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O Desastre Aéreo de Ramos
foi um acidente aéreo ocorrido em 22 de dezembro de 1959, no Bairro de
Ramos, no Rio de Janeiro. Nesta data, uma aeronave de treinamento Fokker
T-21 da Força Aérea Brasileira chocou-se em pleno ar com um Vickers
Viscount da VASP.
O choque provocou a queda das
aeronaves, causando a morte dos 32 ocupantes do Viscount além de 10
pessoas no solo, atingidas pelos destroços da aeronave. O piloto da FAB,
o Cadete Eduardo da Silva Pereira, saltou de paraquedas, sendo o único
sobrevivente.
Vickers Viscount 827
Nos anos 1960, a VASP
iniciaria um grande plano de modernização da empresa efetuado nos anos
1960, para fazer frente a Panair do Brasil, REAL, Cruzeiro do Sul e
VARIG. Enquanto que as demais companhias aéreas se modernizavam com
modernos aviões Convair 240/340/440 e Lockheed Electra II, a VASP
contava apenas com os obsoletos Douglas DC-3 e SAAB Scandia.
Em 1958, a VASP iria encomendar 5
Vickers Viscount V-827, que seriam as primeiras aeronaves turboélice a
operarem no Brasil. Com o sucesso da operação dessas aeronaves, a
empresa paulista iria adquirir mais 10 Viscount (da versão V-701)
usados, oriundos da empresa britânica British European Airways. Por
conta do envelhecimento das aeronaves, os V-701 iriam operar por poucos
anos, sendo substituídos pelos NAMC YS-11. Os V-827 iriam operar entre
1958 e 1974, quando seriam substituídos pelos Boeing 737.
A aeronave destruída foi fabricada
no final de 1958, tendo recebido o número de construção 401. A VASP
receberia a aeronave em 29 de janeiro de 1958, tendo a mesma obtido o
prefixo PP-SRG para sua operação. Até o momento do acidente era a
aeronave mais nova da frota da VASP.
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O
PP-SRC (similar ao acidentado) no Aeroporto Santos
Dumont, no Rio de Janeiro, RJ
Foto:
Christian Volpati (AirlineFan.com) /
Wikimedia Commons |
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Fokker S.11 (T-21)
O Fokker S11 seria
adquirido pela FAB para servir como aeronave de treinamento de
pilotos, sobretudo os cadetes do curso de formação de oficiais
aviadores da academia da Força Aérea Brasileira. Após a
assinatura de convênio com a fábrica holandesa Fokker, seriam
adquiridas 100 unidades, sendo que as primeiras 5 aeronaves
seriam construídas na Holanda enquanto que as demais 95 seriam
construídas na Fábrica de Aviões do Galeão. Problemas
financeiros e políticos norteariam o contrato, de forma que a
entrega das aeronaves seria atrasada por diversas vezes.
Ao entrar em serviço, em
1959, o Fokker S11 seria nomeado T-21 pela FAB. As aeronaves
receberiam os números 700 a 799. Com a entrada dos T-21 em
serviço, os Fairchild PT-19 seriam retirados de serviço. O T-21
seria largamente utilizado pela FAB até meados dos anos 1970
quando seria substituído pelo T-23 Uirapuru. A aeronave
destruída foi fabricada em 1959, tendo recebido o registro 0742.
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O
FokkerT-21, FAB 0775, similar ao acidentado em
Ramos, no Rio de Janeiro, RJ
Foto: Wikipédia via
defesaaereanaval.com.br
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O acidente
O Vickers Viscount prefixo
PP-SRG decolou do Aeroporto de Brasília na manhã de 22 de dezembro de
1959, iniciando o Voo VASP 233 entre Brasília e o Rio de Janeiro.
No campo dos Afonsos, o Fokker T-21
da FAB decolou para um exercício de treinamento. A Base Aérea do Campo
dos Afonsos era situada a nordeste do Aeroporto do Galeão, sendo que a
área de treinamento dos cadetes era muito próxima das aerovias da
aviação comercial, utilizadas para pousos e decolagens do Galeão.
Quando o Viscount estava prestes a
pousar no Aeroporto do Galeão por volta das 13h40min, sua asa esquerda
foi atingida e parcialmente arrancada pela aeronave de treinamento
Fokker T-21, que acabara de efetuar um parafuso.
