.
O
voo 131 da Varig saiu do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por volta
das 15 horas, levando a bordo nove tripulantes e 85 passageiros, em
direção à escala em Curitiba, no Paraná. O destino final da aeronave era
o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
O Comandante César Caldeira havia
cedido o comando ao major Alcir Rebelo, checador da DAC, que estava
fazendo seu treinamento permanente naquele tipo de equipamento. Por
isso, o major ocupava o assento esquerdo e o comandante o da direita,
normalmente pertencente ao copiloto.
Ao se aproximava da cidade de
Iguape, o Electra estava a 4.600 metros de altitude e o voo transcorria
normalmente, com tempo bom, sem turbulência.
De repente, um sequestrador entrou
na cabina, apontando uma pistola para o major Rebelo e gritando que era
um sequestro. Ao mesmo tempo, o homem lançou ao colo do major um bloco
de papel, onde estavam as instruções para a tripulação. O major e o
comandante Caldeira mantiveram a calma e pediram ao sequestrador,
Grenaldo de Jesus Silva, que fosse mais explícito: “O avião deveria
retornar ao aeroporto local.” As instruções não especificavam se o
‘aeroporto local’ era São Paulo, Curitiba, ou mesmo o Rio, pois o avião
vinha de lá.
Grenaldo, 31 anos, era um dos 200
marinheiros participantes do motim ocorrido no Sindicato dos
Metalúrgicos em 1964, sob a liderança do Cabo Anselmo. Ele havia sido
condenado a revelia a dois anos e cinco meses de reclusão em 1966 e era
considerado foragido.
Pálido, apresentando estar sob
intenso estresse, o sequestrador disse que o avião deveria voltar para
São Paulo e pousar em Congonhas. Imediatamente, o major Rebelo
comunicou-se com o controle de tráfego do Aeroporto de Congonhas, avisou
que o avião estava sendo sequestrado e que ele estava retornando para o
pouso. No mesmo instante, foi lida a mensagem que continha as exigências
do sequestrador:
“Ele queria Cr$ 1 milhão e 500 mil
em notas de 50 e 100 usadas, três paraquedas, reabastecimento do avião e
garantias de que não haveria qualquer represália.”
O avião pousou em Congonhas e
estacionou quase em frente a torre de controle. O sequestrador exigiu
que os motores continuassem funcionando e, como houvesse muito movimento
de outros aviões e funcionários do aeroporto naquele trecho do pátio do
estacionamento, mandou o major – que ele confundia com o comandante –
levasse o avião mais para perto da pista, a cerca de 100 metros da ala
de embarque.
O sequestrador estava muito nervoso
e o comandante Caldeira - zelando pela segurança dos passageiros – pediu
a todas as pessoas a bordo que se mantivessem em seus lugares, não se
levantando em hipótese alguma e que se mantivessem calmos, pois já havia
entrado em contato com as autoridades, que estavam providenciando para
que tudo fosse resolvido rapidamente, sem risco algum.
A grande dúvida dos pilotos era
saber quantos sequestradores havia a bordo. Grenaldo havia se postado na
porta, entre a cabina de comando e a de passageiro, podendo assim ter
controle completo sobre todo o avião. Quando disse que o avião havia
sido sequestrado, ele falou no plural, dizendo: “Estas são as nossas
exigências.” Daí a dúvida se haviam mais sequestradores na aeronave.
O sequestrador exigiu que os
pilotos mantivessem os alto-falantes ligados, pois queria ouvir tudo o
que eles conversassem com a torre de controle.
Nenhum dos pilotos e nenhum dos
comissários de bordo podia se movimentar no interior do avião.
Na cabina de passageiros, o
silêncio era total: ninguém dizia nada, ninguém perguntava nada, como se
uma única palavra fosse o suficiente para desencadear um ato de
represália do sequestrador. Mas, também, não havia pânico, parecendo
que, com sua calma e silêncio, os passageiros quisessem colaborar com os
dois pilotos, que trocavam mensagem com o controle, na tentativa de por
fim em tudo aquilo.
