O Boeing 737-300 da VASP, PP-SNT, partiu de Porto Velho, em
Rondônia, operando em um voo doméstico de passageiros para o
Rio de Janeiro, com escalas em Cuiabá, Brasília, Goiânia e
Belo Horizonte, com 98 pessoas a bordo.
Após a parada em Belo Horizonte, o voo partiu às 10h52min,
em direção ao Rio de Janeiro. Às 11h09min, um passageiro do
sexo masculino levantou de seu assento com a intenção de
sequestrar o avião. O tratorista
desempregado Raimundo Nonato começou a disparar contra a
porta da cabine dos pilotos com um revólver calibre 32.
Nonato culpava o presidente José Sarney pela
penúria em que estavam ele próprio e o Brasil e decidira
atirar-se com um jato repleto de passageiros sobre o Palácio
do Planalto.
Os tiros feriram um tripulante e um
passageiro, e o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva
rendeu-se ao seqüestrador. Uma vez na cabine, Nonato mandou
que se tomasse o rumo de Brasília.
O copiloto tentou pegar o rádio de
comunicação, tomou um tiro na cabeça e morreu
instantaneamente.
Por mais de três horas, o comandante Murilo
negociou com o seqüestrador, voando sobre Brasília, Goiânia
e Anápolis.
Diante da intransigência de Nonato e da
possibilidade de ficar sem combustível, chegou a fazer duas
manobras quase suicidas tentando desequilibrar e desarmar o
seqüestrador.
Na primeira, fez o avião girar sobre si mesmo
até ficar de ponta-cabeça e retornar à posição original.
Depois, um parafuso, deixando-o cair com o
nariz para baixo enquanto girava. Essa manobra foi tão
brusca que parte do estabilizador do Boeing se desprendeu e
caiu sobre um conjunto de casas em Goiânia.
Engenheiros da fábrica afirmam que é o único
registro de manobra desse tipo com um Boeing 737. As
piruetas foram testemunhadas por um caça da Aeronáutica que
acompanhava o vôo e contadas pelo comandante Murilo, que, na
confusão, acabaria pousando na capital goiana.
Em terra, Nonato exigiu um avião menor para
fugir, acabou levando três tiros numa cilada e morreu alguns
dias depois, internado no Hospital Santa Genoveva, em
Goiânia. Como vinha se recuperando bem dos ferimentos, a
morte se tornou um mistério que só viria a ser desvendado
pelo legista Fortunato Badan Palhares, da Universidade
Estadual de Campinas, que autopsiou o corpo e atestou que
ele morreu de infecção por anemia falciforme, uma doença
congênita.