Enquanto o Viscount realizava uma
curva brusca para a direita, buscando o aeroporto, o Fokker voava na
direção do Morro do Alemão, tendo o piloto saltado de paraquedas. Sem
rumo, O Fokker caiu sobre uma casa na Rua Joaquim de Queiroz, 336,
provocando ferimentos leves em uma mulher, a Sra. Deusa dos Santos.
Enquanto isso, a tripulação do
Viscount tentava realizar um pouso de emergência. Antes de alcançar o
aeroporto, a aeronave caiu sobre várias casas na Rua Peçanha Póvoas, no
bairro de Ramos, cerca de 4 km ao sul do aeroporto, explodindo em
seguida.
O choque com o solo causou a morte
dos 32 ocupantes do Viscount. Dez moradores também morreram no solo e
centenas ficaram feridos pelos destroços da aeronave.
Entre os passageiros mortos estavam
os escritores Otávio Tarquínio de Sousa e sua esposa Lúcia Miguel
Pereira, o economista Benjamin Cabello e o repórter de 'O Cruzeiro'
Luciano Coutinho.
A tripulação do PP-SRG era composta
por: Comandante Ataliba Euclydes Vieira, copiloto Álvaro Grazioli,
radiotelegrafista Zezito Miranda Duarte, comissários Manoel Pereira
Nunes, Selma Borsachi e Tieko Maruiama.
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Clareira aberta pelos destroços do Viscount na Rua
Peçanha Póvoas, no bairro de Ramos
Foto:
Jornal do Brasil, 23.12.1959 |
Investigações
As investigações foram
iniciadas pela FAB que decretou sigilo total. Durante as investigações,
foi constatado que o acidente teria ocorrido por uma série de fatores:
● Falta de rádio no Fokker T-21, o
que impedia uma comunicação com a torre de controle do aeroporto do
Galeão;
● Inexperiência do piloto do Fokker,
que tinha apenas 19 horas de voo;
● Invasão de aerovia destinada a
aviação comercial pelo piloto do Fokker;
● Localização inadequada da área de
treinamento da FAB, que era muito próxima a área de aproximação e
decolagem de aeronaves do aeroporto do Galeão, causando confusão aos
pilotos comerciais e aos cadetes da FAB que acabariam invadindo as áreas
indevidamente;
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No entanto, a investigação
concluiria que a causa principal do acidente era a falha de
ambos os pilotos em manter adequada vigilância sobre outras
aeronaves.
Cerca de um ano após o
acidente, o cadete Eduardo da Silva Pereira (foto ao lado), que
pilotava o Fokker, seria excluído da Escola da Aeronáutica. |
Consequências
O desastre causou uma grande
comoção na sociedade da época. A revista 'O Cruzeiro' (que perdera o
repórter Luciano Coutinho no desastre) iniciou uma campanha contra a
presença da escola da aeronáutica nas proximidades do Galeão, exortando
a FAB a mandar seus cadetes para Pirassununga.
Coutinho retornava de Brasília após
realizar uma reportagem sobre o primeiro baile de debutantes da recém
inaugurada capital Federal e transportava uma maleta cujo interior
guardava sua câmera e negativos. Apesar da violência do acidente, os
negativos seriam levemente danificados, tendo sido publicados por 'O
Cruzeiro' como homenagem póstuma.
O Campo dos Afonsos seria engolido
pela expansão da cidade, tendo sido estudada a transferência da Academia
da Força Aérea para Pirassununga desde 1949. O desastre de 1959 acabaria
por tirar do papel o projeto da base de Pirassununga. Durante os anos
1960, a escola do campo dos Afonsos funcionaria com restrições
operacionais até ser desativada em 1971, quando seria transferida para
Pirassununga.
Menos de três meses após o desastre
ocorrido em Ramos, outro choque de aeronaves ocorreria sobre os céus do
Rio de Janeiro, colocando em xeque o sistema de controle aéreo da cidade.
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Imagens dos
destroços do acidente
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Local da queda do
avião da VASP. Uma lona cobre os corpos.
Foto:
Jornal do Brasil, 23.12.1959 |
Local da queda do
avião da VASP.
Foto:
Jornal do Brasil, 23.12.1959 |
Reprodução dos jornais da
época
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Texto e edição de imagens
por Jorge Tadeu da Silva |
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Fontes de pesquisa:
ASN /
Wikipédia / Jornal do Brasil
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