A pistola na mão esquerda não era a
única ameaça aos pilotos e aos passageiros. Grenaldo disse também que
havia colocado uma bomba no banheiro da frente, bem próximo à cabina de
comando.
Tudo o que os pilotos faziam ou
iriam fazer era comunicado antecipadamente ao sequestrador para que ele
não interpretasse erroneamente as manobras dentro da cabina, o que
colocaria a vida de todos em risco.
Três paraquedas, o dinheiro em uma
sacola e o avião reabastecido era o que o sequestrador queria para
liberar os passageiros e fazer o avião decolar novamente.
Em um caso de emergência é possível
pular de paraquedas de um Electra. Estando o avião abaixo dos três mil
metros e, em velocidade bastante reduzida, seria possível um salto sem
muito risco.
O comandante Caldeira era piloto da
Varig há nove anos, com mais dois anos na escola de pilotagem da
companhia e perto de 9 mil horas de voo. Ele e os colegas da tripulação
trocavam mensagens com a torre de controle usando a linguagem usada na
aviação, cheia de siglas e convenções, já que haviam percebido que
Grenaldo era leigo no assunto.
Uma das primeiras providências dos
dois pilotos – que ficaram o tempo todo com os fones no ouvido – foi
deixar o auto-falante ligado em volume muito baixo, para que o
sequestrador tivesse maiores dificuldades ainda para ouvir o que o
controle dizia. O microfone de bordo do avião também ficava aberto, para
que o controle – onde estava o Brigadeiro Délio Jardim de Matos,
comandante da IV Zona Aérea – pudesse perceber conversas do sequestrador
com os tripulantes.
Na torre, o operador do controle, o
suboficial Betolucci, compreendia perfeitamente o que diziam os pilotos
e passava informações valiosas.
Ao exigir que o avião ficasse com
os quatro motores funcionando, o comandante Caldeira aventou duas
hipóteses: ou o sequestrador previa uma decolagem de emergência, ou
então não entendia nada, não via que o combustível estava indo embora.
Aproveitando-se da exigência do
sequestrador, o comandante Caldeira pôs os motores em regime de alta
rotação, para aumentar o consumo.
Quando decolou de Congonhas com
destino a Curitiba, o Electra PP-VJN tinha autonomia para 3h30min de
voo. E, com os motores virando no chão, em regime de alto consumo, os
dois pilotos calcularam que, pouco depois do anoitecer, o combustível
estaria totalmente esgotado, dificultando assim o sequestro.
Há 23 anos da FAB, o major Rebelo
sabia que alguma operação estava sendo planejada por seus colegas para
recuperar o avião e, aproveitando-se da calma do sequestrador, começou a
procurar ganhar tempo.
De arma empunho e o dedo no
gatilho, Grenaldo recusou um bombom que o comandante Caldeira lhe
ofereceu, não quis tomar nem água nem café, dizendo que só comia uma vez
por dia.
Aquela altura, o sequestrador já
havia permitido que uma comissária servisse água e café aos passageiros
e aos tripulantes e, também, que Caldeira fosse conversar e tranqüilizar
os passageiros.
Uma das preocupações dos dois
pilotos era saber qual a natureza do seqüestro, mas, em nenhum momento,
Grenaldo de Jesus Silva chegou a dar qualquer informação.
Eram 17h30min. O prazo dado pelo
sequestrador para que todas as suas exigências fossem cumpridas chegava
ao fim.
Nesse momento, os dois pilotos
ficaram com medo que ele tomasse alguma atitude. O Grenaldo pediu ao
major Rebelo que avisasse ao controle que o prazo havia terminado e o
controle respondeu:
“Tudo está sendo providenciado com
o melhor dos propósitos, avise aos nossos amigos que tenham calma, pois
as autoridades sentem-se pesarosas por não poderem manter o prazo.”
Pouco antes, o controle havia
avisado que o dinheiro estava sendo providenciado, que a dificuldade era
encontrar notas de Cr$ 50,00 e Cr$ 100,00 usadas. Houve um longo
silêncio e depois o comandante chamou, dizendo que os sequestradores
queriam saber “como andam as coisas”.
