circuito de
proteção contra os centelhamentos dos contatos do T/R SEC.
LCK. RLY.1 ENG 1/2, produzidos pelas cargas indutivas dos
solenóides que estão colocados no mesmo circuito elétrico;
deverão enfatizar, junto às tripulações, que uma falha no
sistema ATS, causando o retardamento da manete, normalmente
irá afetar ambas as manetes. Deve também ser enfatizado que,
em caso de retardamento não-intencional de uma manete
durante a decolagem ou na subida inicial, a tripulação não
deverá tentar reabrir a manete - deve lidar com a situação
como se fosse uma falha de motor.
FOKKER / DOWTY AEROSPACE HYDRAULICS / RLD / CAA deverá
introduzir uma modificação nas THRUST REVERSER SELECTOR
VALVES P/N 114168001, evitando que qualquer equilíbrio
instável possa resultar em uma maior facilidade de abertura
das conchas, no caso de uma falha da trava do SECONDARY LOCK
ACTUADOR na posição UNLOCKED, associado ou não a um problema
de vazamento hidráulico na linha de STOW.
A TAM deverá alterar o livro de bordo, objetivando melhorar
os registros das panes, de modo que cada folha seja
destacada a cada trânsito, ficando uma cópia na base que
executou o retorno da aeronave ao voo. O original deve ser
remetido para processamento no TROUBLE SHOOTING e a outra
cópia deve permanecer no livro, dentro da aeronave, para
consulta da tripulação, enquanto houver item pendente; a
SIPAA e a Engenharia da empresa deverão desenvolver um
programa, em conjunto com o fabricante, com o objetivo de
listar todas as situações de falhas básicas que aceitam
RESET, analisar profundamente cada caso e, elaborar um
programa de treinamento para o grupo de voo, em especial
para os tripulantes técnicos, com a finalidade de mudar o
ambiente organizacional formado, em função da operação de
aeronaves extremamente computadorizadas, onde as panes que
aceitam RESET não precisam de lançamento no livro de bordo;
deverá dar uma maior ênfase nos treinamentos realizados nos
simuladores de voo com relação a abertura do reverso nas
diversas fases do voo; deverá, nos treinamentos iniciais e
de revalidações, enfatizar a importância da não tomada de
ação abaixo dos 400 pés; deverá ser incluído no treinamento
teórico e no simulador, procedimento para o caso de retardo
não comandado de uma das manetes de potência durante as
fases de decolagem e subida; deverá incrementar o
treinamento de CRM (COCKPIT RESOURCE MANAGEMENT) para todos
os tripulantes da empresa. Observar a Circular 227-AN-136 da
OACI, Human Factors Digest nº 3; apesar de não ter
influenciado para a ocorrência do acidente, verificou-se que
algumas vezes a escala de tripulantes saía com a jornada de
trabalho acima do que é permitido. A Empresa deverá
confeccionar as escalas de voo de todos os tripulantes
seguindo o que prevê a Lei 7183, de 05 de abril de 1984; o
Diretor de Operações da referida Empresa, deverá enfatizar
para o pessoal do grupo de voo (pilotos e co-pilotos) quanto
a obrigatoriedade da leitura do check-list, conforme o
previsto no Manual de Operações.
O IFI deverá estudar e propor ao DAC a implantação de
recomendação de procedimento de restrição da manipulação das
manetes de potência dos motores aos co-pilotos, em fases
críticas do voo, abaixo da altitude de segurança, no sentido
de evitar iniciativas precipitadas e sem a devida supervisão
e coordenação com os Comandantes, para as tripulações
operando sob o RBHA 121.
O DAC, com base na cadeia de eventos verificada neste
acidente, deverá reforçar as instruções de segurança a serem
observadas, em caso de surgimento de situações inéditas, nas
fases críticas de operação (tais como: aceleração na
decolagem e estabilização na aproximação final para pouso,
etc.), no sentido de que as ações sejam tomadas
coordenadamente, sem precipitações que possam vir a
ocasionar iniciativas fatalmente incorretas ou conflito na
cabine de comando; determinar aos operadores de grandes
aeronaves de transporte, que orientem o grupo de pilotos a
respeitar, principalmente nas aeronaves com alto grau de
sofisticação de automatismo, os limites de atuação dos
sistemas de gerenciamento de comandos de voo, como no caso
das manetes “auto-throttle” evitando qualquer precipitação
no uso dos mesmos.
