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ACIDENTES AÉREOS HISTÓRICOS

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O PRIMEIRO ACIDENTE AÉREO

DE BRASÍLIA



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O voo e o acidente

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O voo 592-J da Varig decolou do Rio de Janeiro, com destino ao Aeroporto Internacional de Brasília, no Distrito Federal, levando a bordo nove tripulantes e 62 passageiros, entre eles o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, líder da Campanha da Legalidade, encerrada apenas 20 dias antes, acompanhado de sua comitiva, e três ministros do governo do então presidente João Goulart, o Ministro das Minas e Energia, Gabriel Passos, o Ministro da Saúde, Estácio Souto Maior e o Ministro da Educação e Cultura, Oliveira Brito, além do chefe do Gabinete Militar da Presidência da República, General Amaury Kruel, os deputados Josué de Castro e Rubens Berardo e o jornalista Carlos Castelo Branco, ex-Secretário de Imprensa de Jânio Quadros.

 

O avião estava praticamente lotado, pois completava o voo 620/592-J entre Porto Alegre (RS) e Brasília, após escalas em São Paulo e esta no Rio, de onde partiu às 16h49min.  

 

A aeronave era pilotada pelo comandante Leopoldo Isidoro Azevedo Teixeira. Os outros tripulantes do PP-VJD eram o comandante Sebastião de Andrade de Sousa, o comandante Joaquim Pedro Correia Wildt, o mecânico de voo Gaspar Baltazar Ferrario, o radioperador Valdir Fontela Barcelos, os comissários de bordo Siegfried Diefenthaeler, Roni Carlos Wallauer, Hans Schdler e a comissária Therezinha Xavier Braga.

 

O anoitecer de 27 de setembro de 1961 registrava uma movimentação incomum no acanhado terminal provisório do Aeroporto Internacional de Brasília. Mesmo com poucos desembarques previstos, jornalistas e centenas de admiradores de um líder político em ascensão, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, aglomeravam-se no local.

 

A bordo do Caravelle PP-VJD da Varig, Brizola foi avisado pelo comandante que a aterrissagem ocorreria em breve.

 

Na aproximação para o pouso, um incêndio irrompeu no motor esquerdo, que foi controlando antes da aterrissagem.

 

Às 18h40min, quando o PP-VJD aproximou-se da pista 10 do aeroporto de Brasília, bateu violentamente com o trem de pouso dianteiro contra o concreto da cabeceira da pista. Uma forte pancada e um violento estrondo foi ouvido e, em em seguida, o avião deslizou desgovernado, de barriga, para o lado esquerdo.

 

O piloto tentou controlá-lo movendo a roda dianteira e usando os freios, mas a manobra revelou-se inútil: o aparelho seguiu derrubando as balizas laterais, saiu da pista e, já com fogo nos dois lados da fuselagem, parou a 800 metros do local em que tocara pela primeira vez o solo. 

 

A fricção da asa e da fuselagem com o solo causou fagulhas que inflamaram o querosene que tinha começado a vazar. Parado, o aparelho já estava transformado numa imensa fogueira.

 

Com a cabine às escuras e as poltronas soltas, alguns passageiros em pânico esmurravam e chutavam, inutilmente, as janelas. Com gritos que pediam calma, os mais controlados ajudaram os tripulantes a evacuar a aeronave pelas portas dianteiras e de emergência.

 

A fuga do avião não era mesmo fácil. Passando pela janela de emergência, o passageiro tinha de escorregar sobre a asa e, então, pular para o chão. Se tentasse deixar a aeronave pela porta da frente, a altura era maior.

 

Brizola levantou-se rapidamente, enquanto o secretário de Imprensa do Rio Grande do Sul à época, Hamilton Chaves, gritava para que o comissário de bordo abrisse a porta.

 

A maioria dos passageiros escapou pela saída de emergência localizada sobre a asa direita (à esquerda, o fogo era mais forte). Os demais, pela porta dianteira.

 

O então ministro da Saúde, Estácio Souto Maior, salvou documentos oficiais do órgão. E o deputado Josué de Castro ajudou uma passageira a desembarcar em meio às chamas.

 

Quase todos chegavam ao solo e fugiam correndo, pois ouviam-se gritos de advertência: “Vai explodir!”. Depois, muitos acabaram voltando para auxiliar os demais.

 

Única mulher na tripulação, a comissária de bordo Therezinha Xavier Braga ficou até os últimos momentos para ajudar na retirada dos passageiros. Foi também a única ferida: sofreu queimaduras leves na mão e recebeu atendimento no Hospital Distrital de Brasília.

 

Segundo o jornal 'Correio Braziliense' do dia seguinte, ela e o mecânico de voo Gaspar Baltazar Ferrario foram “os heróis do episódio”. Após ajudar vários passageiros, Ferrario certificou-se de que o avião estava vazio e tentou salvar os livros de bordo.

 

Outro tripulante, o 1º comissário Siegfried Diefenthaeler, contou, em depoimento à Aeronáutica, que auxiliou diversos passageiros, entre eles uma mulher com uma criança. Depois, fez duas verificações em toda a cabine, inclusive nos lavatórios, para ter a certeza de que não havia mais ninguém no avião.

 

Espalhados pelas imediações da aeronave em chamas, passageiros e tripulantes assistiam à chegada dos bombeiros, em dois caminhões. A certa altura, parecia que eles tinham conseguido controlar o incêndio, mas logo as labaredas voltaram.

 

 

Foi então que faltou pressão nas mangueiras de um dos veículos. Quando, afinal, o fogo acabou, já não adiantava: uma hora depois de tocar o solo, o Caravelle PP-VJD estava destruído.