Àquela altura, os pilotos tinham
quase a certeza de que ele estava sozinho, pois prorrogou o prazo sem
fazer nenhuma consulta a eventuais companheiros de seqüestro.
O controle voltou a chamar o avião,
disse que o dinheiro já havia sido providenciado e estava sendo colocado
em um carro-forte, mas que a única dificuldade era o trânsito, difícil
por ser hora de ‘rush’. O sequestrador pediu que os tripulantes
perguntassem ao controle o que havia de verdade em tudo aquilo. A torre
pergunta:
“QGO ou QGN?”
O comandante respondeu:
“QGO.”
Em linguagem de aviação, ‘QGO’ quer
dizer ‘fechado’, isto é, que o controle deveria dar uma informação
falsa. O controle diz que os paraquedas já haviam chegado e que o
dinheiro deveria estar lá em 20 minutos. Pouco antes, o major Rebelo
havia dito que o avião estava somente com 2 mil libras de combustível,
continuando em regime de alto consumo.
Às 18h35min, Grenaldo pediu
informações ao controle, que respondeu:
“As autoridades estão na
expectativa da chegada do dinheiro e tudo será cumprido conforme o
prometido.”
Às 18h55min, o controle informou
que o dinheiro já chegara e o sequestrador disse que ele deveria ser
colocado no último degrau da escada, junto com os paraquedas.
Pouco depois, os motores quatro e
três pararam e o comandante pediu um gerador de força, porque, em breve,
o avião ficaria sem luz.
Alguns minutos depois das 19 horas,
o avião ficou completamente no escuro, com todos os motores desligados.
Durante meia hora não houve qualquer comunicação com o controle.
Assim que o contato foi
restabelecido, as autoridades conseguiram com o sequestrador permissão
para a descida dos passageiros antes do reabastecimento do avião,
mediante o compromisso de os dois pilotos e o engenheiro de voo, Alcides
Pegrucci Ferreira ficarem a bordo.
“Salvamos os passageiros”, disse o
major Rebelo, “mas que ficávamos lá, à espera do que poderia acontecer
com a gente”.
Antes das 23 horas, o comandante já
havia conseguido dizer, através do código, que havia somente um
sequestrador a bordo do avião.
Às 23h05min, o major Rebelo
informou que a bordo só se encontravam os três tripulantes – os outros
haviam descido com os passageiros – e o sequestrador.
“Então, nós já começamos a imaginar
uma maneira de abandonarmos o avião e ela surgiu quando levantamos a
hipótese de a porta traseira estar aberta”, disse o comandante Caldeira.
O sequestrador foi com o engenheiro
Alcides até a cauda do avião.
“Aí nós combinamos que, assim que o
engenheiro entrasse de volta na nossa cabina, fecharíamos a porta,
deixando o sequestrador preso na cabina de passageiros”, informou depois
o comandante Caldeira.
Foi exatamente isso que aconteceu:
o engenheiro vinha na frente do sequestrador, que o conduzia para a
cabina apontando uma arma. Assim que o engenheiro entrou, Rebelo e
Caldeira fecharam a porta, que trava por dentro, deixando o sequestrador
isolado, no outro lado do avião.
Eram 23h10min quando eles
abandonaram o Electra, pulando pela saída de emergência da cabina de
comando.
“Aí corremos e nem tomamos
conhecimento do que aconteceu depois”, disse o major Rebelo.
“Sabíamos que ele tinha uma arma, e
que a nossa chance era aquela, somente”, disse o comandante Caldeira.
No exato momento em que eles
pularam, alguns homens do COI e do Para-SAR jogaram duas bombas de gás
lacrimogêneo no avião, pela porta onde desceram os passageiros.
Grenaldo de Jesus Silva, então,
suicidou-se, após dominar, durante sete horas, o Electra e de mobilizar
todas as forças de segurança da cidade.
