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A
decisão de aproximar a Ucrânia da Rússia, ao invés de assinar um
acordo com a União Europeia deflagrou um intenso conflito na
Ucrânia. Em fevereiro houve derramamento de sangue e o então
presidente Viktor Yanukovych foi destituído.
A população, dividida entre
pró-russos e pró-UE, tenta sobreviver a ataques de ambos os
lados, com militantes armados e forças do exército. Na Crimeia,
um referendo decidiu que a região pertence à Rússia, agravando
ainda mais a situação.
Internacionalmente, um
abismo está sendo aberto entre a Rússia e as potências do
Ocidente, com sanções e quebras de acordo de todos os lados. Não
há uma clareza sobre quem é o responsável por inflamar a
situação, desta vez, mas as reações ao redor do mundo dão o tom
de uma crise que pode estar longe de acabar.
História
Durante quase todo o século
20, a Ucrânia fez parte da União Soviética, até sua
independência, em 1991.
Desde então, o país passou
a olhar em uma outra direção, do Oriente para o Ocidente, da
Rússia para a União Europeia, tendo os exemplos de Polônia,
Eslováquia e Hungria - todos membros da União Europeia – em seu
horizonte.
Mas a Ucrânia não completa
esse movimento porque duas forças contrárias o paralisam.
De um lado, está a parte
ocidental do país, onde vivem as gerações mais jovens e de onde
partiu o movimento de aproximação da UE.
Do outro, está a parte
oriental e sul, mais próxima da Rússia, onde se fala russo e não
ucraniano e prevalece um sentimento de nostalgia dos anos de
integração soviética.
Por fim, de cada um desses
lados, existem os interesses e pressões de grandes potências
mundiais.
Os
protestos
Tudo começou em novembro,
quando Yanukovych decidiu recusar um acordo que aprofundaria os
laços do país com a União Europeia (UE) e era negociado havia
três anos. Em troca, o presidente preferiu se aproximar da
Rússia.
Entretanto, os protestos
começaram logo depois. Os confrontos diminuíram depois que os
manifestantes saíram dos prédios oficiais que estavam ocupando e
após o governo garantir que daria anistia a todos. Mas os
acampamentos de protesto continuaram pelas ruas de Kiev e a
oposição pró-UE continuou a exigir a renúncia do presidente.
Em janeiro, os protestos
ficaram ainda mais violentos na capital, quando o governo adotou
novas leis com o objetivo de frear as manifestações. No fim de
janeiro, três manifestantes morreram após confronto com a
polícia. Foram as primeiras mortes da crise. O conflito já
deixou ao menos 77 mortos e centenas de feridos nos últimos
dias. Os choques entre manifestantes e a polícia se tornaram
constantes, especialmente em Kiev.
O papel da Rússia
O Kremlin se aliou
firmemente com o presidente Viktor Yanukovych. O Ministro de
Relações Exteriores russo descreveu a violência nos protestos
que tomaram conta do país como uma "tentativa de golpe" e exigiu
que os líderes da oposição na Ucrânia "dessem um fim ao
derramamento de sangue".
O presidente russo,
Vladimir Putin, tem se mantido em contato por telefone com
Yanukovych. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, foi cuidadoso
ao insistir que o presidente russo não ofereceu qualquer
conselho ao governo, mas afirmou que a Ucrânia era um "Estado
irmão e amigo e um parceiro estratégico" e que a Rússia usaria
toda sua influência para restabelecer a paz e a ordem.
A Ucrânia depende da Rússia
para abastecer-se de gás. Além disso, por seu território passam
dutos que transportam os gás russo para a União Europeia. Em uma
reunião em 17 de dezembro de 2013 entre Putin e Yanukovych, a
Rússia se comprometeu a comprar o equivalente a R$ 36 bilhões em
títulos do Estado ucraniano e a reduzir o preço do gás vendido
ao país.
O papel do
Ocidente
Nos Estados Unidos, o foco
tem sido tentar persuadir Yanukovych a tirar as forças do
governo das ruas e a agir com moderação. Segundo relatos, o
vice-presidente, Joe Biden, falou com o presidente ucraniano
pelo telefone e sugeriu que seria responsabilidade dele acalmar
a situação e abordar as "preocupações legítimas" dos
manifestantes.
Na Europa, o ministro de
Relações Exteriores sueco, Carl Bildt, chegou a dizer que o
presidente Yanukovych tinha "sangue em suas mãos".
O ministro de Relações
Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse que a Ucrânia
havia "pago um preço caro" pelas recusas de seu presidente em
ter conversas sérias para acabar com o conflito.
Diplomacia Geograficamente,
a Ucrânia fica entre os dois lados. Até agora, as rivalidades
dos tempos da Guerra Fria vinham sendo contidas. Diplomatas
argumentam que é possível que Rússia e Ocidente colaborem entre
si quanto ao futuro da Ucrânia, beneficiando os dois lados.
O futuro imediato da
Ucrânia pode depender mais das tentativas de mediação feitas por
ex-políticos ucranianos e poderosos oligarcas locais,
desesperados para evitar que a violência se agrave.
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