 

Avaliado na época em US$ 2,6 milhões, do jato não sobrou quase nada. Perderam-se também 329kg de bagagens, 128kg de carga e 18kg de malas postais.

 

 

“Nascemos de novo”, escreveu no dia 30, no Correio Braziliense, um dos sobreviventes, o repórter Elton Campos, dos Diários Associados.

 

O fotógrafo gaúcho Carlos Contursi (1920 – 1998), que acompanhava o governador, assim que saiu do inferno e colocou os pés no chão, fez as primeiras fotos. Por limitações da época, elas só foram publicadas aqui dois dias depois. Na manhã do dia seguinte, ileso e incrédulo, ele fez outras tantas.

 

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Fotos: Carlos Contursi

 

O primeiro acidente aéreo da história da nova capital, foi — em perdas materiais — o maior da aviação comercial brasileira até então.

 

Sem deixar vítimas, trouxe a certeza de que só por muita sorte se evitara uma tragédia que, além do abalo emocional, provocaria fortes repercussões políticas — o país saía da crise da renúncia de Jânio Quadros, além da tentativa de impedir a posse de João Goulart.

 

por Jorge Tadeu da Silva

 


As versões sobre o acidente

 

Os relatos divergem sobre o momento exato em que começaram os problemas do voo 592-J. À época, o fotógrafo Carlos Contursi, que integrava a comitiva do governador, contou ter ouvido, pouco antes do pouso, gritos de passageiros que viajavam mais atrás, alertando que o avião estava em chamas. Em seguida, sentiu um choque violentíssimo contra o solo, viu bagagens de mão caindo dos compartimentos e pensou que o Caravelle iria se desintegrar.

 

Uma informação da Varig, divulgada na mesma noite, confirmou a versão de incêndio na turbina esquerda, que teria sido controlado antes da aterrissagem.

 

Mas o relatório oficial da investigação realizada pela Guarnição Aérea de Brasília negou a ocorrência de problema técnico e atribuiu o acidente a falha do piloto, por ter feito uma tomada de pista muito curta, permitindo o toque no solo antes do início da área asfaltada. “Erro de julgamento de aproximação do piloto em treinamento que não foi corrigido oportunamente pelo instrutor”, dizia o relatório. A quebra do trem de pouso e o fogo causado por vazamento de querosene viriam como consequências do erro humano.

 

Apesar das conclusões das investigações do acidente, foi a quebra do trem de aterrissagem que gerou o primeiro estrondo — relatado por todos a bordo — e impediu que o avião seguisse o curso normal. O Caravelle logo subiu alguns metros, atingiu de novo o chão com força e deslizou, desgovernado, para o lado esquerdo.

 

Ninguém morreu, mas a suspeita de que a aeronave teria sido alvo de sabotagem - em razão das personalidades políticas à bordo - imediatamente assombrou a mente de muita gente.

 

 

Em 27 de setembro de 1961, os destroços do avião foram destruídos por explosivos. Este foi o segundo acidente envolvendo um Caravelle no Brasil.

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Ficha técnica

 

Data: 27/09/1961

Hora: 18h40min

 

Aeronave: Sud Aviation SE-210 Caravelle III

Operadora: Varig

Prefixo: PP-VJD

Número de Série: 15

Primeiro voo: 1959

Voo: 592-J

Tripulantes: 9

Passageiros: 62

Partida: Aeroporto Int. do Rio de Janeiro - Galeão (GIG/SBGL), Rio de Janeiro, RJ

Destino: Aeroporto Int. de Brasília - Pres. Juscelino Kubitschek (BSB/SBBR), Distrito Federal

 

Local do acidente: Aeroporto Internacional de Brasília

Fatalidades: 0

 


 

A aeronave

 

Sud Aviation SE-210 Caravelle III

 

O SE 210 Caravelle foi o primeiro avião comercial a jato de curto/médio curso, produzido pela empresa francesa Sud Aviation a partir 23 de junho de 1951 (quando a mesma ainda era conhecida por SNCASE daí a sigla do modelo da aeronave ser "SE").

 

É geralmente considerado um dos primeiros projetos de jato comercial com sucesso, já que o mais antigo, De Havilland Comet, apesar de chegar a ter entrado ao serviço, sofreu uma série de acidentes que obrigaram à sua retirada prematura.

 

Durante vários anos, o Caravelle tornar-se-ia um dos jatos comerciais com mais sucesso, sendo utilizado por vários países europeus e americanos.

 

Historicamente, o Caravelle foi importante ao ser a primeira aeronave com todos os motores montados na fuselagem traseira, deixando as asas completamente livres. Esta disposição foi depois seguida por vários projetos de aeronaves, entre os quais o DC-9 e o Boeing 727.

 

O modelo Caravelle III foi a série mais vendida, com 78 unidades produzidas. Além disso 32 Caravelle I foram aperfeiçoados e transformados em Caravelle III.

 

O Caravelle foi o primeiro jato a entrar em serviço no Brasil, iniciando a era dos jatos no Brasil, esteve ao serviço das empresas brasileiras Cruzeiro do Sul, VARIG e Panair do Brasil.

 

O Caravelle PP-VJD em Porto Alegre (RS) - Foto Claudio Roberto Scherer (Airliners.net)

 


Reprodução de jornal da época

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Reprodução do jornal: Correio Braziliense

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Texto e edição de imagens por Jorge Tadeu da Silva


 

Fontes de pesquisa: ASN / Ricardo Chaves (Almanaque Gaúcho - Zero Hora)

Wikipédia / Correio da Manhã / Marcelo Magalhães (AeroFórum)

João Carlos Ferreira da Silva (especial para o Correio Braziliense)

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