Pesquisa e edição de texto: Jorge Tadeu da Silva
A versão não-oficial
sobre a morte do sequestrador
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O maranhense
Grenaldo de Jesus da Silva (foto ao lado), tinha
sido um dos 1.509 marinheiros que foram expulsos da
Armada em abril de 1964. Foi morto em 30/5/1972, no
Aeroporto de Congonhas (SP). Tentava sequestrar um avião
da Varig, que havia decolado para Curitiba, obrigando o
piloto a retornar a São Paulo. Depois de ser negociada a
saída de todos os passageiros e a maior parte dos
tripulantes, a aeronave foi invadida e Grenaldo morto.
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Agentes do DOI-CODI/SP
relataram a vários presos políticos que se encontravam naquela
unidade de segurança as condições em que tinham executado o
sequestrador.
Folha de S.Paulo,
01.06.1972
A versão oficial divulgada
foi de que se suicidara. Somente em 2003, a repórter Eliane Brum,
da revista Época, foi procurada por uma testemunha com novas
informações. Mais do que isso, a matéria permitiu que o filho de
Grenaldo de Jesus, Grenaldo Erdmundo da Silva Mesut, que ainda
não conhecia as circunstâncias reais da morte do pai,
encontrasse sua verdadeira história e sua família.
O nome de Grenaldo de Jesus
sempre constou do Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos,
apesar de não haver contato com seus familiares.
Jornal do Brasil,
02.06.1972
Seu corpo, enterrado como
indigente no Cemitério Dom Bosco, em Perus, foi parar dentre as
ossadas da vala clandestina daquele cemitério. A família não
apresentou requerimento à CEMDP quando foi editada a Lei nº
9.140/95. Somente em 2002, um dos irmãos entrou com o pedido,
cuja responsabilidade foi transferida ao filho quando finalmente
localizado.
Reprodução: Rede
Democrática
Nascido no Maranhão, o
marinheiro Grenaldo era o filho mais velho dentre 12 irmãos. Seu
pai era alfaiate, a mãe servente de escola em São Luís (MA).
Ingressou na Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará em
1º/1/1960. Em 30/9/1964, quando era marinheiro de 2ª classe, foi
expulso em função de sua participação política e terminou sendo
condenado a 5 anos e dois meses de prisão, a mais alta pena
dentre os 414 marinheiros julgados.
Para evitar a prisão,
mudou-se para Guarulhos, na Grande São Paulo. Durante cinco
anos, trabalhou como porteiro e vigilante da empresa Camargo
Corrêa. Casou-se com Mônica e tiveram um filho. Num dia de 1971,
Grenaldo saiu de casa, nervoso após receber cartas que
provavelmente lhe avisavam que fora descoberto. A mulher só
voltou a saber dele quando foi divulgada sua morte por ocasião
do sequestro. O menino Grenaldo tinha 4 anos e cresceu sem saber
do pai.
A história começou a ser
desvendada quando a foto de Grenaldo foi publicada em matéria da
revista Época, de março de 2003. Uma testemunha do sequestro
procurou a revista. Era José Barazal Alvarez, sargento
especialista da Aeronáutica e controlador de tráfego aéreo no
aeroporto de Congonhas, que estava trabalhando no dia da
tentativa de sequestro e alternava com os colegas a comunicação
com a tripulação do avião. Quando a tentativa de sequestro
acabou, ele recebeu a missão de reunir os pertences do
sequestrador e redigir um relatório.
Há 30 anos sofria pesadelos
ao lembrar da carta-testamento para o filho, que ele mesmo
retirou do peito de Grenaldo, junto a um segundo tiro em seu
corpo. Percebeu então que Grenaldo não se suicidara com um único
tiro, como afirmaram a Aeronáutica e os legistas do IML. Mas
José Barazal decidiu permanecer calado até rever a foto
publicada, quando então decidiu procurar o filho de Grenaldo e
contar- lhe a verdade. Não guardou a carta, mas se lembra que
era dirigida ao filho, explicando que sequestrava o avião para
chegar ao Uruguai e que viria buscar a família assim que
possível. Mas ninguém conhecia o filho de Grenaldo até que uma
cunhada sua, meses depois, viu a mesma revista num consultório
dentário e Grenaldo Erdmundo passou a fazer parte desta
história. A revista proporcionou um emocionante encontro de José
e Grenaldo Erdmundo, resgatando a verdade.