O DAC, através do STE, tendo em vista que nas ocorrências
antecedentes ocasionadas por falhas do reversor em voo as
tripulações apresentaram dificuldades no reconhecimento da
falha ou da sua gravidade, deverá dar maior ênfase nas
exigências dos treinamentos em simuladores de voo, tanto das
empresas que já estão autorizadas a operar, quanto àquelas
para quem serão concedidas, no futuro, autorizações de
funcionamento; estudar a viabilidade de estabelecer, através
de RBHA ou IAC, para as empresas que operam segundo o RBHA
121, um procedimento de utilização do FDR de forma
PREVENTIVA, voltada para a segurança de voo.
O DAC e o CENIPA deverão realizar um estudo, a fim de dotar,
com a maior brevidade possível, a DIPAA do DAC de um Fundo
Emergencial para uso das CIAA, com o intuito de cobrir os
custos (diárias, passagens, hospedagem, etc) dos elementos
envolvidos na Investigação que não pertençam ao Ministério
da Aeronáutica, em cumprimento ao que prevê a NSMA 3-6;
desenvolver um programa de divulgação e implantação das
técnicas de salvamento e resgate, em casos de acidentes
aeronáuticos de massa com a finalidade de implementar a
comunicação o controle e a coordenação entre os órgãos
envolvidos e a CIAA, objetivando a preservação dos indícios
essenciais à investigação do acidente aeronáutico.
Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães -
Salvador (SSA/SBSV) - BA
Aeroporto de
Destino: Aeroporto Internacional Augusto Severo - Natal
(NAT/SBNT) - RN
DESCRIÇÃO:
Quatro Bandeirulhas da FAB estavam voando em formação de
Salvador (BA) a Natal (RN) quando a cauda do FAB7102 foi
golpeada pela hélice de um outro Bandeirulha. O FAB7102
perdeu o controle e caiu sobre o município de Caruaru (PE)
matando todos os seus ocupantes.
Natureza do Voo: voo de transporte particular de
passageiros
Aeroporto de Partida: Aeroporto de Bauru - SP
Aeroporto de Destino: Aeroporto de Governador
Valadares - MG
HISTÓRICO
A aeronave decolou de Bauru (SP), às 08:50P, com plano de
voo IFR para Governador Valadares(MG), transportando dois
passageiros.
Durante o voo, o piloto encontrou condições meteorológicas
adversas. Neste momento, segundo declaração do piloto, um
dos passageiros, bastante assustado, deslocou-se de seu
assento para a parte dianteira da aeronave. Descontrolado,
começou a interferir nos comandos da aeronave, afetando sua
controlabilidade.
Testemunhas locais afirmaram que, após terem ouvido uma
explosão, viram a aeronave sair das nuvens em queda
vertical, em parafuso de cauda.
A aeronave colidiu com o solo, sofrendo perda total. O
piloto e um passageiro sofreram lesões leves e graves,
respectivamente. O outro passageiro, que havia interferido
no voo, foi encontrado com lesões fatais a 10m do lado
direito dos destroços da aeronave.
ANÁLISE
O piloto voava no FL070 e a região sobrevoada possuía em
torno de 4500 pés de altitude, com várias elevações. Numa
avaliação da área sobrevoada, verificou-se que entre a
fazenda de uma das testemunhas e o local do acidente existe
uma elevação de aproximadamente 5100 ft de altitude, com
mata fechada nas encostas, onde ficam as antenas de
transmissão da região.
Apesar de não ser possível afirmar que os serviços de
manutenção realizados na aeronave eram adequados, não
existem indícios de que o fator material tenha contribuído
para o acidente.
Em seus relatos, o piloto disse que o deslocamento do
passageiro para a seção dianteira da aeronave ocasionou o
deslocamento do centro de gravidade, fazendo-a picar. O
piloto tentava em vão corrigir aquela tendência, ao mesmo
tempo em que pedia ao passageiro que retornasse ao seu
assento, dizendo que tudo estava bem. Reticente, o
passageiro permanecia junto ao assento vazio do co-piloto e,
diante da atitude da aeronave, perdeu o equilíbrio, forçando
o manche para a frente.
