A história que passo a contar aconteceu na
tarde de 22 de outubro de 1975 na pequena e
acolhedora cidade de Angelina, situada a
aproximadamente 450 metros de altitude e 70 km da
capital catarinense, Florianópolis.
Tudo começou quando o avião de caça a jato modelo
Lockheed T-33 ‘Shooting Star’ da Força Aérea
Brasileira, prefixo FAB 4314 (modelo similar na foto
em anexo do FAB 4313) deixou a Academia da Força
Aérea (AFA) em Pirassununga-SP com destino ao 1º
Esquadrão do 14º Grupo de Aviação (1º /14º
GAv) também conhecido como Esquadrão "Pampa" sediado
em Canoas- RS. A bordo da aeronave, no cockpit do
1P, estava o primeiro tenente aviador Vaine
Morais Costa, solteiro e natural do Rio Grande do
Sul, integrante do Esquadrão "Pampa".
O avião voava tranquilamente em idlle (menor
velocidade do motor que uma aeronave pode operar sem
estolar) quando às 16h33 na vertical de Lages, o
único motor da aeronave - que se encontrava a
aproximadamente 12 mil pés de altitude ou 4 mil
metros, deixou de funcionar.
Com relativa tranquilidade o aviador contatou o
serviço SAR (Busca a Salvamento) do 2º Esquadrão do
10º Grupo de Aviação (Pelicano) - então sediado na
Base Aérea de Florianópolis – e comunicou que estava
perdendo o controle do seu avião, que naquele
momento estava planando, e que se não conseguisse
solucionar a pane em tempo hábil, iria ejetar.
Algum tempo depois, sem que nada mais pudesse ser
feito, o tenente Vainer aproou o avião para o rumo
do mar e acionou o assento ejetável. CABUUUUUM! Em
questão de milésimos de segundos o canopi foi
destroçado pelo assento da aeronave que projetou seu
ocupante rumo a vastidão do céu. Alguns segundos
depois, o paraquedas foi acionado automaticamente.
Enquanto descia vagarosamente (e sem controle algum
do seu paraquedas) rumo a pacata cidadezinha de
Angelina, o aviador, pode ver estupefato que seu
avião havia mudado a trajetória enquanto caia
vertiginosamente em parafuso até chocar-se
violentamente com o solo na região do Alto Garcia,
por pouco não atingindo a residência de Evaldo
Longen.
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Esquema hipotético do ocorrido no Google
Earth: Silvio Adriani Cardoso |
Acontece que por aqueles dias se comemorava a semana
do aviador e as escolas do município estavam com uma
programação alusiva. Naquele momento um pacato
cidadão avistou um paraquedas vindo do céu a alarmou
a cidade.
Bastou alguns minutos para que centenas de cidadãos
angelinenses, de crianças a adultos, tomassem conta
das ruas centrais da cidade correndo freneticamente
em direção ao “paraquedista. Até os alunos do
Colégio Nossa Senhora de Angelina foram dispensados
para poder assistir a chegada do ilustre
paraquedista.
Os relógios da Igreja Matriz dedicada à Nossa
Senhora da Imaculada Conceição anunciavam 17hs
quando o tenente Vainer tocou os pés em um pasto
próximo ao antigo bar “Linha do Chaves” no centro de
Angelina sendo entusiasticamente aplaudido por uma
pequena multidão.
Logo, as autoridades locais, receberam calorosamente
o aviador com palavras de elogios e agradecimentos
por ter ele escolhido justamente a pequena cidade de
Angelina para o seu salto de paraquedas. Até então,
praticamente ninguém na cidade sabia os reais
problemas que aquele militar havia enfrentado alguns
minutos antes com o seu avião.
Antes que o jovem aviador pudesse se manifestar,
recebeu um convite para proferir um breve discurso
de improviso, lá mesmo, em praça pública. Enfim
convencidos de que não se tratava de uma exibição
programada, mas sim de um acidente aeronáutico, os
populares foram aos poucos se dispersando.
Apesar disso, houve até quem fretasse uma rural para
deslocar-se até o Alto Garcia, local onde o avião
havia explodido ao colidir com o solo, distante
aproximadamente 15 km do centro de Angelina.
Por volta das 18hs o tenente Vaine deixou Angelina a
bordo de um helicóptero modelo UH-1H Iroquois
pertencente ao 2º/10º Gav, Esquadrão Pelicano sob
gritos e aplausos. Comenta-se que após o ocorrido,
foi decretado três dias de feriado municipal no
município.
Curiosamente, este não foi o primeiro acidente
aeronáutico ocorrido no município de Angelina, que
agora já somava dois acidentes aeronáuticos
justamente no mês de outubro, ironicamente, o mês em
que se comemora as festividades do dia do aviador.
O primeiro acidente ocorreu
em 01 de agosto de 1936
quando um biplano da Base de Aviação Naval de
Florianópolis capotou após um pouso de emergência.
Na época, piloto e mecânico também saíram vivos do
acidente.
Outro fato curioso é que justamente no ano de 1975,
a FAB começou o processo de desativação dos caças
Lockheed T-33. Ano que vem, em outubro de 2025,
este inusitado acidente ocorrido em Angelina
completa 50 anos.
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Pilotos da Força Aérea Brasileira ao lado de
um caça T-33
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Embora o caça T-33 tenha dois assentos, no
dia do acidente em Angelina apenas um piloto
(Vaine) estava a bordo |
Pesquisa
e texto: Silvio Adriani Cardoso, autor do
livro
autor do livro
“O
Último Voo do C-47 2023”
Referências:
Jornal O ESTADO, edição numero 18.185 de 28 de
outubro de 1975, p. 11
Jornal Diário de Natal, edição numero 09.925 de 24
de outubro de 1975, p. 3
Foto do T-33 FAB 4313: Acervo de José de Alvarenga
Arte hipotética do ocorrido no Google Earth: Silvio
Adriani Cardoso
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