A repórter localizou também
o engenheiro de voo Alcides Pegruci Ferreira, a única pessoa que
permaneceu no avião com Grenaldo após a fuga da tripulação pela
janela, e que encontrou o corpo caído, viu o buraco da bala,
quase na nuca. Afirmou que “virou piada o sequestrador suicidado
com um tiro na nuca”. “A ditadura decidiu que era suicídio e a
gente teve de aceitar. Botaram um pano em cima”.
A relatora do processo na
CEMDP observou que, “embora o IPM seja inconclusivo quanto à
motivação política de Grenaldo de Jesus da Silva no sequestro
que culminou em sua morte, assim como não há documentação
reunida nos autos que comprove que o falecido participava de uma
ação politicamente orientada, fica patente que esse entendimento
foi o que conduziu toda a ação policial militar quanto aos
fatos”.
Por unanimidade, a Comissão
Especial acompanhou o voto da relatora, no entendimento de que
“a aeronave em que Grenaldo se encontrava quando morreu se
assemelha às dependências policiais, já que a vítima estava sob
custódia das forças de segurança”.
Fonte:
O
Quinto Poder via site
Aviões e Músicas
Foto Grenaldo: Wikimedia
Commons |
Reprodução dos jornais e revistas da
época do sequestro
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Folha de S.Paulo, 31.05.1972 |
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Correio da Manhã, 31.02.1972 |
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Jornal do Brasil, 01.06.1972 |
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Folha de S.Paulo, 01.06.1972 |
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Ficha técnica
Data: 30/05/1972
Aeronave:
Lockheed L-188A Electra
Operadora:
Varig
Prefixo:
PP-VJN
Número de Série:
1037
Tripulantes: 9
Passageiros: 85
Partida:
Aeroporto de Congonhas (CGH/SBSP),
São Paulo, SP
Destino:
Aeroporto Internacional Salgado Filho (POA/SBPA), Porto
Alegre,
RS
Local da ocorrência:
Aeroporto de Congonhas, São Paulo, SP
Fatalidades: 1
passageiro (o sequestrador)
O Electra
PP-VJN no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em
1991
Foto:
Carlos A. Morillo Doria (airliners.net)
- Clique
AQUI para ver a foto em tamanho maior.
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A aeronave
Lockheed L-188 Electra
O Lockheed L-188 é
um avião comercial de médio porte, turboélice de fabricação
norte-americana projetado e construído pela Lockheed. Foi o
primeiro avião turboélice comercial construído nos Estados
Unidos. Voou pela primeira vez em 1957.
O Lockheed L-188 Electra
começou a ser desenvolvido em 1954 para atender uma exigência da
American Airlines, para operar em rotas domésticas de curto e
médio alcance. O protótipo voou em 6 de dezembro de 1957. Muitas
outras companhias aéreas americanas já se interessavam pelo
modelo e a lista de pedidos já passava de 144. Seu primeiro voo
comercial foi em 12 de janeiro de 1959, com a Eastern Air Lines
(devido a uma greve de pilotos da American Airlines).
No entanto, o otimismo da
Lockheed sobre vendas futuras foi fortemente abalado por uma
série de acidentes ocorridos entre 1959 e 1960 (dois deles onde
a aeronave partiu-se em voo), que contribuiu para uma grande
quantidade de cancelamentos de pedidos.
Como medida preventiva,
restrições à velocidade e altitude de voo foram impostas aos
Electras após essas ocorrências.
Após uma longa investigação
conduzida pela Lockheed em conjunto com a NASA, finalmente
descobriu-se a causa para as rupturas da estrutura da asa
ocorridas em voo. Um erro de projeto das naceles dos motores
fazia com que estes gerassem uma vibração conhecida como "whirl
mode", que era transmitida à asa na mesma frequência de
ressonância desta, que iniciava assim um movimento de oscilação
crescente que culminava no rompimento de sua estrutura e sua
separação da fuselagem.