Analisando os dados fornecidos pelo piloto, pode-se
verificar que a soma dos pesos do piloto (57 kg) e do
passageiro (98kg) representam parâmetros normais,
considerando o total de peso nos dois assentos da seção
dianteira da aeronave, sendo portanto, pouco provável que a
aeronave tenha realmente modificado o seu CG em decorrência
do deslocamento de um passageiro a bordo, a ponto de mudar
de atitude agressivamente, conforme relatou o piloto. É mais
provável que o piloto tenha tido uma canalização de sua
atenção voltada para a movimentação do passageiro a bordo,
que, somada ao estresse e ansiedade normal da situação
apresentada (voo sob condições de turbulência), fez com que
a aeronave mudasse de atitude inadvertidamente, por
deficiência na aplicação dos comandos.
Em sua entrevista, o piloto afirmou ainda que, a partir
daquele instante, não tinha mais certeza do que estava
acontecendo. Lembra apenas que, em dado momento, viu o que
seria a terra na sua proa, seguido de barulho parecido com
um estouro e a perda de várias partes da aeronave com fortes
ventos entrando na cabine. Pensava, em princípio, que o
passageiro havia aberto a porta da direita e caído por ela,
tendo em vista que, por alguns instantes, percebeu a
ausência daquela porta.
Analisando os fatos expostos e tendo em vista que a aeronave
foi identificada voando baixo sobre a região e em trajetória
que a levaria para a área das elevações, é provável que a
aeronave tenha perdido cerca de 2500 pés de altura durante a
possível interferência do passageiro nos comandos do avião.
Como conseqüência, o piloto, ao avistar a encosta de um
morro, instintivamente cabrou a aeronave bruscamente, não
evitando, no entanto, uma colisão com a elevação, o que
causou danos consideráveis na estrutura do avião,
possivelmente com perda de partes inferiores da fuselagem,
bem como da parte esquerda do estabilizador horizontal
esquerdo e do profundor esquerdo. O voo cabrado continuou
com perda progressiva de diversas partes da aeronave,
fragilizando-a até o ponto em que o motor e o painel de
instrumentos se separaram. Sem o peso do motor, a aeronave
iniciou sua queda de cauda. A ação centrífuga do giro jogou
o passageiro, que estava sem o cinto de segurança, para fora
da aeronave junto com a porta direita, já solta em função da
perda de toda estrutura dianteira da aeronave.
A queda da aeronave ocorreu sobre eucaliptos, que absorveram
o impacto, não permitindo a completa destruição da
fuselagem, que seria fatal a todos a bordo.
CONCLUSÃO
Fator Humano
(1). Aspecto Fisiológico - Indeterminado
É possível que tenha existido a participação de variáveis
que levaram o piloto a uma desorientação espacial.
(2). Aspecto Psicológico - Indeterminado
É possível que tenha ocorrido participação de variáveis
psicológicas que interferiram no desempenho do piloto em
condições IFR.
Fator Operacional
(1). Deficiente Aplicação nos Comandos - Indeterminado
É possível que tenha ocorrido erro cometido pelo piloto por
uso inadequado dos comandos da aeronave sob condições de
turbulência.
(2). Influência do Meio Ambiente – Indeterminado
É possível que tenha ocorrido erro cometido pelo piloto
devido à influência do ambiente interno da cabine, quando da
possível interferência do passageiro nas condições do voo.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os Serviços Regionais de Aviação Civil deverão divulgar este
Relatório Final às Empresas de Táxi Aéreo de suas
respectivas circunscrições, solicitando aos Presidentes e/ou
Diretores que orientem seus tripulantes para operarem seus
equipamentos de acordo com as normas e regulamentos, visando
a elevar o nível de segurança de voo.
Local do Acidente: Km 14 da rodovia BR-156, Macapá -
AP
Tipo de acidente:
Colisão em Voo com Obstáculos.
Fase de Operação: em voo
Natureza do Voo: voo de transporte particular de
passageiros
Aeroporto de Partida: Pista Clandestina: Km 14 da
rodovia BR-156, Macapá - AP
Aeroporto de Destino: Pista da Fazenda Cavianna, ? -
AP
HISTÓRICO
A aeronave decolou de uma pista clandestina localizada
próxima ao Km 14 da rodovia BR-156, no estado do Amapá, com
destino à pista da fazenda Cavianna (AP).
O voo tinha sido fretado para transporte de três passageiros
no trecho acima mencionado.
Após a decolagem, o piloto perdeu o controle da aeronave,
colidiu com um fio de alta tensão localizado na lateral da
pista e se projetou bruscamente contra o solo.
