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Era uma segunda-feira de
homenagens ao Pai da Aviação no Rio de Janeiro. Santos Dumont voltava ao
Brasil após temporada de seis anos em Paris. O dia 3 de dezembro de
1928, no entanto, ficaria marcado pelo 1º grande acidente aéreo da
aviação brasileira.
Do convés do transatlântico mais
rápido da Europa, o inventor seria recepcionado por dois hidroaviões
Dornier Wal, o "Santos Dumont", prefixo P-BACA, e o "Guanabara", prefixo
P-BAIA, que lançariam mensagem de boas vindas nos céus.
Minutos após a decolagem, a cem
metros de altura, o avião Santos Dumont surpreendeu a todos com uma
manobra brusca à esquerda. A ação foi fatal e causou a morte de seus 14
ocupantes, entre políticos e acadêmicos.
Dornier Do J Wal
O Dornier Do J foi um
hidroavião alemão fabricado na Itália pela "S.A.I di Construzioni
Mecchaniche i Marina di Pisa". Foram feitas apenas 300 aeronaves.
O Dornier Do-J Wal realizou o seu
primeiro voo em 6 de Novembro de 1922. Caracterizava-se pelas extensões
laterais em forma de asas truncadas, que ajudavam a estabilizar o casco,
permitindo suprimir os flutuadores nas asas.
Esse modelo foi utilizado para
numerosas viagens pioneiras bem como para alguns dos primeiros serviços
comerciais.
A aeronave destruída no acidente de
03 de dezembro de 1928, operou sob os seguintes prefixos desde sua
construção: I-AZDE, D-1213 e P-BACA.
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O acidente
Em 03 de dezembro de 1928,
alguns intelectuais brasileiros decidiram prestar uma homenagem a
Alberto Santos Dumont, jogando flores e pequenos paraquedas com uma
carta desejando boas vindas (foto abaixo) a partir de uma aeronave.
Os paraquedas
seriam lançados pelo hidroavião Wal Dorner do Sindicato Condor chamado
"Santos Dumont", na Bahia da Guanabara, momentos antes de o navio em que
estava embarcado o "Pai da Aviação", o Cap. Arcona (foto
abaixo), chegar ao seu
destino final no Rio de Janeiro.
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O navio Cap. Arcona |
As aeronaves Dornier Do J prefixos
P-BAIA (batizada Guanabara) e P-BACA (Santos Dumont -batizada em
homenagem ao aviador) decolaram da Baía de Guanabara e sobrevoariam o
Cap Arcona, onde lançariam mensagens de boas vindas.
Os dois aviões estavam fazendo
acrobacias. O Santos Dumont (P-BACA), pilotado pelo Alemão August
Wilhelm Paschen, conduzia a bordo o copiloto gaucho Rodolpho Enet, o
mecânico de bordo alemão Walter Hasseldorf, o despachante Guilherme Auth,
o funcionário da Condor Gustavo Butzke, alem do professor Fernando
Laboriaux Filho, o Dr. Paulo da Graça Maya, o Major Eduardo Vallo
(austríaco), o jornalista Abel de Araujo (Jornal do Brasil) e sua
esposa, os senhores Amoroso Costa, Amaury de Medeiros e Tobias Moscoso e
o Engenheiro Frederico de Oliveira Coutinho.
Do convés do navio, Dumont assistia
os aviões fazendo acrobacias. Ele sabia que em momentos de euforia
pessoas tendem a cometer erros.
Santos observou que o Wal Dornier
chamado de "Santos Dumont" havia exagerado na curva e então desaparecera
do seu campo de visão.
Por conta de erro de um dos
pilotos, as duas aeronaves entraram em rota de colisão, obrigando os
pilotos a efetuarem manobras evasivas.
Enquanto que o Guanabara
escaparia ileso da quase colisão, o Santos Dumont faria uma manobra que
lhe custaria a perda de sustentação, causando a queda do aparelho na
Baía de Guanabara, diante dos olhos dos tripulantes e passageiros do Arcona, incluindo Santos Dumont. Abatido, ele suspendeu as festividades
e retornou a Paris.
Apesar dos esforços de salvamento,
liderados pela Marinha do Brasil através dos Contratorpedeiros Amazonas
(CT-1 e Pará (CT-2), somente o mecânico da aeronave Walter Hasseldorf
sobreviveu à queda, falecendo horas mais tarde.
Entre os mortos no
desastre estava o médico Amaury de Medeiros. Durante a retirada dos
corpos e dos restos da aeronave, ocorreu a morte de um escafandrista da
Marinha.
Yolanda Penteado (imagem acima), a
bordo do Cap Arcona relata o que viu: “Antes de o navio atracar, veio
aquela barca da Saúde e nela o Antonio Prado, muito triste. Ele entrou a
bordo e contou a tragédia. No acidente, haviam morrido todos, Santos
Dumont foi tomado de um nervosismo pavoroso. Nessa noite, fomos visitar
seis velórios, um após o outro. Isso fez um mal terrível a ele que já
tinha, havia muito tempo, os nervos abalados”.
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Destroços do P-BACA são retirados da Baia da
Guanabara |
Consequências
Após presenciar o acidente,
Santos Dumont, ficaria abatido, cancelando as festividades e voltaria
para a França. Sua depressão se agravaria, de forma que ele se suicidou
poucos anos depois.
Esse foi o primeiro acidente com uma aeronave
comercial no Brasil, embora a mesma não estivesse operando
comercialmente naquele dia, gerando grande comoção junto à imprensa e
opinião pública.
Os historiadores costumam dizer que
este episódio foi o "gatilho" para um grande período depressivo que
terminou com o trágico suicídio do "Pai da aviação", em 23 de julho de
1932..
Reprodução dos jornais da
época
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