As naceles ou berços dos
motores e as asas foram então reprojetados, recebendo diversos
reforços estruturais, e todas as unidades do L-188 em operação
foram imediatamente submetidos a um programa de modificações
denominado "LEAP - Lockheed Electra Action Program". Dessa
forma, o problema foi definitivamente resolvido e as restrições
de voo impostas ao Electra foram suspensas. Porém a imagem do
modelo estava irremediavelmente manchada entre os usuários de
transporte aéreo dos Estados Unidos, sendo esse um dos motivos
que levaram ao prematuro encerramento de sua produção, tendo o
último Electra produzido, modelo L-188C e número de série 2022,
sido entregue à empresa Garuda Indonesian Airways no dia 15 de
janeiro de 1961.
No Brasil
No Brasil o Electra foi e
sempre será o príncipe da Ponte Aérea Rio-São Paulo. Os Electra
passaram a operar na Ponte Aérea e tornaram-se equipamento
exclusivo a partir de março de 1975, após a retirada de serviço
do último Vickers Viscount da Vasp. Desde a sua criação, em
julho de 1959, a Ponte Aérea foi servida por vários tipos de
aviões pertencentes às empresas que faziam parte do “pool”
operacional.
O Electra PP-VJW
voando sobre Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 24.04.1988
Foto:
Henry Tenby (airliners.net)
- Clique
AQUI para ver a foto em tamanho maior.
Com a introdução dos
Electra como equipamento exclusivo da Ponte, o número de
assentos disponíveis para cada empresa do sistema (Varig,
Cruzeiro, Vasp e Transbrasil) teve que ser calculado
proporcionalmente à participação de cada uma no mercado.
Independente disso, os Electra eram sempre operados por
tripulantes técnicos da Varig, com pessoal de cabine fornecido
pela empresa que originasse o voo. Se fosse um da Transbrasil,
os comissários eram da Transbrasil.
Na Ponte, os Electra
chegaram a sustentar uma média de 66 voos diários, com partida a
cada 15 minutos e, se necessário, faziam voos extras. Essa
frequência diminuía nos fins de semana, quando geralmente os
voos eram realizados somente de hora em hora. O ciclo
operacional desses aviões vai ser fechado com números bastante
expressivos, que dão bem conta do que foi a sua vida no Brasil.
Na época, segundo
estatísticas fornecidas pela Varig, a frota dos Electra já havia
completado 777.140 horas de voo com 736.806 pousos, o que dá uma
média de 55.510 horas de voo e 52.629 pousos por avião.
Características Técnicas
Tipo: Monoplano quadrimotor
de asa baixa, de construção totalmente metálica, para transporte
de passageiros em curtas distâncias.
Grupo motopropulsor: 4
motores turboélice Allison 501-d13A de 3.750 ESHP cada,
equipados com hélices quadripás Aeroproducts A6 641FN-606.
Envergadura: 30,18 m
Comprimento: 31,85 m
Altura: 10,00 m
Área alar: 120,80 m²
Peso Vazio: 26.036 kg
Peso Máximo de decolagem:
51.256 kg
Peso Máximo de pouso:
43.387 kg
Carga paga máxima: 12.020
kg
Relação peso/potência: 3,4
kg/ESHP
Carga G máxima: +2,5 e -1
Velocidade máxima: 721 km/h
Velocidade de cruzeiro: 650
km/h
Velocidade de cruzeiro
econômico: 600 km/h
Velocidade de estol: 172
km/h
Razão inicial de subida: 10
m/s
Teto de serviço: 8.655 m
Alcance máximo: 4.500 km
Distância de decolagem:
1,438 m (com peso de 51.256 kg)
Distância de pouso: 1.310 m
(com peso de 38.783 kg)
Capacidade de passageiros:
65 a 100 pessoas
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Vista do cockpit
do Electra 188A (F) C-GLBA da Buffalo Airways, no Aeroporto de
Yellowknife, no Canadá, em 31.05.2009
Foto:
Peter Unmuth - VAP (airliners.net)
- Clique
AQUI para ver a foto em tamanho maior. |
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Texto e edição de imagens
por Jorge Tadeu da Silva |
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Fontes de pesquisa:
ASN / Jornal do Brasil / Folha de S. Paulo
Correio da Manhã / Revista Veja
(ed. 196) / Revista Época
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