Um tripulante e três passageiros sofreram ferimentos leves e
a aeronave sofreu avarias graves.
ANÁLISE
O fato de o piloto ser bastante voado na região amazônica
(3000h totais) e de possuir 2100:00h somente no CESSNA 182
P, aliado à falta de infra-estrutura e de controle de
tráfego aéreo, fizeram com que o mesmo relegasse regras
básicas de segurança de voo, no que diz respeito à
performance da aeronave e à pista de decolagem.
A aeronave estava com a sua capacidade máxima de passageiros
e abastecida com quase a totalidade de gasolina prevista no
tanque (faltavam 45 litros).
Segundo levantamento posterior e de acordo com o manual de
operação da aeronave, para decolar da referida pista, com o
peso máximo permitido (2800 lb.) e vento de intensidade
zero, seriam necessários 625 m de pista percorrida para
atingir a V1 de 61 milhas. Por ocasião do acidente, o peso
da aeronave era de aproximadamente 3000 lb., a pista em uso
possuía 600 m e a operação foi realizada com vento forte, de
cauda, pois a cabeceira oposta oferecia maiores riscos de
colisão com obstáculos. Tal situação acarretou a
inviabilidade de se executar a decolagem, levando-se em
conta o peso, temperatura, altitude do campo e o comprimento
da pista.
Alheio a tudo isso, a decolagem foi realizada. O piloto, ao
perceber o final da pista chegando, sem que a aeronave
atingisse a velocidade prevista para a rotação, comandou a
retirada da mesma do solo sem a devida sustentação.
Percebendo que não conseguiria manter o voo, optou em
executar um pouso forçado à esquerda da trajetória
pretendida. Antes de se projetar contra o solo, a aeronave
colidiu com fios de uma rede de alta tensão, localizada na
lateral esquerda da pista, chocando-se de forma brusca, num
pasto, com uma inclinação de 60º e nariz embaixo. A aeronave
parou seu deslocamento a quase 180º da trajetória original,
sofrendo avarias graves.
Embora não se configure como fator contribuinte,
constatou-se que a empresa operadora não controlava as horas
de caderneta de hélice e de motor da aeronave, nem tão pouco
soube informar o controle da última revisão geral realizada
e horas voadas desde então.
Pelo exposto, observa-se que este acidente teve origem em
uma falha operacional de planejamento, visto que o piloto
não se preocupou em avaliar a viabilidade de se decolar de
uma pista clandestina, em mau estado de conservação, cheia
de obstáculos naturais, com peso acima do permitido e com
vento de cauda. A complacência e a autoconfiança do piloto
contribuíram para a que o acidente se tornasse inevitável.
CONCLUSÃO
Fator Humano - Aspecto Psicológico - Contribuiu
O piloto apresentou complacência e autoconfiança elevadas,
por operar, freqüentemente, o mesmo equipamento durante um
longo tempo e por voar em uma região desprovida de infra -
estrutura e controle de tráfego aéreo, relegando a segundo
plano regras básicas de segurança de voo e planejamento.
Fator Operacional
(1) Deficiente Supervisão - Contribuiu
O proprietário permitiu que sua aeronave operasse em pistas
clandestinas.
(2) Deficiente Planejamento - Contribuiu
O piloto estava operando em pista clandestina, de dimensões
limitadas e com restrições quanto a obstáculos, tanto no
pouso como na decolagem. A aeronave estava com o peso acima
do máximo previsto e não foram levados em consideração a
temperatura local, o comprimento da pista, a direção do
vento e a altitude do campo.
(3) Deficiente Julgamento – Contribuiu
(4) O piloto não fez a devida avaliação da viabilidade de
ser efetuada a decolagem da pista em questão, optando por
decolar levando em consideração sua experiência e sem
consultar gráficos de desempenho, conforme previsto no
manual de operação da aeronave.
(5) Indisciplina de Voo - Contribuiu
O piloto operou em pista que não estava homologada para a
realização de pousos e decolagens.
RECOMENDAÇÕES DE SEGURANÇA DE VOO
Os SERAC deverão divulgar o conteúdo deste Relatório Final
para todas as empresas de táxi aéreo e aeroclubes de sua
circunscrição, por meio de DIVOP, seminários de aviação
civil e de segurança de voo ou outros meios que julgar
eficaz, visando a elevar o nível de segurança de voo da
aviação geral brasileira por intermédio dos ensinamentos
colhidos desta investigação.